Desaparecidos
Por Alice Vieira
Não sei o que me está a acontecer mas, de repente, há amigos meus que desaparecem. Telefono—não atendem; deixo mensagem—não respondem.
Pura e simplesmente, desaparecem.
E sem deixarem rasto.
O primeiro foi o jornalista Paulo Correia da Fonseca, que era mesmo muito, muito nosso amigo, houve alturas em que até viveu em nossa casa. Era crítico de televisão na mesma altura em que o meu marido também era — mas cada um para o seu jornal: o meu marido para o “Diário de Lisboa”, e ele para “A Capital ”. Até eu cheguei também a fazer crítica de televisão nessa altura — no meu caso, para o “Diário Popular “ .
Já eu vivia aqui na Ericeira e ainda ele me ligava todas as semanas. De repente, deixou de ligar. E nunca mais consegui falar com ele.
Muito tempo depois, uma amiga comum ligou-me um dia . Tinha ouvido dizer que ele tinha morrido, mas que ninguém tinha sabido quando, ninguém fôra ao enterro e ninguém sabia onde estava enterrado.
Agora procuro uma família de apelido Frade. Um casal com uma filha. Éramos muito, muito amigos, víamo-nos quase todos os dias—e agora nem telefonemas, nem mensagens, nem Facebook, nada de nada. E eram todos muito mais novos que eu ! Eu bem tento—mas nada.
E uma jovem (quer dizer, agora deve andar aí pelos 50 anos…) que todas as semanas me escrevia e a quem eu respondia — e de repente começo a receber as minhas cartas devolvidas com a nota “desconhecida nesta morada”
Eu percebo — e respeito—aqueles que eram muito conhecidos e de repente decidiram afastar-se da vida pública e não querem ver ninguém. Retiraram-se. Como em tempos fez o António José Seguro (que, felizmente agora já se está a mexer — e bem!) Mas sabíamos (e sabemos) que estavam vivos e de boa saúde.
Se por acaso (eu quase diria “se por milagre”) alguém souber o que lhes aconteceu… diga-me !
Alice Vieira
Atualmente colabora com a revista “Audácia”, e com o “Jornal de Mafra”.
Publica também poesia, sendo considerada uma das mais importantes escritoras portuguesas de literatura infanto-juvenil.
Pode ler (aqui) as restantes crónicas de Alice Vieira