OPINIÃO POLÍTICA | José Martinez (CDU) – A propósito do “estado de emergência”

JOSE MARTINEZ

A propósito do “estado de emergência

 

Números para reflectir (dados obtidos da situação epidemiológica de 13/11):

 

1,93% da população residente está infectada

O grupo etário menos infectado é o das crianças com menos de 10 anos – 0,91%

O grupo etário mais infectado é o das pessoas com mais de 80 anos – 3,01%, 50% acima da média nacional.

Os grupos etários dos 70-79 (1,36%), 60-69 (1,63%), 10-19 (1,48%) e 0-10 (0,91%) estão infectados abaixo da média nacional.

Para além das pessoas com mais de 80 anos o grupo com mais de 20 anos e menos de 60 anos tem valores de infecção acima da média nacional.

Parecem-me evidentes algumas considerações:

Libertar os parques infantis públicos estabelecendo quantidades máximas de utilizadores, apelando aos adultos o seu cumprimento, por parte das crianças e se porventura as crianças tiverem de esperar “vaga” que a contrariedade seja aproveitada para o esclarecimento da necessidade de distanciamento social em pandemia.

O grupo das pessoas mais idosas, com, provavelmente, menos assintomáticos, são vítimas da falta de condições em que vivem, em particular os lares, locais não preparados para assegurar as medidas sanitárias adequadas, o “distanciamento social”, número limitado dos grupos de idosos com proximidade,  dos contactos com estranhos ao grupo, cuidadores e visitas, que deveriam ser testados para garantir o não contágio,  testagem dos elementos do grupo para verificação da inexistência de riscos de contágio interno, assegurar o tratamento dos infectados com a humanidade que os mais velhos tem direito, assegurando o seu equilíbrio emocional.

Ao grupo dos 60-79 anos, a menor taxa de infecção, relativamente à média nacional, parece estar relacionada com a menor participação na actividade laboral e no que esta implica, relativamente ao distanciamento social, necessidade de utilização de transportes públicos em horas de ponta.

O grupo alargado dos 20 aos 59 anos são, sem dúvida, o grupo mais exposto aos riscos de contágio inerentes à actividade económica, a utilização dos transportes públicos sobre lotados, a não definição das condições sanitárias por sectores de actividade económica e respectiva fiscalização, maior utilização de espaços limitados para a toma de refeições, cantinas/restaurantes, a que estão sujeitos.

 

Não disponho de dados que me permitam aferir da taxa de infecção de acordo com os sectores de actividade e posição no processo produtivo, mas quem já teve oportunidade de ver uma fábrica de calçado, um estabelecimento de abate e processamento de carnes, uma fábrica de vestuário, um estaleiro de obras, um cal center…, não lhe restarão grandes dúvidas de quem são os soldados desta “guerra”.

Para não falar dos trabalhadores do Serviço Nacional de Saúde, dos trabalhadores dos serviços de higiene urbana, das actividades educativas, do comercio e restauração não esquecendo os trabalhadores da cultura que, contra tudo e contra todos, se reinventam a cada dia.

Aos “soldados” não podem ser negados os momentos de lazer. Os momentos de lazer têm de continuar a existir com a máxima segurança.

Estas minhas refexões levam-me a perguntar:

O que é que está a ser feito nos lares, não para acudir aos infectados, isso lá se vai fazendo, mas para garantir a saúde dos utentes, a saúde física e mental, só “paleativamente” assegurada pelas visitas e animações?

O que é que está a ser feito para diminuir os riscos nos locais de trabalho?

Quais as directivas da DGS para os sectores de actividade e que serviços de apoio disponibilizam?

Isto não pode ser deixado ao cuidado das entidades patronais, nas pequenas, talvez, o patrão está lá, não está em teletrabalho, nas maiores, não tenhamos dúvidas só serão asseguradas as condições que permitam a laboração ao ritmo imposto pela pandemia.

Não podemos continuar a “vergastar” os “heróis” da “guerra”. As medidas que possam ser tomadas individualmente têm de ser explicadas e não tenhamos dúvidas que se o forem terão a adesão de todos.

Não tive o privilégio de estar oficialmente na Alameda, no 1º de Maio, mas não resisti, esgueirei-me até à entrada do Técnico e que bem que me fez à “alma” ver como foi possível lutar, comemorando a mais querida efeméride dos trabalhadores, respeitando as orientações necessárias à minimização dos riscos que uma comemoração de forma tradicional acarretaria.

Tive o privilégio de participar na Festa do Avante, na sua promoção, no funcionamento de um dos seus stands, na assistência dada aos visitantes para que tudo corresse bem, e assim foi.

Já fui ao teatro, ao cinema, tudo em segurança.

Aumentei o número de vezes que vou tomar refeições ao restaurante. Verifico que cumprem as directivas da DGS, sinto-me em segurança e até me sinto envergonhado quando alguns se despedem com um “obrigado pela vossa ajuda” …

Nas lojas a preocupação com a desinfecção das mãos, do uso de máscara, do número de clientes dentro da loja, tudo me faz sentir bem com os meus concidadãos.

Os estados de “emergência” limitações à actividade, não resultantes do COMO SE FAZ, para ser feito em segurança, mas para fazer de conta que se está a fazer e esconder o que não está a ser feito, são intoleráveis.

Corremos o risco do descontrolo social

José Martinez
Membro da direção concelhia do PCP e deputado municipal pela CDU.

 


Pode ler (aqui) outros artigos de opinião de José Martinez


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