Crónica de Alexandre Honrado – Convicções

Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Convicções   Era convicção de alguns, presos à sabedoria e à sofisticação sentimental que faz de uma besta um ser completo e capaz de ser melhor para um mundo já de si tão pródigo em ofertas, era convicção firme que o ser humano podia ser o animal perfeito, entre os animais que o rodeavam. Um cérebro mais amplo dotava-o de capacidades, sendo que duas delas podiam transcendê-lo e torná-lo ímpar e excecional: a capacidade de decidir, escolhendo entre os males o melhor que a todos…

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Crónica de Alexandre Honrado – Um prefácio sem vergonha

Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Um prefácio sem vergonha   Não sei se cabe nestes textos que aqui faço a escrita de um prefácio. Mas a aventura de fazê-lo é superior ao risco de usar um espaço onde não devia fazê-lo. Se o faço é porque depois vou querer fazer mais e maior (talvez melhor). A desfaçatez com que o faço, ao prefácio, veio de duas fontes de inspiração: uma, a primeira, prende-se com relativas saudades dos prefácios de alguns livros, prosas capazes de rivalizar com o seu conteúdo ou…

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Crónica de Alexandre Honrado – Pagar portagem à inteligência

Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Pagar portagem à inteligência   Apesar das habilitações ditas, talvez por ironia, literárias ou académicas, a verdade é que aquela rapariga não passa de uma cepa muito torta que se senta todos os dias na mesma pequena caixa metálica, a receber outras coisas metálicas, moedas, moedas de condutores anónimos, mal encarados, mal educados, ensonados, indiferentes, coitados. Condutores que pagam a portagem de uma forma direta, moeda a moeda, praguejando contra os aumentos e a vida. Ela, a rapariga da portagem, com outra vida parecida, mas…

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Crónica de Alexandre Honrado – Força de viver: a resistência

Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Força de viver: a resistência   Apesar do regresso da barbárie – entenda-se, do vandalismo indiscriminado, da violência praticada na ausência do diálogo, da cultura da morte agitada nos meios de cultura massivos, para consumo coletivo, do regresso dos slogans da velha extrema-direita e demais gente, o novo talassa, gente arreigada ao anacronismo das datas, das ideias e dos conteúdos, já sem falar de uma imprensa maioritariamente conservadora e comprometida, e do triunfo das mais torpes distopias – há, por contradição, o crescimento de bolsas…

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Crónica de Alexandre Honrado – Apontamentos de Paris

Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Apontamentos de Paris   O quotidiano vai já respondendo a uma dúvida inquietante: há uma nova cultura emergente, uma mescla sobrevivente que resulta da desvalorização do ser, isto é, de todos nós, e é efeito perene dos muitos declínios que permitimos e que nos negaram a eternidade. Não há progresso sem conhecimento, e essa cultura é a do desconhecido. É um borrão feito sobre camadas mais sólidas, um palimpsesto, se é que ainda alguém sabe o que isso é. Traduz a falta de critérios estéticos…

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Crónica de Alexandre Honrado – Pós-memória

Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Pós-memória   Confesso-me profundamente desiludido, triste, empurrado pelo vento fabricado pelas máquinas ideológicas que escondem as brisas e os furacões que a natureza produz e oferece gratuitamente. Sempre achei que a inteligência, a cultura, a palavra, podiam aliar-se para benefício humano, contrariando séculos de barbárie e de ignorância, de soluções rudes, básicas e ignorantes, a resposta pela brutalidade, na ponta dos punhos e das armas. Era uma utopia minha que com o avanço histórico e cultural da Humanidade a humanidade se encontrasse, fizesse um acampamento…

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Crónica de Alexandre Honrado – Uma nova cultura que emerge

Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Uma nova cultura que emerge   O quotidiano vai já respondendo a uma dúvida inquietante: há uma nova cultura emergente, uma mescla sobrevivente que resulta da desvalorização do ser, isto é, de todos nós, e é efeito perene dos muitos declínios que permitimos e que nos negaram a eternidade. Não há progresso sem conhecimento, e essa cultura é a do desconhecido. É um borrão feito sobre camadas mais sólidas, um palimpsesto, se é que ainda alguém sabe o que isso é. Traduz a falta de…

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Crónica de Alexandre Honrado – Cultivar para não banalizar

Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Cultivar para não banalizar   “Banalizar a linguagem é banalizar o pensamento que ela veicula.” Teodoro Adorno (Adorno, 1999). Sabe-se hoje que na economia o peso da cultura é enorme – mesmo que o Orçamento Geral de Estado (quase) não a contemple, talvez pelo erro político habitual de que o Estado não sabe investir nem é bom gestor nas poucas áreas que lhe podem trazer retorno e notoriedade de curto, médio e longo prazo. Aliás, aprendemos que a expressão “economia da cultura” revela uma noção…

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Crónica de Alexandre Honrado – A cidade como metáfora viva


Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado A cidade como metáfora viva   Não gosto das cidades que me são dadas para viver e, no entanto, amo profundamente as cidades, as minhas cidades – e tenho várias, o que pode parecer pretensioso. Gaston Bachelard (Bachlard, 1996) dizia que “apenas o espírito é científico” e isso pode indignar os mais materialistas, os mais exatos, para usar uma expressão querida a alguns cientistas. O espantoso é descobrir, entendida a história do homem, que o verdadeiro valor para um pensamento ingenuamente elementar é a obsessão…

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Crónica de Alexandre Honrado – Margens opostas, tempos de asfixia

Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Margens opostas, tempos de asfixia   Há frases tortuosas que me torturam, saem de livros e de outras impressões e perseguem-me como inimigos cruéis a quem procuro dar combate, eu que sou por natureza (apenas) combatente de guerras destas, ideias contra ideias como gládios de velhos romanos, avós perdidos no tempo e na razão. Gosto de ler autores incómodos, pelo que não me posso depois queixar. É o caso de Jean Dubuffet, que tem um apelido impagável, desses que me inspiram sarcásticos comentários, mas que…

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