Crónica de Alexandre Honrado – Ainda voto Sampaio da Nóvoa

Ainda voto Sampaio da Nóvoa
Por Alexandre Honrado

 

Há figuras insultuosas. Há pessoas que provocam o asco. Não consigo dizer melhor. É o que me ocorre quando estudo os ditadores, as ditaduras e as suas pequenas réplicas de pacotilha, dessas que proliferam neste pobre e desorientado século XXI. Há candidatos a Presidente da República portuguesa neste momento que simplesmente deviam ser impugnados. Porque desdenham da República, da coisa pública, da alteridade, do coletivo, da solidariedade, da capacidade de ser crítico e de consolidar um sistema que obviamente não sendo perfeito é por acaso o mais perfeito dos sistemas. Mas, pior do que isso, desdenham do Outro. São reles. Baixos. Não políticos. Machistas, racistas, perseguidores das minorias e dos seus direitos, opositores da pluralidade, do interculturalismo, de uma terra para todos, por maiores diferenças que nos separe, por mais afetividade que nos uma. Há candidatos perigosos nesta lista de proposta ao cargo mais importante da Nação, porque desdenham a Nação, porque são de um nacionalismo escarranchados em cavalgaduras alimentadas pelo ódio. Na sua boca baila insultuosamente a palavra Pátria – quando escarram na pátria e nos que acreditam nela. Procuram dar-nos ideias que nos confundam. E não pensem que digo isto porque acho a Direita pior do que a Esquerda, ou raciocínios infantis como esses, de velhos jogadores de monopólio do século passado. Distingue-se a dignidade de homens de direita e de esquerda dentro do quadro de um País que se respeita na hora política. Provoca a náusea aqueles que minam o sistema, que são seus parasitas, que vivem à nossa custa e que se candidatam com discursos onde qualquer detetor de mentiras lhes retira o tapete e a casota canina onde se escondem. O fascismo não cabe na República. Como dispensamos bem esses jornalistas que esquecem o triângulo da sua função: rigor, isenção, credibilidade. Posso mesmo adiantar: vi um deles num dos debates que fez melhor propaganda de valores anquilosados que os pobres candidatos do reumático. Há candidatos perigosos nesta corrida eleitoral. Que dizem os maiores absurdos na rapidez do debate, sabendo que a mentira não pode ser desmentida no imediato, por falta de tempo, por falta de investigação, por falta. Há candidatos muito perigosos nestas eleições, porque a democracia acolhe as serpentes no seu seio pelo simples facto de ser um sistema oposto, instalado sobre valores – nomeadamente os da tolerância. Tenho grandes amigos de Direita e grandes amigos de esquerda. Somos convergentes em pontos de vista variados, pois amamos que somos: um povo muito intenso e generoso. Não tenho amigos fascistas. Não gosto de alternativas liberais, mesmo as genuinamente – o que me ri da primeira intervenção do candidato que deu uma fortíssima calinada al abriu a boca! – , nem de traidores básicos, que insultam os seus opositores e esquecem que o contraditório não se faz assim. Como a história me ensinou, nunca houve ditadores atraentes, decentes, bem formados ou honestos – a não ser para os mentecaptos ou para os mais assustados e frágeis. Temos muito que sofrer com outras coisas – não merecemos esta gente nem o que traz consigo.

Todos sabem que apoiei Sampaio da Nóvoa, nas eleições anteriores. De certo modo, ainda voto nele nestas eleições.


Alexandre Honrado
Escritor, jornalista, guionista, dramaturgo, professor e investigador universitário, dedicando-se sobretudo ao Estudo da Ciência das Religiões e aos Estudos Culturais. Criou na segunda década do século XXI, com um grupo de sete cidadãos preocupados com a defesa dos valores humanistas, o Observatório para a Liberdade Religiosa. É assessor de direção do Observatório Internacional dos Direitos Humanos. Dirige o Núcleo de Investigação Nelson Mandela – Estudos Humanistas para a Paz, integrado na área de Ciência das Religiões da ULHT Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias em Lisboa. É investigador do CLEPUL – Centro de Estudos Lusófonos e Europeus da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e do Gabinete MCCLA Mulheres, Cultura, Ciência, Letras e Artes da CIDH – Cátedra Infante D. Henrique para os Estudos Insulares Atlânticos da Globalização.

Pode ler (aqui) todos os artigos de Alexandre Honrado


 

Leia também