Nas suas redes sociais, a União de Freguesias de Enxara do Bispo, Gradil e Vila Franca do Rosário fez ontem duas publicações que representam um comportamento inadequado e inaceitável por parte de uma entidade pública.
O(A) gestor(a) das redes sociais da entidade autárquica União de Freguesias de Enxara do Bispo, Gradil e Vila Franca do Rosário publicou ontem uma matéria relativa a um jantar que teve lugar na Terrugem, em que participaram autarcas do PSD e o Presidente daquele partido, Luís Montenegro.
As autarquias são órgãos do poder local suportados pelos impostos de todos, que servem todos os cidadãos ao nível local, e que não têm por função fazer propaganda a iniciativas partidárias. A União de Freguesias de Enxara do Bispo, Gradil e Vila Franca do Rosário esqueceu-se das funções que exerce e decidiu propagandear um evento laranja.
Quando as entidades não estão despertas para os abusos a que o poder absoluto tem tendência a dar origem, a existência de uma maioria absoluta no concelho, muito consolidada e muito prolongada no tempo, pode acabar por resultar numa névoa que esbate a fronteira democrática entre aquilo que é do partido e aquilo que é de todos, até daqueles que não têm partido, mas que pagam impostos.
Nas eleições autárquicas de 2021, 710 eleitores deram a presidência e maioria absoluta desta junta ao PSD. O PS teve 646 votos e a CDU 89 votos. A união de freguesias tem 3 979 habitantes (censo de 2021).
No mesmo dia, indiciando algum desnorte, a mesma página da responsabilidade exclusiva da União de Freguesias de Enxara do Bispo, Gradil e Vila Franca do Rosário, a propósito do Rali das Camélias, publicava um álbum de imagens por si selecionadas, do qual fazia parte uma imagem produzida pelo Jornal de Mafra.
A imagem em causa foi produzida e publicada pelo Jornal de Mafra numa reportagem que fizemos em edição anterior do Rallye das Camélias. A publicação da U.F. truncou e adulterou a nossa imagem, de modo a ocultar o nosso logo, deixando a ideia de se tratar de uma imagem produzida pela própria junta da União de Freguesias de Enxara do Bispo, Gradil e Vila Franca do Rosário.
Este comportamento é inadmissível em quaisquer circunstâncias, mas é especialmente condenável quanto é praticado por uma entidade pública. Mais condenável é o facto de a nossa imagem ter sido simplesmente apagada, sem um pedido de desculpas, após termos feito o comentário que a imagem acima documenta. Para além da imagem, apagaram também o comentário que fizemos na rede social, numa atitude que com propriedade pode ser classificada de censura.
Não será tempo de dar formação aos responsáveis autárquicos, sejam políticos, avençados, ou funcionários? Não será tempo de selecionar políticos, avençados, ou funcionários, tendo em conta, não só a sua fidelidade à cor que venceu a eleição, independentemente da cor que seja, mas também o facto de serem detentores das necessárias qualidades éticas necessárias para desempenhar os cargos?
Será que o comportamento indiciado nestes dois incidentes – falta de rigor, desrespeito pelos valores republicanos e pelos princípios do estado democrático e de direito, para além de apropriação indevida e manipulação de imagem – não se estende, nesta União de Freguesias, ao tratamento dado aos fregueses e aos restantes procedimentos de gestão deste órgão autárquico? Não será legítima esta dúvida?
A menção ao jantar do PSD acabou por ser apagada da página da união de freguesias, o mesmo tendo acontecido à imagem do Jornal de Mafra. Tudo isto à vol de oiseau sem quaisquer explicações.
Por outro lado, a coexistência de uma oposição constituída por políticos camaleões e coniventes e por forças políticas sem o suficiente apreço e enraizamento nas populações e por via disso, sem força reivindicativa, pode ir transformando algumas geografias em indesejáveis e cinzentos desertos democráticos.