Recordar quem merece Por Alice Vieira O escritor José Cardoso Pires viveu durante muitos anos na Ericeira. A casa (ao lado da casa onde eu nessa altura vivia) tem uma placa a lembrá-lo. Mas os anos deram cabo da placa, ou seja, as letras já não se veem. Há dias até me disseram que a placa tinha sido retirada — mas isso não posso confirmar e não quero acreditar. Lembro-me sempre de um dia, eram os meus filhos pequeninos, andávamos na praia e eles tentavam lançar um papagaio de…
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Crónica de Alice Vieira | Desilusões
Desilusões Por Alice Vieira A minha amiga Teresa vai de viagem a Marrocos. Quando me deu a notícia, eu desatei a rir e ela, evidentemente, pensou que eu estava maluca, que graça tinha ela ir a Marrocos?! Mas, de cada vez que me falam em Marrocos, eu desato logo a rir. E só depois explico. Era a primeira vez que eu ia a Marrocos. Um guia extraordinário que, depois de nos largar, despia a djellaba e ia, com dois ou três de quem tinha ficado amigo, mostrar-nos outras coisas…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Falando de Charlot
Falando de Charlot Por Alice Vieira Não sei porquê, mas hoje lembrei-me de ti, Charlot. De ti, que nunca me fizeste rir. Lembro-me de ser criança e olhar para a miudagem que enchia a sala do cinema Capitólio, em Lisboa, e todos riam às gargalhadas e saltavam das cadeiras e batiam palmas. As velhas tias olhavam para mim de sobrolho carregado, suspirando pelo frete que era terem de me levar ao cinema nas tardes de domingo. Nessa altura eu nem fixava o nome dos filmes, exibidos uns a seguir…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | ESTE NOSSO MUNDO
ESTE NOSSO MUNDO Por Alice Vieira Eu sei que ainda faltam uns mesitos para o fim do ano. Mas penso que as coisas não devem mudar muito até Dezembro. Tem sido um ano difícil. Andei à procura de coisas boas para aqui contar—e não me lembrei de nenhuma. Há guerras pelo mundo inteiro, países completamente destruídos, governos que “obrigam” as populações a procurarem outros lugares para poderem viver, etc…. Quando estudamos História, lemos nos manuais que houve a Guerra dos 30 Anos, e a Guerra dos Cem Anos. Às…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | …E Sobrevivemos!
…E Sobrevivemos! Por Alice Vieira Às vezes penso como foi que nós—ou seja, os velhotes como eu – conseguimos sobreviver. Como foi que conseguimos ser crianças, adolescentes, andar na escola, aprender. Para os jovens de hoje deve parecer praticamente impossível imaginar um mundo sem telemóveis, sem computadores, sem power-point, sem zoom, sem e-books, e sei lá que mais. Até mim, juro!, me custa a acreditar. Mas a verdade é que existiu. E sobrevivemos. E fomos felizes. Lá em casa, assim que começava o verão, a família ia passar todas…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Quando tudo treme
Quando tudo treme Por Alice Vieira O sismo de há dias ainda não me saiu da cabeça — e duvido que alguma vez saia. A minha casa tremeu toda, fotografias que tinha na parede caíram para o chão e isto durante alguns segundos. Segundos que, evidentemente, me pareceram minutos! E, no entanto, tive vizinhos que garantiram não ter ouvido absolutamente nada! Claro que também houve outros que disseram que sim senhora, tinham ouvido um estrondo e a casa a abanar– mas que pensaram que era um camião a passar…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Felicidade com F maiúsculo
Felicidade com F maiúsculo Por Alice Vieira A Assembleia Geral das Nações Unidas decretou que o dia 20 de Março é o Dia Internacional da Felicidade. Ainda pensei que era por ser o dia dos meus anos, até já me preparava para lhes mandar um lindo postalito aqui da Ericeira a agradecer — mas não, infelizmente eu não tinha nada a ver com isso. Ao que parece, a ideia partiu do minúsculo reino budista do Butão (naquele fim do mundo dos Himalaias) que, em vez do PIB (Produto Interno…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | O que se aprende com os mais novos
O que se aprende com os mais novos Por Alice Vieira Eu sempre disse (e volto a dizer) que se aprende muito com os mais novos. Mas mesmo muito. Eles sabem coisas que nós nem imaginamos. Por exemplo, há um grupo de miúdas, aí dos seus 12, 13 anos, que se senta numa mesa ao meu lado na esplanada da praia do Sul na Ericeira. Todas as manhãs elas lá estão. Há uma que nunca, mas mesmo nunca se cala. E juro que é um gosto ouvi-la! Às vezes…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | Adoro aeroportos
Adoro aeroportos Por Alice Vieira Adoro aeroportos. E como vou sempre com muita antecedência, conheço-os muito bem. Talvez aquele que conheça pior seja o nosso. Mas o de Frankfurt e o de Orly conheço-os como os meus dedos. Sabiam que no aeroporto de Frankfurt há uma salinha onde se pode dormir enquanto se espera pelo avião? Tem uma espécie de divã de pele, só com uma manta para nos cobrirmos. E chega perfeitamente. E em Orly há um hotel que fica mesmo na pista! Já lá fiquei muitas vezes.…
Ler maisCrónica de Alice Vieira | O que dava jeito
O que dava jeito Por Alice Vieira Diziam — porque eu, evidentemente, não me lembro — que eu cantava muito bem quando era pequenina. Mesmo muito bem. Muito afinadinha, muito certinha, pausas nos sítios certos, palavras muito bem pronunciadas, essas coisas. Até cantava cantigas em francês— língua que eu tinha aprendido ao mesmo tempo que o português. Só me lembro de os amigos que iam a nossa casa me pedirem sempre para eu cantar, e depois davam muitas palmas — normalmente acompanhadas de uns chocolatitos ou rebuçados, o que…
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