Estes tempos
Estes tempos de perder mundos e princípios. Este galgar de consciências apodrecidas. Estes sem-fim cada vez mais perto de nós. Vamos andando e falando para quem não nos ouve. Por vezes apetece desistir. Dizem-nos que o tempo é outro. No entanto a terra continua a rodar da mesma maneira. Nós continuamos por cá!
Aparecem pensamentos muito antigos a armar ao novo. Aparecem as botas cardadas. As fardas ensanguentadas. Os capitães do nada. As balelas mal contadas. A força da falsidade. Os pontos cardeais a chamarem-nos à atenção. Um mundo a caminhar para as calotas polares que se vão derretendo. Quero ver o meu gelo azul!
Há quem acredite nos “sound bites” e vá, alegremente, atrás das estafadas mordidelas. Nada a fazer. As pessoas têm outro modo de receber as notícias. Novos meios para as lerem. A notícia no minuto seguinte. A desgraça anunciada. Os milhares de associações que não conseguem responder aos acontecimentos. As contas duvidosas. Em quem acreditar?
Hoje comprei o Jornal da Manhã às três da tarde. O monte que lá ficou por vender era enorme. Cada vez se vende menos o Jornal em papel. Cada vez se olham mais para as manchetes e se lêem menos notícias inteiras. Com isso ganham os artistas das manchetes. A frase descontextualizada que baralha tudo. A morte do artista!
Um primo meu disse-me, no outro dia, da tristeza imensa que sentiu quando, de repente, o jornal que lia há mais de setenta anos deixou de publicar a sua edição diária em papel. As suas manhãs na companhia das notícias e do pequeno-almoço nunca mais foram iguais. As manhãs a morrerem suavemente. Assassínios permitidos! Processos arquivados!
Já assisti ao regresso do vinil. Essas obras de arte a que anunciaram o fim há muitos anos. Tiveram lugar cerimónias fúnebres com direito a missa cantada. Renasceu. É moda. É ouvida a sua música vinda na ponta de um diamante. As pausas. Algum ruído. O disco a rodar. A noite a crescer! Outra maneira de ouvir!
As fotos que não vemos. Os álbuns que acabaram. Um pequeno objecto e todas as fotos guardadas. Tudo visto num ecrã. Tudo a desaparecer no momento seguinte. Perde-se um desses objectos e perde-se o momento, um pedaço de vida. Como se nos ardesse a casa e tudo dentro dela. Uma coisa danada!
Os custos. Sempre o dinheiro. O dinheiro que abunda para uns e para determinadas instituições e falta sempre para outras coisas. Coisas que as “inteligentes” criaturas, acham de somenos importância. O medo que eles têm que as pessoas pensem!
Vamos contrariar a onda. Vamos gostar do que eles chamam “antiquado”. Vamos estar atentos e presentes onde eles actuam. Vamos fazer-lhes frente no seu ambiente. Vamo-nos desdobrar e conseguiremos desmontar as suas patranhas. Sabemos da força multinacional que temos para enfrentar. Lutemos com o que temos. Ousemos!
É agora o tempo. Tudo está a avançar demasiado rápido. Temos de travar a caminhada desta gente. Temos de o fazer antes que seja dolorosamente tarde. Está na hora!
«Sabes, este mundo mete-me medo. Vê lá no que te metes.»
Voz de Isaurinda.
«Ter medo, mas saber vencê-lo. Terei cuidado e tu estarás ao meu lado.»
Respondo.
«Olha que eu não duro sempre!»
De novo Isaurinda e vai, o pano na mão.
Jorge C Ferreira Outubro/2018(185)
Peço desculpa, podiam apagar o comentário repetido??? Enganei-me….Obrigado
Tanto conhecimento econsciência nas suas palavras, este ė o mundo que o Ser Humano atravės da sua dinâmica e transformação constante conseguiu criar, chego a lamentar pertencer a esta geração onde tudo acontece räpido demais para o meu gosto e sensibilidade…., Mas acredito que pode serdiferente, tal como eu muitos gostariam de ver aliado a este furacão de conhecimentos, de informação de tudo e de nada, de coisas e coisas para consumo imediato…., Um maior investimento na EDUCAÇÃO dos nossos sentimentos, no respeito pelo OUTRO assim como pelo legado que a NATUREZA nos premiou…….Obrigado pelo seu contributo nesta tarefa………..
Tanto conhecimento e conciência nas suas palavras…, Este é o mundo que o ser humano atravės da sua dinamica e transformação conseguiu criar, chego a lamentar pertencer a uma geração onde tudo acontece räpido demais para o meu gosto e sensibilidade, mas acredito que podia ser diferente, tal como eu, muitos gostariam de ver aliado a este furacão de conhecimentos, de tudo e de nada, de coisas e coisas para consumo imediato…, um maior investimento na EDUCAÇÃO dos nossos sentimento no respeito pelo OUTRO e pelo legado que a NATUREZA, nos premiou………Obrigado por nos “espevitar” e por a pensar nestas coisas………
Obrigado Rosário. A velocidade dos acontecimentos e dos não acontecimentos. A sociedade do desperdício. Vamos Ser para mudar. Abraço
É um sentir muito rápido a transformação do mundo que muitos não conseguem acompanhar e outros nem percebem como fazê-lo, fazendo conta de que “sim” para se destacarem. Nem os criadores dessas “modas” sabem do seu efeito por que, no laboratório ainda não há resultados.
Um abraço, Jorge.
Obrigado António. Grande alegria ler o seu belo comentário. Tem sido vertiginosa esta corrida para o “vazio”. Abraço
As suas crónicas são uma bênção. Partilho desse desencanto. Os tempos mudam é certo, mas para tudo torna-se imperioso limites e bom senso. Vivemos numa selva global.
Atraso civilizacional, que nunca imaginei ser possível.
Bem haja Jorge.
Aquele abraço.
Obrigado Fernanda. Estamos num retrocesso perigoso. Retrocesso a que muitos chamam modernidade! Vamos continuar inteiros. Abraço
A mim, que sou brasileiro, esses tempos metem-me mais medo ainda. Belíssimo texto Jorge, deu voz aos temores de muita gente… abraço!
Obrigado Dagoberto. Vamos resistir. Iremos vencer. Grande abraço.
Ao ler esta crónica lembrei-me do General Sem Medo…
Senti um grito de revolta …ao que não está bem…aqueles que se “acomodam”… não vamos ter medo e façamos cumprir o que ainda falta…somos muitos, mas o tempo vai passando.
Obrigado Idalina. Vamos seguir o exemplo dos que souberam resistir. Abraço
Fabuloso! Vamos continuar atentos e lutaremos com a força que temos e que o Jorge nos dá. Obrigada, meu amigo, um beijinho
Obrigado Madalena. Nunca desistir. Nunca baixar os braços. Abraço
Há sempre alguém que está connosco para avançarmos sem medo. Juntos, seremos muitos e teremos as vozes em uníssono para gritar que é altura de parar . Olhemos com carinho para valores que estão a ficar já perdidos nas dobras da memória .
Estou contigo, meu amigo .
Estendo a minha mão …
Obrigado Lénea. Lado caminharemos até que a liberdade seja inteira. Abraço
Querido amigo , adorei a tua crónica não só pelo conteúdo, mas também pela forma com que descreves estes mundos de agora. A maior parte com gente sem princípios, mas que produzem com as mais esfarrapadas mentiras, encantamentos que, multiplicados, levam as pessoas a péssimas escolhas. Ter-te entre os amigos é uma bênção que nos acrescenta. E todos juntos não permitiremos que o que era tão humano, em que ter a palavra bastava, em que os princípios eram invioláveis, se perca, Ter medo é normal senti.lo, mas ” venceremos, venceremos, com as armas que temos na mão/ venceremos, venceremos a batalha da revolução.
A Isaurinda será a companheira certa. Beijinhos meu querido Jorge. <3 <3
Obrigado Ivone. Tenho de te agradecer tanto a tua amizade. Os teus comentários são a generosidade pura. Abraço
“Temos” um título de uma possível manchete. Alguns dirão com a máscara da avestruz pregada no rosto,temos? outros dirão alto e bom som para quem queira ouvir: com o mal dos outros posso eu bem…e levam a vida a bom porto.Nós que pertencemos ao grupo do “Temos” vivemos na corda bamba em desassossego constante. Temos nós meu muito amigo o olhar para um longínquo horizonte as cores da esperança e…acreditamos…
Abraço meu amigo!
Obrigado Célia. Ser, essencial é ser. Saber os limites, fazer o caminho. Abraço
Por instantes a sensação de uma força contagiante. Dizes “temos”. Medo sentimos sempre. Existem cada vez mais motivos. Ousemos enfrentá-lo. Somos tantos e o tempo passa rápido. Obrigada pela força, estares atento, por estares aí. Abraço imenso Jorge.
Obrigado Regina. Sim, vamos enfrentar tudo. Vamos conseguir mudar as coisas. Vamos abraçar outro tempo. Abraço