[sg_popup id=”24045″ event=”onLoad”][/sg_popup] Produtos fora de prazo Num certo momento da desenvolvimento humano (o que normalmente significa qualquer coisa relacionada com o mundo ocidental e neste mundo o bocado em que os ricos comparam os seus mealheiros e aplicações financeiras), nasceu o culto da instantaneidade. Isso significa avidez mas também uma forma precipitada da vida em que tudo se constrói em torno do que o desejo obriga a cada um: o cumprimento instantâneo do que se deseja. As tecnologias dilataram-nos: temos coisas a mais e mais coisas para ver…
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Crónica de Alexandre Honrado | Museus do que não se descobre
Museus do que não se descobre É atribuída a Alexandre o Grande, grego macedónio que liderou conquistas e um Império considerável, não maior porque a morte o colheu cedo, a seguinte frase: “ expansão sem defesa é inútil.” Como todos os poderosos, também Alexandre o Grande teve, depois de morto, elogios exagerados e críticas anormais. Herói para uns, monstro para outros, Alexandre é afinal o que a história regista sempre no discurso dos sucessores, porque foram deserdados ou porque receberam o que mais lhe convinha. Essa história, escrita pelos sucessores,…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Os meninos da Tailândia e a dor que somos
Os meninos da Tailândia e a dor que somos Há momentos que nos libertam do estado de mediocridade, do fútil em que nos atafulhamos. Um olhar de enorme coletivo para a Tailândia, à espera que um punhado de garotos sobrevivesse à traição que a sua própria aventura lhes reservou, é um desses momentos. Um grande punhado do mundo a olhar para mesmo sítio, para o mesmo registo noticioso e a partilhar a mesma angústia. A monstruosidade que é a nossa incapacidade de ajuda somada com uma outra, a da impossibilidade…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Meia dúzia de ideias ou coisa nenhuma
Meia dúzia de ideias ou coisa nenhuma Quando trabalhamos nesse ingrato equilíbrio que é o de analisar cientificamente a cultura (que é sempre humana, mas nem sempre humanista ou valorizadora do ser humano) nada parece limitar-nos, a menos que os conceitos se ergam diante de nós como muros. É de conceitos que falo agora, escrevendo sobre eles. O estudo da cultura pode colocar na lamela do nosso microscópio a fatia de pizza, coisa praticamente universal, a tatuagem da pele ou do muro da rua, o piercing, a mesquinhez do comportamento…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Porque não sou uma estante (nem um canapé)
PORQUE NÃO SOU UMA ESTANTE (NEM UM CANAPÉ) Tenho inúmeros livros na cabeça, alguns da capa à contracapa, sei-os quase de cor; li magras edições, revistas de quadradinhos, calhamaços e coisas ditas sérias, até o Anthony Giddens me ensinou que “para controlarmos o futuro, é necessário que nos libertemos dos hábitos e preconceitos do passado” – e todavia tudo isso não faz de mim uma estante. Já dormiram sobre mim – e nunca fui almofada ou cama. Já tive pessoas ao colo, algumas recém nascidas outras bem graúdas…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Como se morre na praia
COMO SE MORRE NA PRAIA Na minha crónica da semana passada, sobre o trágico acidente que vitimou um casal de turistas, de férias, na Praia dos Pescadores da Ericeira, local que, tal como eu, muitos portugueses já visitaram e olharam com demora retendo-lhe muitos pormenores, alguns comentários foram-me chegando. Num deles, uma simpática senhora dizia que não sabia onde eu – tratava-me por senhor – queria “chegar” com o texto. E eu não percebi, obviamente, onde é que a senhora quis chegar com o comentário que, aliás, arrebatou e…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Não sei dançar ao som da morte
NÃO SEI DANÇAR AO SOM DA MORTE Morreram duas pessoas na Praia dos Pescadores da Ericeira, caíram de um muro que acaba no passeio do Largo das Ribas e se precipita até ao areal, o mesmo de onde partiu a família real para o exílio, embarcando na barca Bomfim para alcançar o iate D. Amélia e, indo nele, procurando um novo mundo. Da praia da história e da felicidade dos risos de Verão e dos gritos dos miúdos ao entrar na água fria, da praia da ansiedade dos monarcas…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Não só o burrito vai à feira
NÃO SÓ O BURRITO VAI À FEIRA Como todos os anos, de há uns 30 a esta parte, dei comigo na feira do livro, sorrindo a leitores ou a compradores de livros, colocando dedicatórias com mais ou menos criatividade, uma delas ímpar – “dedique aos meus netos, que são oito, e todos ficarão contentes!” -, outras menos originais, mas sempre felizes, ao saírem do meu punho para parte incerta. Como todos os anos, não consigo deixar de me sentir observado – é confrangedor estar sentado numa mesinha e…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | A morte e outras coisas
A MORTE E OUTRAS COISAS Era outrora que nos davam um lírio e um canivete e uma alma para ir à escola. O mapa imaginário, onde não vinha a nossa idade. A poeta – Natália! – bem o sabia. Mas esse outro tempo definhou como definharam outros tempos e uma espécie de esperança – embrulhada em nostalgias e profundas ingenuidades – foi crescendo em nós e pensámos que ainda um outro novo tempo podia mesmo construir-se e, se não pudesse construir-se era a nós que nos cabia e alguma…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Nada ou alegadamente coisa nenhuma
NADA OU ALEGADAMENTE COISA NENHUMA Num texto de Desidério Murcho, filósofo português e professor na Universidade de Minas Gerais, no Brasil, saltou-me à vista uma pergunta formulada por Leibniz, filósofo alemão dos séculos XVII e XVIII: “Por que há algo em vez de nada?”. Sim. Porque é que há sempre alguma coisa, em vez da suave equidade da coisa nenhuma, do nada tranquilizador, da pacífica ausência de objetos, opiniões, sentimentos, atitudes? Não estrarei em disputa com as ideias de Leibniz, por minha incapacidade, nem irei à procura da intensa…
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