Crónica de Alexandre Honrado | Fragmentos de discurso

[sg_popup id=”24045″ event=”onLoad”][/sg_popup] As minhas leituras de férias não serão muito diferentes das minhas leituras do ano inteiro, até porque me considero em férias durante doze meses, intervalando em certos momentos, como aqueles em que tenho de ir à repartição de finanças explicar porque não posso alimentar mais nem melhor o sistema tributário. Trouxe comigo – confesso – alguns livros sobre a I Guerra Mundial, relatos na primeira pessoa, e uma das surpresas neles colhida é a falta de intensidade emotiva com que os sentimentos ficaram no papel. Procuro uma…

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Crónica || Alexandre Honrado – Viajar

[sg_popup id=”24045″ event=”onLoad”][/sg_popup] Não percebo bem porque é que, em férias, me divirto tanto a ler e a estudar, se nos restantes meses me subordinei às exigências de estudar e de ler. Faço-o, é claro, de outra forma, retemperadora: com um espírito solto, com uma visão do conhecimento que não me cria laço e compromissos e sobretudo faço-o ao ar livre, ou viajando por locais onde as pedras falam como velhos amigos, as pinturas desafiam a olhares enamorados,  os sons se revelam ecos de passados nem sempre agradáveis mas invariavelmente…

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Crónica de Alexandre Honrado | Estar de mal com os outros

[sg_popup id=”24045″ event=”onLoad”][/sg_popup] Estar de mal com os outros É uma fantasia, esta de estarmos de mal com os outros. Não os suportamos, não fazem o que queremos, têm mais poder, dinheiro e notoriedade do que gostávamos que tivessem. Temos momentos em que desejamos o poder da proibição: que não ocupem a nossa praia, nem passeiem os seus cães, que não pinguem a nossa roupa, que desimpeçam o nosso elevador, que votem no nosso partido, que destruam todos os partidos, que não tenham carro ou que o estacionem no paÍs…

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Crónica de Alexandre Honrado | Produtos fora de prazo

[sg_popup id=”24045″ event=”onLoad”][/sg_popup] Produtos fora de prazo   Num certo momento da desenvolvimento humano (o que normalmente significa qualquer coisa relacionada com o mundo ocidental e neste mundo o bocado em que os ricos comparam os seus mealheiros e aplicações financeiras), nasceu o culto da instantaneidade. Isso significa avidez mas também uma forma precipitada da vida em que tudo se constrói em torno do que o desejo obriga a cada um: o cumprimento instantâneo do que se deseja. As tecnologias dilataram-nos: temos coisas a mais e mais coisas para ver…

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Crónica de Alexandre Honrado | Museus do que não se descobre

Museus do que não se descobre É atribuída a Alexandre o Grande, grego macedónio que liderou conquistas e um Império considerável, não maior porque a morte o colheu cedo, a seguinte frase: “ expansão sem defesa é inútil.” Como todos os poderosos, também Alexandre o Grande teve, depois de morto, elogios exagerados e críticas anormais. Herói para uns, monstro para outros, Alexandre é afinal o que a história regista sempre no discurso dos sucessores, porque foram deserdados ou porque receberam o que mais lhe convinha. Essa história, escrita pelos sucessores,…

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Crónica de Alexandre Honrado | Os meninos da Tailândia e a dor que somos

Os meninos da Tailândia e a dor que somos Há momentos que nos libertam do estado de mediocridade, do fútil em que nos atafulhamos. Um olhar de enorme coletivo para a Tailândia, à espera que um punhado de garotos sobrevivesse à traição que a sua própria aventura lhes reservou, é um desses momentos. Um grande punhado do mundo a olhar para  mesmo sítio, para o mesmo registo noticioso e a partilhar a mesma angústia. A monstruosidade que é a nossa incapacidade de ajuda somada com uma outra, a da impossibilidade…

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Crónica de Alexandre Honrado | Meia dúzia de ideias ou coisa nenhuma

Meia dúzia de ideias ou coisa nenhuma Quando trabalhamos nesse ingrato equilíbrio que é o de analisar cientificamente a cultura (que é sempre humana, mas nem sempre humanista ou valorizadora do ser humano) nada parece limitar-nos, a menos que os conceitos se ergam diante de nós como muros. É de conceitos que falo agora, escrevendo sobre eles. O estudo da cultura pode colocar na lamela do nosso microscópio a fatia de pizza, coisa praticamente universal, a tatuagem da pele ou do muro da rua, o piercing, a mesquinhez do comportamento…

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Crónica de Alexandre Honrado | Porque não sou uma estante (nem um canapé)

PORQUE NÃO SOU UMA ESTANTE (NEM UM CANAPÉ)     Tenho inúmeros livros na cabeça, alguns da capa à contracapa, sei-os quase de cor; li magras edições, revistas de quadradinhos, calhamaços e coisas ditas sérias, até o Anthony Giddens me ensinou que “para controlarmos o futuro, é necessário que nos libertemos dos hábitos e preconceitos do passado”  – e todavia tudo isso não faz de mim uma estante. Já dormiram sobre mim – e nunca fui almofada ou cama. Já tive pessoas ao colo, algumas recém nascidas outras bem graúdas…

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Crónica de Alexandre Honrado | Como se morre na praia

COMO SE MORRE NA PRAIA   Na minha crónica da semana passada, sobre o trágico acidente que vitimou um casal de turistas, de férias, na Praia dos Pescadores da Ericeira, local que, tal como eu, muitos portugueses já visitaram e olharam com demora retendo-lhe muitos pormenores, alguns comentários foram-me chegando. Num deles, uma simpática senhora dizia que não sabia onde eu – tratava-me por senhor – queria “chegar” com o texto. E eu não percebi, obviamente, onde é que a senhora quis chegar com o comentário que, aliás, arrebatou e…

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Crónica de Alexandre Honrado | Não sei dançar ao som da morte

NÃO SEI DANÇAR AO SOM DA MORTE   Morreram duas pessoas na Praia dos Pescadores da Ericeira, caíram de um muro que acaba no passeio do Largo das Ribas e se precipita até ao areal, o mesmo de onde partiu a família real para o exílio, embarcando na barca Bomfim para alcançar o iate D. Amélia e, indo nele, procurando um novo mundo. Da praia da história e da felicidade dos risos de Verão e dos gritos dos miúdos ao entrar na água fria, da praia da ansiedade dos monarcas…

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