Crónica de Alexandre Honrado – Lágrimas Regam O Crescente Fértil

Alexandre Honrado

Lágrimas Regam O Crescente Fértil por Alexandre Honrado   Escrevi este texto em 2006, para um livro-catálogo do meu amigo fotógrafo de guerra Ângelo Lucas. Achei-o por acaso – e nada é realmente por acaso. Com as devidas desculpas, resgato-o ao tempo e elucido-me. O que se terá passado durante os 17 anos seguintes? O que piorou?   Santo Agostinho – no século V, onde isso já vai!!! – falava do fim dos tempos. Hegel, nos primórdios do século XIX, do fim da História. Nós, no século XXI, do fim…

Ler mais

Crónica de Alexandre Honrado | Vivemos num mundo em insolvência

Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Vivemos num mundo em insolvência A razão e a sentimentalidade cruzam muitas vezes a mesma ponte de vida, encontram-se num entroncamento único e, não se reconhecendo, seguem o seu caminho em direções opostas. Ocorre-me esta ideia ao ver o estado do mundo, esta insolvência, esta incapacidade patrimonial de satisfazer regularmente as próprias obrigações, a que condenámos um planeta exemplar que, no imenso cosmos, parece ter sido o único capaz de desenvolver-se até à criação de vida. É que os sintomas atuais são terríveis – e…

Ler mais

Crónica de Alexandre Honrado | Vai ficar tudo bem

Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Vai ficar tudo bem Foram meses fugazes aqueles em que o poder e a responsabilidade do mundo, estrangulados nas mãos dos mercados, voltaram aos Estados. Quase dois anos, marcados pelo pânico e pela ignorância, presidiram a essa estranha migração, mas a causa foi-se esbatendo, os negacionistas foram sorrindo como se tivessem razão, e a desorganização humana voltou ao que era. Sim, falo da passagem da Pandemia pelo planeta, falo da epidemia da COVID-19, tão absorvida pelos populistas, tão improvisada pela Democracia, tão receada pelos autoritarismos…

Ler mais

Crónica de Alexandre Honrado | Um tema como os outros

Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Um tema como os outros Já escrevi sobre cemitérios e já acrescentei muitos cemitérios à minha vida. Sei que é mais comum do que eu imaginava, outros somam mais cemitérios do que eu, por vezes dou comigo a conversar com os cemitérios dos outros, a trocarmos lágrimas que secaram em imensos pântanos nunca estagnados, a tratar os mortos como roupa resgatada de um baú, a imaginar histórias que por vezes ninguém viveu. Esses momentos fazem-me celebrar a vida com maior intensidade, e explicar-me o quão…

Ler mais

Crónica de Alexandre Honrado | Sintomas do que temo

Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Sintomas do que temo Há um encanto vago em ficar num lugar sem distinções, parar apenas e ficar a gozar a brisa, o sol que parece desconhecer como o ser humano alterou o planeta de maneira assassina, dourando a pele e aquecendo suavemente em esquecimento. Há um deleite nesse momento sem tempo, sabendo que mais tempo virá escoando-se, o tempo cai sempre num funil apertado e foge-nos como o passar assustado, a criança esquiva, o amor que não ficou. Não tenho muito para dizer nesses…

Ler mais

Crónica de Alexandre Honrado | Visitações

Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Visitações A emissão da televisão do Estado interrompe a intervenção da Reitora da Universidade Católica para ouvir um padre comentar, com muitos lugares-comuns, os dias que se vão vivendo. Eu sou apanhado desprevenido, mas não fico surpreendido. Há sempre nestes e noutros eventos uma cultura do atropelo e do desdém pelo que acontece, que não traz já nenhuma novidade aos que ainda gostam de saber as novidades. Das imagens à margem desta interrupção, só me ficou aquela em que Marcelo recebe o Papa e trata…

Ler mais

Crónica de Alexandre Honrado | Um observatório de pouca coisa

Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Um observatório de pouca coisa Cada pessoa que conheço revela-se para lá do que é. Talvez admita que é isso afinal o labirinto da sua intimidade, reforçando a minha convicção de que a identidade é uma ideia oca, porque a seu modo todos somos moldáveis, física, psíquica e espiritualmente mutantes, prisioneiros de ambições mais ou menos fantasiosas ou sofredores de crenças várias que moldam, mas não explicam, fornecem matéria de extrapolação, mas não identificam, muito menos uniformizam ou garantem uma identidade. Vamo-nos identificando, mas isso…

Ler mais

Crónica de Alexandre Honrado | Kundera – A insuportável ideia da partida

Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado kundera A insuportável ideia da partida Tive muitos escritores como meus heróis, nem sei se é essa a palavra exata, antes materializações de ideias novas contra as ideias feitas, alguém que me entrava pela cabeça e sem um único ruído me gritava assim, num eco que me ficava pelas veias, vá lá, por todo o sempre, se é que existe isso, o todo o sempre. Sempre dei graças aos livros e não concebo a ideia do seu desaparecimento, ou da prisão que pode constituir não…

Ler mais

Crónica de Alexandre Honrado – Nunca estarei longe da cidade

Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado Nunca estarei longe da cidade   “Mas o esforço humano nunca se apaga totalmente, e velhos mapas de terras, de mares, do firmamento, dizem-nos como é profundo o domínio, o saber deste povo de que somos filhos legítimos, herdeiros e servidores simultaneamente: do hoje prisioneiro ao livre amanhã que ganharemos” Salvador Espriu in O Atlas Furtivo, de Alfred Bosch. (BOSCH, Alfred. O Atlas Furtivo. (2012). Lisboa: Livros do Brasil). Longe da cidade, evoco a cidade. Há tanto para dizer – eu próprio já disse tanto e, sobretudo, calei outro tanto.…

Ler mais

Crónica de Alexandre Honrado – A memória que nos esquece

Alexandre Honrado

  Crónica de Alexandre Honrado A memória que nos esquece   Pierre Nora, historiador e editor (especializado na área das ciências sociais), diretor na École de Hautes Études em Sciences Sociales, afirmou um dia que “só se fala tanto de memória porque ela já não existe”. Diria eu, se é assim, daqui a nada não me lembro do que fez surgir a vontade de escrever isto. Mas até lá, aproveitemos. Penso eu que a memória apagada pela distância e votada ao esquecimento procura constituir um lugar onde ficam as coisas,…

Ler mais