Covid-19 | Marta Temido – “Nós não podemos continuar a lidar com este número de infeções, porque o sistema de saúde não aguenta”

Questionada, em entrevista concedida ontem à RTP, sobre o encerramento imediato das escolas, a Ministra da Saúde refere que essa medida está em cima da mesa uma vez que “neste momento, sinto, que estamos muito próximos do limite e que há situações em que estamos no limite” e “o que é necessário é cortar as cadeias de transmissão”.

Segundo a ministra, o aumento do crescimento de casos pode estar relacionado com o “incumprimento de regras que estavam estabelecidas” uma vez que “há regras explicitas, há regras implícitas e há regras de confiança e as relações entre os governos e os cidadãos não se fazem só por leis nem por normativos também se fazem por regras e por patos de confiança”.

Sobre o ponto se situação da saúde em Portugal, a ministra refere ser uma “situação séria” não só pelo “sobresforço em que estão os profissionais de saúde, a exaustão física e também psicológica” e o fato de estarmos “por circunstâncias evidentes a atingir o limite da nossa capacidade de resposta, todos os dias nos temos reinventado, todos os dias nos temos superado”.

“Os profissionais de saúde tem-nos levado a acreditar que conseguem fazer sempre mais um pouco, mas neste momento sinto que estamos muito próximo do limite e que há situações em que estamos no limite”
[Marta Temido, Ministra da Saúde]

São vários os hospitais da região de Lisboa que se encontram numa “situação muitíssimo complexa”, onde os “meios são reutilizados, são reinventados, o esforço humano é dobrado”, onde são instaladas mais camas recorrendo a outros setores, instalando-se camas de campanha, mas “para tudo há limites e neste momento os números que enfrentamos são números poderosíssimos com os quais nunca julgamos ver-nos confrontados”. A estimativa aponta que “esta tendência se vai agravar nos próximos dias”, não sendo ainda possível saber em que momento esta curva ascendente possa vir a estabilizar, nem onde os números vão chegar.

Nos últimos 19 dias registaram-se 1/3 do número total de óbitos desde o início da pandemia, sendo previsível que se o nosso país continuar a somar um número de óbitos semelhante aos dos últimos dias, ou os ultrapassar, o que “se afigura bastante possível”, Portugal poderá atingir um número acumulado de óbitos de 20 000 em março. O aumento do número de mortes nesta altura está associado não só ao aumento do número de infeções, mas também com as temperaturas extremas que se tem verificado.

A ministra refere que foram utilizadas todas as respostas disponíveis no combate à covid-19. Desde abril que foram criados os contratos de adesão para convenção com o setor privado. Na 1.ª vaga não foi necessário recorrer ao privado, mas em novembro foram acionadas várias convenções, nomeadamente na região norte do país. A ministra refere mesmo que senão tivesse sido o apoio “de alguns grupos privados, do setor social, de hospitais fundação e da união das misericórdias portuguesas, nós não tínhamos vencido o mês de novembro”. Mais recentemente, o ministério tem procurado na região de Lisboa e Vale do Tejo “a celebração de todas as convenções possíveis para cuidados covid e não covid”.

Na região de Lisboa e Vale do Tejo existem 4 acordos – com 4 instituições diferentes – para a prestação de cuidados covid e 13 acordos para a área não covid, somando 165 camas que já se encontram a ser utilizadas. Existem ainda, mais cerca de 120 camas de apoio nos Hospitais das Forças Armadas e no Centro Médico de Belém. O Hospital das Forças Armadas decidiu que todos os meios à sua disposição serão alocados à prestação de resposta covid, o que significa um acréscimo de cerca de mais 140. A nível nacional estão atualmente celebrados 52 acordos para apoiar o SNS representando um reforço de cerca de 850 camas do setor privado, do setor social e de unidades militares.

A ministra referiu ainda que “as camas por si só não funcionam”, são necessários profissionais de saúde. O governo encontra-se a “estudar mecanismos de reforço daquilo que é a disponibilidade dos profissionais de saúde”, mecanismos que podem passar pelo “reforço da sua disponibilidade em termos financeiros”. O grande problema é “a exaustão dos recursos humanos”.

Questionada sobre a requisição civil, Marta Temido, afirmou “penso que para já, aquilo que temos em termos de enquadramento é muito claro, preferencialmente acordo” uma vez que “não é a requisição civil só por si que resolve o problema de os hospitais terem além dos doentes covid outros doentes para tratar, que ocupam camas, que precisam de cuidados”, acrescentado que a situação exige um “equilíbrio muito difícil” e também os operadores privados têm que se reorganizar e articular a sua resposta com o SNS.

Nós não podemos continuar a lidar com este número de infeções, porque o sistema de saúde composto por todas as suas partes, não aguenta responder a este número de infeções. Esse é o ponto principal, os meios são os meios que existem no país, são os meios que podem ser mobilizados e eles têm limites, porque a resistência humana tem limites e a resistência dos profissionais de saúde tem limites”, [Marta Temido]

A ministra afirmou que os profissionais de saúde com que tem falado, dizem que “ainda não estão exatamente na situação limite de ter de escolher entre quem é que se vai tratar”, acrescentando “não está ainda a acontecer, mas estamos próximos de que aconteça e sobretudo devemos fazer todos os esforços para evitar que isso aconteça”.

Na semana passada, de acordo as sequenciações de amostras positivas enviadas e tratadas por um conjunto de laboratórios demonstra-se a presença no nosso país, da variante inglesa do vírus, numa percentagem que atingia os 8%, neste momento a percentagem estimada da variante é de que já tenha atingido os 20%, estimando-se que dentro de mais uma semana possa atingir os 60%.

 

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