Crónicas de Jorge C Ferreira | Preocupações

Preocupações

I – Os Bancos.

Continuamos a despejar dinheiro sobre os bancos. Milhares, milhões, milhares de milhões. Quantidades que não cabem na nossa imaginação, por mais criativos que sejamos. Um dinheiro que, na verdade, já não existe. É algo que se passeia por um mundo virtual e que nos vai ludibriando. Hoje já não são necessárias pás para carregar o vil metal. Das acções já não vemos o papel. Os cofres estão a cair em desuso. Basta um “enter” e  milhões viajam pelos canais de fibra óptica e aparecem, como por magia, numa ilha qualquer. As acções mudam de mão antes de estarem pagas. O desvario, o descontrolo. As contas de ficção. Tudo maquilhado. Quanto branqueamento!

Os Bancos são um poço sem fundo. Todos os anos são encharcados com dinheiro. Paga sempre o contribuinte. Sim, deixámos de ser apelidados de cidadãos, agora chamam-nos contribuintes. Mal nasce uma criança é-lhe dado logo um número. Está agarrado até ao fim da vida. As “santas” finanças não mais vão largar a presa.

Há palavras que fazem escola. A saber:

O “risco sistémico” esse papão, criado pelos que mandam na massa para se defenderem a eles mesmos. Quantos cidadãos já viram o seu património delapidado apesar de todo o esforço que lhes foi pedido para evitar o tal risco. Um verdadeiro contrassenso;

As “imparidades” esse eufemismo que assenta, essencialmente, nas dívidas consideradas de cobrança duvidosa que existem nos bancos e cujas garantias não cobrem. Será isso? De novo é o contribuinte que paga. Não terá o pobre contribuinte, que tudo paga, ter direito de saber quem são os devedores que está a sustentar? Falam-se das coisas como se fossem abstrações. Por vezes temos a ideia que nos querem meter o mundo olhos dentro;

Já me custa falar e ouvir falar disto. Qual será o fim da história?

II – A Cultura.

Entretanto, ainda temos cultura neste País. Temos gente que ama o belo. Oficiantes de todas as artes que devemos amar. É com grande preocupação que vemos livrarias fechar. É com enorme desgosto que assistimos ao resultados da distribuição dos subsídios para as artes.

Na semana passada foi notícia que muitas companhias de teatro, orquestras e outras áreas com trabalho feito, apreciado e aplaudido, viram-se sem subsídios para continuarem o seu trabalho. Com certo espanto se verificou que várias zonas do País se viram afastadas destas escassas ajudas.

Sim, porque o orçamento para a cultura é de apenas 0,2%. É tempo de exigir o tão ansiado 1%. É tempo de não deixar cair esta bandeira. Para reinventar o Mundo precisamos de ser cidadãos cultos e atentos. Mais cultura significa mais economia. Economia com valor. Uma riqueza que também se mede em valores puros.

Talvez por isso ontem senti a necessidade de ir ao teatro. Soube-me tão bem. Gosto dos que se entregam à arte com amor. Não gosto de mercenários. Não fazem o meu tipo.

O Costa, o nosso primeiro, é um verdadeiro artista. Ou me engano muito, ou ainda vai sair disto tudo como o salvador das artes, o amigo dos artistas. Vai ser ele a “resolver” o caso. A apagar os fogos que conseguir. A tentar acalmar os mais indignados.

Vamos ver se não acaba tudo numa almoçarada à antiga  lusitana!

Como diz o fado:

“…houve beija-mão real e depois cantou-se o fado…”

Comigo podem contar para continuar a luta pelo 1%!

É tempo de deixarmos de ser apenas contribuintes. De passarmos a ser cidadãos inteiros. Temos de cultivar e expandir a cultura da exigência. Cumprimos, temos direito a ser exigentes. Exercer a cidadania!

Temos de dar a volta a isto.

“Para acabar.”

«Olha que tu hoje estás bravo! Cuidado contigo.»

Voz de Isaurinda.

«Tu sabes que as coisas têm de ser ditas.»

Respondo.

«Eu sei, e sei também como tu és. É a minha maneira de ver as coisas.»

De novo Isaurinda e vai, o pano na mão.

Jorge C Ferreira Abr/2018(165)

 

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24 Thoughts to “Crónicas de Jorge C Ferreira | Preocupações”

  1. natalia maria faria rodrigues

    A verdade dòi…a realidade também! Jà nascemos nùmerados, condenados a sustentar esses pecadores da gula, neste mundo muito doente!

    1. Jorge C Ferreira

      Obrigado Natália. Disse tão bem em poucas palavras. Certeira. Abraço

  2. Branca Maria Ruas

    Preocupações bem reais e intemporais.
    Nada entendo de bancos nem de banqueiros mas indigno-me com qualquer distribuição injusta de riqueza.
    Dar dinheiro a quem já tanto tem e cortar a quem tem pouco (ou nada…) é revoltante.
    A cultura não pode ser negligenciada!

    1. Jorge C Ferreira

      Obrigado, Maria. A eterna questão da redistribuição da riqueza. O tempo sonhado, o outro tempo. A importância da cultura. Abraço

  3. Isabel Baião

    E juntos gritando esperando que alguém nos ouça. Com a mudança seria de pensar que tudo ficaria melhor. Algo ficou mas não basta. Temos de continuar a lutar, a gritar para que o contribuinte tenha o seu retorno na saúde, cultura, na igualdade de direitos, na justiça. O nosso dinheiro vai e se vai não há dinheiro,respondem os nossos governantes. Então para onde foi? ?????. É mais uma vez agradeço mais este texto tão pertinente. Continuemos a manifestar a nossa insatisfação .

    1. Jorge C Ferreira

      Obrigado Isabel. Nunca baixar os braços. Continuar a lutar pela justiça, pela verdade. Sermos exigentes. Abraço

  4. Madalena

    Assim se mudam as coisas: Falando, exigindo! Gostei muito da expressão “Cultura da Exigência” , Bravo, Jorge, vamos a isso! Tenha uma noite tranquila e muito obrigada por este espicaçar das consciências. Um beijinho

    1. Jorge C Ferreira

      Obrigado, Madalena. Lutar para mudar. Saber exigir. Abraço

  5. Isabel Soares

    Que bons textos. Infelizmente sobre o que não se deveria passar. Vamos gritar. Vamos exigir.

    1. Jorge C Ferreira

      Obrigado Isabel. Tudo se passa, infelizmente. Temos de ser mais exigentes. Abraço

  6. Célia M Cavaco

    É urgente,há que entender que hoje e nunca prá manhã se pode dizer “Basta” .Bem diz a Mafalda,a criança impertinente que grita que o mundo está doente.Se fizermos silêncio compactuando para que nos deitem areia para os olhos seremos tão enfermos quanto o mundo que começa a ser aquele bicho papão que nos incutiam para comer e calar.Sou humanista,sou 1%,sou advogada de causas justas.Sou cidadã 100%
    Obrigada,Jorge.Aquele abraço irmão das causas nobres.Bj

    1. Jorge C Ferreira

      Obrigado Célia. Vamos ser Impertinentes. Exigir tudo. Não ter medo. Um enorme abraço

  7. Isabel Pires

    Pode contar com o meu 1% s bancos já nos roubaram mais. Abraço

    1. Jorge C Ferreira

      Obrigado Isabel. Vamos fazer uma causa dessa exigência. Abraço

  8. Raquel Lameirão

    Muito bom Jorge!!! Realmente, deviamos apoiar a cultura e desenvolver o emprego…..em vez de entregar dinheiro aos bancos…..

    Gente sem cultura não é incómoda….isso não há dúvida…..por isso a cultura é tão desprezada!!!!

    Abraço Jorge!!!

    1. Jorge C Ferreira

      Obrigado Raquel. Sim, as pessoas cultas ainda metem medo a muita gente. Vamos inventar outra vida. Abraço

  9. Ivone Teles

    Querido Jorge, quando pretendi vir à tua crónica, algo aconteceu e não conseguia ” puxar ” o que escreveste. De vez em quando voltava e acontecia o mesmo. Recebi a tua despedida de boa noite e voltei. Tudo normal. Isso é o mais importante.

    Quanto à primeira parte, meu amigo, eu que sou à partida contra o que se passa já há tempo demais e, acredito que em todo o mundo capitalista, com os Bancos, estou 100% de acordo contigo. Como tu ” já me custa falar e ouvir falar disto “.
    Sou dos que trabalharam uma vida poupando o que podia para um dia, em que necessitasse que cuidassem de mim e companheiro. Será que, como já aconteceu com tantos, olhamos com as mãos a abanar?

    Em relação à Cultura, sabes que é uma das minhas ” causas “. Ligada a Colectividades, Associações e Cooperativas e, ultimamente, integrando o Movimento” 1% para a Cultura “. Ainda é do bolso de nós, amantes das artes, que saem os fundos para os sustentar. Depois, pegámos ao meu filho a ” doença” e desempregado, voltou às Artes de Teatro e outras.

    Dizes e bem que deixámos de ser cidadãos, para ser contribuintes, nestes tempos que já nos lembram outros. Querem Cultura? Paguem-na. Gente culta é perigosa. Se não querem assim, emigrem.

    E conto contigo, como irmão que és, para não desanimar de lutar. Agora vou com a Isaurinda. Como ela te conhece. Beijinhos Jorge, Homem que sabe viver e lutar por um mundo melhor.

    1. Jorge C Ferreira

      Obrigado Ivone. Disseste tudo como sempre. Chega a ser indigno o que assistimos com os bancos. Uma vergonha. Quanto à cultura, vais-me ter ao teu lado nessa luta. Sabes que podes contar comigo. Abraço

  10. Ana Pais

    É imperativo exigirmos e colaborarmos com o que temos e podemos para a cultura. O teatro , as artes são o contributo de felicidade e inteligência dos cidadãos. Sem dúvida que o orçamento do Estado devia de ser muito mais de 1%. Obrigada , Mestre por mais um texto pertinente. Viva a Arte sempre ! Um abraço.

    1. Jorge C Ferreira

      Obrigado Ana. A cultura tem uma importância fulcral. Há gente a quem a cultura incomoda. Não podemos calar. Abraço

  11. Arlete Abano

    Sinceramente, já é tempo de dizer BASTA a injeção dos nossos recursos financeiros na banca !! Não há pachorra para tanta vigarice sem consequências !!

    1. Jorge C Ferreira

      Obrigado Arlete. Som, minha amiga, cansa. Pagam sempre os mesmos. Quem deve? ,Não nos dizem! Abraço

  12. Regina Conde

    Legítimas preocupações de um cidadão. Porque dás voz a cada um de nós mais não digo. Apenas, obrigada Jorge por este texto exigente. Um abraço e viva a Arte!

    1. Jorge C Ferreira

      Obrigado Regina. Sim, trmos de ser mais exigentes. Temos de amar o belo. Abraço

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