A ideia não é nova. O grande cultor da mesma foi o checo Franz Kafka. Bom, falando com certeza, Kafka era uma metamorfose: nasceu no Império Austro-húngaro mas quando morreu a sua cidade natal era da Checoslováquia. Se voltasse ao mundo, hoje iria à República Checa para rever a sua Praga. Morreu em Klosterneuburg, que foi também Império, depois República e hoje dilui-se no mapa da Áustria. Mas não era isto o que eu queria dizer. Queria dizer que a ideia que me ocorreu já Kafka a trabalhou com veemência.…
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Crónica | Alexandre Honrado – Hoje não choveu
Nos últimos meses houve três dias de chuvas dignas, dessas intensas e que enchem barragens e elevam os caudais, dão à boca da terra alguns refrescos urgentes, sabendo todavia que, quando excessivas, provocam o vómito dos terrenos, sufocam-nos, alagam-nos e afogam-nos – a água é sempre a água, seja a do céu obscuro ou do mar inquietado. Só quando a chuva causa torrente, caudal engrossado e rápido, provoca cheias, inundações, catástrofes, somos levados a meditar na nossa pequenez – e mesmo assim não nos convencemos. É sempre culpa de alguém…
Ler maisCrónica | Alexandre Honrado – Ao redor da verdade
Se as pedras dissessem a verdade, existiriam muito mais pedras no fundo do mar. Na intrincada rede das mentiras aparecem alguns a reclamar a verdade, sabendo-se que nada é absolutamente verdadeiro e que o que agrada a uns nunca será da boa aceitação de tantos outros. Porque a verdade – e essa parece ser a única verdade – é uma oscilação dentro de um sistema de valores. É aquilo que faz de um assassino um herói, dependendo de quem lhe põe a arma e a missão nas mãos. O que…
Ler maisCrónica | Alexandre Honrado – Em luta pela paz (sempre)
A Paz, como tema, tem vindo recentemente à tona das mais mportantes realizações do pensamento, dos centros que mais a promovem a outros que, por inesperados, são ainda mais de louvar. Não há, vendo bem, um intérprete habilitado da Paz, alguém que fale em nome dos povos. É claro que António Guterres, o Papa Francisco, o 14º Dalai Lama, Malala Yousafza ou Kailash Satyarthi, em escalas diferentes e muito pouco difundidas, têm uma palavra intensa que devemos escutar. Mas são exceções num mundo convulsivo. Há, isso sim e cada vez…
Ler maisCrónica | Alexandre Honrado – Peço desculpa
Os livros de viagens, as narrativas de viagens, o imaginário que leva qualquer um de nós às deslocações mais surpreendentes, a migração, o refúgio, o alcançar terras desconhecidas, a procura de riqueza sempre num lugar diferente daquele em que se nasceu, o melhor pasto, o mais fecundo chão, o rio mais generoso, leva-nos a partir e a ficar… O movimento está na matriz dos povos. A procura de sustento ou da caverna mais espaçosa, o clima mais pródigo ou pelo menos o lugar mais ameno: movimento. Na pré-história, as maiores…
Ler maisCrónica | Alexandre Honrado – LEIA. Ou passe adiante.
Participei na semana passada em seminários e debates – três, para ser exato, profícuos, de força prolífera e muito cansativos, como todos os outros – dos quais saí com algumas convicções reforçadas. Em primeiro lugar que devemos estabelecer cumplicidades com a incompreensão. A ideia estonteante e muito enganadora de que compreendemos o que nos rodeia – e no que nos rodeia há o tangível e o intangível, o tridimensional e o abstrato, o bidimensional e o invisível, só para encher a linha com algumas das diferenças – é falaciosa. É…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | A ordem é sempre estranha
A ordem é sempre estranha Sentado a uma mesa, com uma tarefa preciosa: pensar. Se alguém tivesse lido Virgílio Ferreira, notaria a contradição. Há uma diferença em que se insere a interminável discussão entre os sistemas do pensar – e a indiscutibilidade daquele que é o nosso (sim, o nosso pensar, o nosso pensamento, o eu imperfeito que nos move). Por isso, trocarei o verbo PENSAR pelo substantivo masculino alheamento. Isso! Isso mesmo! Reformulo. Estava eu a executar uma tarefa preciosa: a alhear-me. Repare-se que é na abstração que se…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Quantos dias tem uma semana
Quantos dias tem uma semana (quantas semanas tem um dia?) Leio informação dispersa mas muito sólida, livro após livro, e faço uma pausa olhando uma parede aparentemente branca onde alguém tatuou um desabafo. Tenho quase inveja; sobra-me pouco tempo para as paredes que por vezes acolhem festas, celebrações difusas do que vai na cabeça de cada qual. Na última semana acabei um (excelente) livro francês sobre as revoluções russas (sim, há que registá-las no plural) e a guerra civil que se lhe seguiu; depois, li um outro título sobre os…
Ler maisOeiras | Curso “Imaginário nas Religiões”
Oeiras vai receber o curso “Imaginário nas Religiões”, um curso coordenado por Paulo Mendes Pinto e Alexandre Honrado, da área de Ciência das Religiões da Universidade Lusófona. Segundo a organização: “As religiões assentam, entre outros pilares, em produtos de narratologias ancestrais, que produzem tendências longas de interpretação do mundo, no que tem de real, de fantástico, de maravilhoso e de simbólico”. Constituído por 4 sessões, este curso ” pretende mostrar contributo do religioso na construção das sociedades”. Programa: Hora: 15h00 Local: Oeiras, Livraria-Galeria Municipal Verney [Imagens do Cartaz]
Ler maisCrónica | Alexandre Honrado Utopias no divã
Estudando, quase viciosamente, o ano de 1917, todas as matérias me despertam novas interrogações e a vontade de ter todo o tempo do mundo para ler toda a bibliografia do mundo que me possa conduzir a algumas respostas tem crescido de uma forma incontrolável. Tenho milhares de páginas à minha volta – quase mil escritas por mim ao longo de doze anos de bisbilhotice e incredulidade, pouca matéria conclusiva e muitas catapultas para os textos seguintes. O ano de 1917 não foi mais inquietante do que muitos, mas na História…
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