Cofres Chega um tempo em que nos transformamos em cofres das coisas que fomos ou vivemos. Um cofre com segredo e chave. Um cofre à antiga. Um cofre de todos os truques. Uma caixa forte. Uma casa onde só nós entramos. É aí que guardamos tempos vividos, momentos únicos, beijos e abraços, amores perdidos, noites de espanto, farrapos de corpos que passaram por nós, um quadro que um dia nos fascinou e incitou a voar, um livro que está sempre por ler, um fato feito por medida, uns sapatos…
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Crónicas de Jorge C Ferreira | O Pântano
O Pântano A indecência da decadência. O arrastar do mal viver. O lodaçal. A lama. Houve quem lhe chamasse “O Pântano” e se demitisse numa longa e antiga noite. A degradação cada vez mais acentuada, os conluios de um bloco central de interesses há muito tempo a partilhar o poder. O tal “Arco do Poder”. Gente que se arrasta de falsidade em falsidade. Gente apanhada em flagrante mentira. Gente que não resiste ao som do vil metal. Muito amesendado do orçamento. Muitos a saltitar de lugar em lugar. A…
Ler maisCrónicas de Jorge C Ferreira | Iam em fila indiana
Iam em fila indiana Iam em fila indiana. Os olhos muito grandes, muito abertos. Olhos de querer aprender. Estava frio. Iam agasalhados, alguns com o pingo no nariz. Iam de mãos dadas. Mãos muito pequeninas. Eles muito pequeninos. Uma fila encantada. As educadoras abriam e fechavam a fila. Estavam junto à porta dos correios. Tinham colocado uma carta, que alguém lhes tinha escrito, com os pedidos para o pai natal. «Agora vamos ver como o senhor tira dali a carta para levar ao pai natal.» Dizia uma das educadoras…
Ler maisCrónicas de Jorge C Ferreira | Agonias
Agonias A agonia sem nexo. O vómito negro e inesperado. O desamparado desfalecimento. A palidez. A água com açúcar. As suaves estaladas, quase festas. O estaladão. Acordar de novo para a vida vomitar de novo. A agonia que não passa. Uma porta para o despertar. A menina de esperanças, sempre agoniada, uma palidez que incomoda. De que alimentará o puto? Pergunta do velho Avô preocupado. O caminhar abandonado. A comida que não apetece. Um apetecer estragado. Alguns estranhos desejos. Comidas de outras épocas. Abrir a porta da vida. Uma…
Ler maisCrónicas de Jorge C Ferreira | Deslumbramentos
Deslumbramentos Há quem se deslumbre com o que nunca fez. Há o narciso que se vê ao espelho e deslumbrado se abrace. Há o fazer de conta, o saber vender-se, o querer impressionar. A pressão que ultrapassa o vapor da vida. O não se enxergar. O alumbramento. A leveza da terra toda. Um ramo de flores. Um pai nosso e duas avé marias. O pecado expiado. Outras vez ávido de se ver ao espelho. Pronto para de novo se abraçar e fazer amor consigo. Há o verso quase perfeito,…
Ler maisCrónicas de Jorge C Ferreira | Saudade
Saudade Somos os fundadores da saudade. Dela somos pais, mães, padrastos, madrastas, irmãos, irmãs, filhos, bastardos sem nome. Até há quem se chame Saudade. Acho que a inventámos quando inventámos a aventura. Usamos e abusamos dela. Somos sôfregos e sofremos com a sua melancolia. Porque isto de inventar uma palavra, não é apenas uma questão de juntar letras. Há significados, categorias, definições, sentimentos envolvidos. Um ror de teimosas características que umas vezes nos encantam e outras nos enfadam. Fui amigo da fada da saudade. Zangámo-nos num dia de nevoeiro…
Ler maisCrónicas de Jorge C Ferreira | Crónica dos dias soltos
Crónica dos dias soltos Mudar de casa, mudar de rua, mudar de mar, mudar de vida. Outros os amigos, outro o dia a dia. Alguma roupa também muda. Tenho roupa espalhada por alguns sítios. Marcas que vou deixando. Até os animais mudam. O gato aqui é de porcelana. A Isaurinda está agora por perto, uma vigilância constante. Uma figura sempre presente neste meu vai e vem a que chama doença. Mal vê as malas começa a abanar a cabeça. O pano, na mão, mais parece um lenço de acenar.…
Ler maisCrónicas de Jorge C Ferreira | Amo-te Liberdade
Amo-te Liberdade Esta vida que me aparece do nada. Esta coisa que não sei explicar. Estes beijos que me dão não sei porquê. Os abraços que me enlaçam de ternura e eu agradeço com outros abraços. As ruas que faço minhas e não se queixam da usurpação. Dádivas que recebo a cada esquina. Coisas que me fazem esquecer as estaladas que levei vida fora. Estou imune a determinadas patifarias. Há pessoas que risco da minha vida com uma facilidade enorme. Nem disso tal gente se dá conta. Quando dão…
Ler maisCrónicas de Jorge C Ferreira | Crónica Vadia
Crónica Vadia Podia continuar a falar do problema da Catalunha, seria a “Catalunha III”. Podia mas não me apetece! Podia falar das desgraças do meu País e da Galiza, dos fogos eternos, dos mortos e das labaredas, do populismo reles dos que cavalgam as desgraças, das meias medidas e das meias tintas. Podia mas cansa-me! Podia falar das armas que aparecem e desaparecem, desse filme mal contado e de fraco guião que se chama Tancos. Podia mas não tenho pachorra! “Tudo para Tancos” como aprendeu a dizer o meu…
Ler maisCrónicas de Jorge C Ferreira | A Catalunha II
A Catalunha II A Catalunha, para mim, é passear pela Barcelona de Gaudi, percorrer o bairro gótico, dormir na “Plaza del Angel”, ir ver Picasso e Miró nos seus museus, subir e descer as ramblas, tomar um café no “Café de L’Òpera”, ir ao “Gran Teatro do Liceo”, comprar uma flor em “La Boqueria”, trepar até Montjuich, ir ver o mar na “Barceloneta”, andar naquele tremendo teleférico e acabar a ver jogar o Barça em “Camp Nou”. É também ir ver o outro colorido da festa a Stiges, visitar…
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