OPINIÃO POLÍTICA | Mário de Sousa – O Tempo e Todos Nós

[sg_popup id=”24045″ event=”onLoad”][/sg_popup]

O Tempo e Todos Nós

Acabou mais um ano e começou um ANO NOVO. Chama-se 2019.

O Tempo sempre me impressionou. Não a forma como o medimos mas porque se mede e a diferença que isso pode fazer na nossa existência. Três livros marcaram a minha ideia sobre o assunto:

O Nascimento do Tempoi de Ilya Prigogine, ‘O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânicoii de Fernand Braudel e ‘On Collective Memoryiii de Maurice Halbwachs.

O primeiro porque me ensinou que o tempo está muito longe de ser ‘um mecanismo simples e reversível (o modelo mecanicista do ‘mundo-relógio’ (PRIGOGINÉ, pp13). Por isso sinto-me inclinado para Aristóteles quando nos diz que ‘… o tempo é o estudo do movimento, mas – acrescenta – na perspectiva do antes e do depois.’ (PRIGOGINÉ, pp20). E nesta ideia ‘do antes e do depois’, na sua ação de modelação secular por vezes milenar, Fernand Braudel explicou a todos nós com a sua conceção de ‘longue durée’, o Tempo Longo e a pluralidade desse Tempo ou seja, o que hoje existe, o que hoje somos e como somos é o efeito da pluralidade de Tempos diferentes que durante uma longa distância em Tempo vai construir o Mundo de hoje e as gentes de agora. Foi o Tempo em trabalho de longa duração que nos moldou e que nos fez tal e qual somos.
E o que nos fica dessa ´longue durée’? Que imagens possuímos? De onde vem a nossa comunidade? Como evoluiu? Como aprendeu a sobreviver e depois a viver? Como celebramos os nossos Tempos? E como e de que modo construímos e preservamos o conhecimento comunitário? Porque desvalorizamos o Presente para depois reconstruirmos o Passado?
Maurice Halbwachs procura responder a estas interrogações explicando que a memória humana só pode funcionar dentro de um contexto coletivo. A memória coletiva é sempre seletiva; vários grupos de pessoas têm diferentes memórias coletivas (fruto da pluralidade do Tempo – tempos diferentes), que por sua vez dão origem a modos de comportamento também diferentes.
Por tudo isto, construir o nosso passado social coletivo só é possível se soubermos usar as nossas imagens mentais do Presente.

Durante o pretérito mês de Dezembro e à semelhança do ano anterior, o nosso Concelho celebrou de uma forma muito própria o Tempo de Natal e para isso, aconteceram por todo o Concelho nas mais diversas aldeias, pequenos – grandes concertos corais propiciando a todos os que assistiram um assinalável programa de música coral popular religiosa, sempre pontuada por cantigas de cancioneiros populares portugueses. Foi o ‘IN NATALIS’. É de toda a justiça reconhecer esta forma interessantíssima de dar a conhecer a todos nós o nosso Concelho, as nossas Gentes e o nosso edificado monumental religioso.
Embora a dita civilização paroquial se tenha desmoronado nos anos 60 do século passado, é notável como os Mafrenses têm cuidado dos seus Templos, das suas Procissões, dos seus Tempos Litúrgicos e como a eles acorrem sempre que a isso são solicitados, recebendo de uma forma singela e única todos os que não sendo da terra por lá aparecem para partilharem por um tempo infelizmente curto, as suas imagens coletivas, diferentes de aldeia para aldeia, mas mantendo um fio condutor que poderá fornecer um caudal riquíssimo para a construção social da memória coletiva deste nosso Concelho.
Resta-me apenas desejar a Todos um Bom Ano de 2019 e esperar que seja para muito breve a abertura de um novo Museu Municipal onde a Memória Social Coletiva de todos nós possa ser celebrada.

Mafra, 8 de Janeiro de 2019
Mário de Sousa


i PRIGOGINE, Ilya, O Nascimento do Tempo, Lisboa, Edições 70, Lda, 1990
ii BRAUDEL, Fernand, O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico I, Lisboa, Edições Dom Quixote, 1995
iii HALBWACHS, Maurice, On Collective Memory, University of Chicago Press, 1992

 

Leia também