Crónicas de Jorge C Ferreira | As Guerras

As Guerras Chegam-me gritos, choros e um cheiro que incomoda. Um cheiro a guerra. Uma guerra constante, uma vergonha que nunca pára. De guerra em guerra nos vamos cansando. Já nos doem os olhos de ver tantas lágrimas. De ver tantos povos massacrados. Tanta mortandade. Fazer as guerras longe de casa. É este o propósito dos cães grandes. É assim a hipocrisia dos senhores que fazem e mandam nestas abastardadas guerras. Traficantes da morte. Vendem as armas e choram os mortos.  Restos de desumanas pessoas  a quem é difícil dar…

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Crónicas de Jorge C Ferreira | Este País

Este País Sofro ao ver as mulheres do meu País à porta das fábricas, as caras sofridas, os olhos magoados, a vida a fugir. Tenho nojo dos ordenados em atraso. Tenho nojo de quem usa o trabalho de alguém e não paga. Vem-me um nome à cabeça: escravatura. O cutelo do despedimento sobre a cabeça. A selvajaria das multinacionais. O capital sem nome. Os fundos abutres. Gente sem princípios. O dinheiro sujo. Ao mesmo tempo sinto orgulho ao ver a capacidade de luta dessas mulheres. A sua capacidade de resistência.…

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Crónicas de Jorge C Ferreira | Outros Namoros

Outros Namoros O namoro, as velhas cartas, tudo guardado em caixas de lata com cadeado e atadas com uma fita, um cordel, com ou sem laço. As fotos, as namoradas já esquecidas, as que se fazem esquecer. As fotos que vão amarelecendo. O preto e branco e o sépia. Que coisas tão antigas! Dois bilhetes para uma estreia no velho Monumental. Um programa de uma peça que nunca mais se esquece. O teatro da nossa vida. Ter autorização para ir a casa da namorada. Conhecer os pais. Os olhares de…

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Crónicas de Jorge C Ferreira | Caminhada a duas vozes

Caminhada a duas vozes A vida a andar ao contrário. Uma volta difícil de dar. As curvas e as contracurvas. A cansada coragem. Apesar de tudo, nunca desistir. Por vezes perdemos tempo a tentar entender o inexplicável. Não vale a pena, é um tempo perdido. Saber das abertas e dos ocasos. Ver para lá das nuvens. Seguir o caminho. Ter atenção aos sinais. Acreditar. Continuar a beber a vida. Outra voz: «Por onde ando, onde estou? Aqui ando perdido. A perdição a chamar-me. Não vejo caminhos. Não vejo. Uma cegueira…

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Crónicas de Jorge C Ferreira | Pecados e Imperfeições

Pecados e Imperfeições A impossível perfeição. Os improváveis sabores. As imprecações e as suas várias direcções. O delírio do belo. Esse belo que apesar de provocar a loucura é imperfeito. Uma sinfonia por acabar. A incompleta cantata. O imperfeito som. Um órgão desafinado. Uma lareira sem chama. – Maria anda de rastos em busca do perdão. Um perdão que a imperfeição lhe nega. Maria esfolada, ferida, perdida, o cabelo desgrenhado, as lágrimas de pedra, a eterna busca. Alguém desfalece ao fim da passagem do martírio. Levam-no, não vamos saber mais…

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Crónicas de Jorge C Ferreira | Tempo para pensar

Tempo para pensar As águas, as luas, as marés e o sonho. Assim faz sentido caminhar. Conhecer do mar o sussurro. Espreitar e tentar ver para lá do horizonte. Sabemos que o horizonte é inatingível. Vamos, no entanto, para a proa do barco na esperança de chegar mais cedo. As âncoras prontas para o que der e vier. Um piloto na ponte de comando. Uma sereia vai cortando o mar na frente do barco. Caminhar na vida é uma experiência única. Um aprender constante. Um tentar entender. Um tentar entender-se.…

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Crónicas de Jorge C Ferreira | Os labirintos do Poeta

Os labirintos do Poeta Percorrer as estradas da poesia. Saber dos passos dos poetas. Amar um poema, um verso, um delírio. Do delírio conhecer o momento da loucura. No cabelo ao vento encontrar um sinal de liberdade, de transgressão. Ter os livros que connosco foram crescendo. As palavras inquietas nas páginas impressas. O momento mágico, íntimo, da leitura. Só nós e o poeta. Perceber que abrimos a porta para uma nova dimensão. Que estamos noutra realidade. Apalpar o corpo para sabermos de nós. Sentirmos toda a imensa magia, que a…

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Crónicas de Jorge C Ferreira | Passear a Vaidade

Passear a Vaidade Quando a vaidade invade um corpo, não o engorda, torna-o balofo. Gente que se maneia, um bamboleio que nem chega a ser transgressor. Berloques e penduricalhos. Uma alfinetada e a vaidade esfuma-se. São ruas e ruas desta gente. Gente que, de tão convencida, não cabe em si. Chiados de subir e descer. Sorrisos e adeus. Balões de ar quente partem do Castelo. Voos sem destino. Não se sabe quem vai viajar. Pessoas que pensam que são tudo, que chegaram ao topo do mundo, que todos lhes devem…

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Crónicas de Jorge C Ferreira | Crónica dos dias tristes

Crónica dos dias tristes Como cheiram a tristeza os dias da triste gente. Como deve ser triste só pensar no ter! Há gente que passeia vaidosa, como se fossem medalhas, as tristes figuras que fazem. Figuras que fazem sem se aperceber do ridículo em que caiem aos olhos dos que sabem pensar. Isso não os preocupa, mostram a sua ignorante vaidade e com um pouco de sorte ainda, um dia, serão comendadores. A tristeza é uma dor interior, uma dor que não é física, uma coisa tão fina e intensa…

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Crónicas de Jorge C Ferreira | Venetas

Venetas Ter vontade de viver. Estar satisfeito com o que se tem. Saber distribuir alegria. Ter quem nos dê um abraço, quem goste de nós. Sabermos gostar dos outros. Ter saúde. Que mais necessitamos? Por vezes andamos atrás do supérfluo, do não vale um corno. Coisas sem interesse algum. Bugigangas. O novo modelo de telemóvel. Um carro com mais um botão. Um modelo novo de sapatos, para juntar aos mais não sei quantos que andam lá por casa. Não, a mim, não me apanham nessas curvas. Podem fazer os saldos…

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