Crónica de Alexandre Honrado Em bica de prosa Houve um momento neste verão em que, isolado de todos os contextos, vivi trinta e alguns segundos de uma paz indescritível, um silêncio casto, uma temperatura amena, nenhum sobressalto diante dos olhos, a ausência total de cheiros incómodos, uma superfície que ao tato me trouxe uma memória de infância numa época em que a ausência da compreensão do mundo era apenas a graça de nada compreender – ou querer. Perto de uma das casas onde vivi na minha infância, num desafogado…
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Crónica de Jorge C Ferreira | Tempos terríveis
Tempos terríveis por Jorge C Ferreira Há momentos que se eternizam. Instantes que nos marcam o corpo para sempre. A marca rasgada. Um bisturi, agulha e linha. A tatuagem maior. O profanar do corpo. Um mapa de vida. Uma assinatura desconhecida. Um coração assaltado por galopes de vida. Uma fúria que se custa a acalmar. Um cabelo longo e despenteado. Uma vida a ganhar necessidade de ternura. Há uma mulher que percorre todo aquele corpo e lambe todas as feridas expostas. Assim as tenta curar. Mulher santificada. Lábios…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Outros Tempos
Outros Tempos por Jorge C Ferreira Não sei quantos passos dei por aquelas ruas. O meu bairro que percorri em todas as direcções, em todos os sentidos. Os proibidos e os autorizados. Meu bairro, hoje multiétnico. Bairro de todas as nações, raças e credos. Bairro vida. Bairro celebração. Bairro ilusão. Foi este meu bairro que decidiu as eleições em Lisboa. Podem não acreditar, mas achei-me importante. O meu Bairro, que nunca teve marcha popular, tinha decidido a vida da cidade grande. A igreja onde recebi todos os sacramentos.…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Uma ilha e uma trança
Uma ilha e uma trança por Jorge C Ferreira Saber navegar pela vida. Muitas vezes ser ilha. Resto isolado de nós. Procurar-te numa ilha. Conhecer os sinais dos faróis. Amar um faroleiro. Esperar a sua luz. Esperar encontrar a mulher sublime que nos completa. Procurar a vida plena. Esta busca, esta demanda que muita gente empreende. Gente que não sabe que procura o inatingível. O vulcão que entra em erupção. As cinzas e a lava. A terra a crescer, a ilha a aumentar. O mar queimado. Entretanto, uma…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – Sem guerra nem guerreiros
Crónica de Alexandre Honrado Sem guerra nem guerreiros Houve um momento neste verão em que, isolado de todos os contextos, vivi trinta e alguns segundos de uma paz indescritível, um silêncio casto, uma temperatura amena, nenhum sobressalto diante dos olhos, a ausência total de cheiros incómodos, uma superfície que ao tato me trouxe uma memória de infância numa época em que a ausência da compreensão do mundo era apenas a graça de nada compreender – ou querer. Durante esses segundos de um bendito alheamento, senti-me longe de qualquer…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Amores de verão
Amores de verão por Jorge C Ferreira Mais um verão. Mais uma emoção. Um calor que traz recordações. Uma água que aquece e uma luz que não se apaga. Noites de ir para a rua. Amores de verão. Amores canção e lembranças do primeiro beijo. Pela primeira vez o sabor de alguém. Os olhos fechados. A completa ilusão. Sabíamos os caminhos das rochas e o sabor das algas marinhas. Éramos quase só sal e éramos tanto. Amor intenso. Sabores únicos. Sabores que só o verão nos oferece. Os…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – Como um gelado se lê
Crónica de Alexandre Honrado Como um gelado se lê Nem o verão interrompe as tarefas, mas cá estou, entre elas, entre as tarefas, a procurar espaço e sombras paras as leituras, algumas até muito ensolaradas. Escrever, minha paixão, talvez resulte desses tantos e enormes enamoramentos com a leitura. Por identificação, acabo por tirar da prateleira da livraria uma obra de humor inteligente. Sem inteligência o humor é mais uma stand up comedy de criaturas sentadas. Confesso que me identifiquei com a obra, e então trouxe-a bem agarrada, embora…
Ler maisCrónica de Licínia Quitério | De ontem e de hoje – A Dona Rosária
De ontem e de hoje – A Dona Rosária por Licínia Quitério Na loja da dona Rosária havia tudo, cabia tudo, nada se limpava, nada se fiava, nada tinha peso certo, nada tinha preço certo. Na montra da loja da dona Rosária havia um amontoado de objectos, grandes, pequenos, médios, de caixas, mais ou menos amolgadas, de moscas mortas de tédio, lá pelo meio. A loja onde reinava, absoluta, a dona Rosária, era um armazém de sacos, de tulhas. No balcão que sobrava dos objectos, dos sacos, das…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Tudo a arder
Tudo a arder por Jorge C Ferreira Sim, há o “… fogo que arde sem de ver… “. Todos sabemos desses calores difíceis de controlar. Dos corpos que parecem perdidos. Do ardor insuportável. Dos rostos ensimesmados. Do caminho para a perdição ou para a salvação. Das noites gritadas. Já vi arder corações, amores que pareciam eternos, almas empedernidas. Não sou pessoa de desatar fogos. Sei que não posso ser o fogo eterno. Mas estou farto de ver arder sonhos. Não gosto de ver sofrer. Não me agradam corações…
Ler maisCrónica de Jorge C Ferreira | Um Amigo
Um Amigo por Jorge C Ferreira Era moreno, não muito alto, um sorriso malandro, sabia dançar. O pai dele imitava Fred Astaire em frente ao espelho grande da casa. Dançava e libertava-se. Chegou a dizer que estava a dançar melhor que o seu ídolo. Uma figura. Este meu Amigo vivia perto de mim. Frequentava o mesmo café. Com ele troquei vida e segredos. Tudo até uma altura em que a vida nos separou. Uma coisa de que não me perdoo até hoje. Há amigos que são para seguir…
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