Estranhezas
I
“No Espelho”
“Serei da ordem
lunar
do espaço errante…”
(Maria Teresa Horta-Estranhezas. Pag. 16)
Escrever porque a beleza de outras palavras celebra a
vontade de ser
Porque há voos de poetisa que nos fazem descobrir asas
escondidas
Verso a verso
Ilusão a ilusão
Golpe a golpe
as espadas em punho
um encanto que cresce
A poetisa por vezes feiticeira
As palavras por vezes fogo
O corpo sempre corpo
O fulgor sempre inteiro
Meia-noite e uma fogueira
Assim seguimos as mãos dos mágicos anéis
II
“Da Paixão”
“Quero a paixão ardente e árdua
incendiando o corpo…”
(Maria Teresa Horta-Estranhezas. Pag. 62)
As entranhas das estranhezas
o sofrido desejo
As veredas do profano
A escrita calada
a calada euforia
A via sacra
Os corpos cativos
as cativas alegrias
A cruz que se carrega
Um mapa de estranhezas por encontrar
Um poema inacabado
Uma cidade de claros e escuros
Um espelho que se nega a cumprir a sua missão
O desafio imenso de nos encontrarmos
Tantas estranhezas
III
“Da Beleza”
“Tu és a beleza!
Afirma ela num grito…”
(Maria Teresa Horta-Estranhezas. Pag. 100)
A estranheza deste espaço onde as palavras se encantam e
encontram
Palavras Poemas
palavras de voar
A mágica transformação
o voo
o canto
o arrasto
A dor que nos mostra a beleza
o rasgo
a subtileza
O aparo da rara escrita
Estranheza encantada
Estranheza gritada
A poetisa do verso único
A palavra descoberta
O corpo inteiro da poesia
Tudo o que se Ama
IV
“Alteridades”
“De estranheza e sobressalto
incautas no seu sentir …”
(Maria Teresa Horta-Estranhezas. Pag. 148)
A estranheza do diferente
procurar as águas perdidas
o lugar onde tudo se quebra
O ímpeto dos desejos desesperados
o labiríntico desencanto
uma figura de uma história de sempre
Quebram-se espelhos e morrem rostos de susto
abre-se o mundo e surge gente de novo nascida
são consagradas alvas e
são imoladas algumas virgens
A busca do diferente não cessa
vidas
véus
cordões
Uma nova cantata
V
“Tumultos”
“É preciso saber deixar
o tumulto
chegar ao coração…”
(Maria Teresa Horta-Estranhezas. Pag. 186)
Os heróis e a paixão
o prazer e a dor imensa
o fulgor, a falta de ar
as deusas a anunciarem todos os pecados
A não estranheza do imenso tumulto
uma dolorida apreensão
o sentido circular das vidas suspensas
Suspensas são as penas que os grandes amores constroem
os vértices que a paixão arredonda
as cores arrojadas do prazer suavizam os
“pecados”
Escrevem-se corpos flagelados em linóleos
gravuras nascem de prensas cansadas
corpos de desgraças autoinduzidas
sinais de batalhas sem fim
As tumultuosas paixões que teimam em ficar
rasgões que crescem num teatro de emoções
VI
“Ferocidades”
“Passo a passo
deslizando no tempo
aproxima-se e cisma…”
(Maria Teresa Horta-Estranhezas. Pag. 236)
Uma fogueira no meio da selva da vida
afastar os animais ferozes
os grandes felinos cheiram as vítimas
estudam pensamentos
Tochas em fogo tentam afastar a vileza
de novo uma estranheza que cresce
uma fúria que se adensa
labaredas encantadas
choro e riso
Os incandescentes sentimentos
toda a maneira de sentir e viver
sentir todas as saudades do mal e do bem
viver as inconsequentes intenções
Saber das fraquezas o sabor inteiro
provar os dissabores e as calúnias
Assassinar a torpeza
VII
“Diante do Abismo”
“Escrevo como quem desenha
uma asa
uma estrela-cadente…”
(Maria Teresa Horta-Estranhezas. Pag. 272)
Quando tudo parece ruir
o desfalecimento quase a acontecer
o vazio intenso
os corpos despedaçados
Sentir estar à beira do quase nada
De um deserto sem fim
as rosas feitas pedra
a sede assassina
O fim a crescer do umbigo da morte
a mágoa
o pânico
o não acreditar
Sobreviver a todas as tragédias
levantar-se de novo
Enfeitar a vida
Assim li e senti “Estranhezas”, o mais recente livro de Maria Teresa Horta. Não deixem de ler este belíssimo livro de Poesia.
Título: Estranhezas
Autora: Maria Teresa Horta
Editora: D. Quixote
Jorge C Ferreira Fevereiro/2019(196)
Belo o teu texto Jorge C. Ferreira. Enfeitar a vida!
Obrigado Claudina. Fazer a vida andar. Abraço
Gostei muito da tua leitura.
Sintonia perfeita com os poemas de Maria Teresa Horta.
A paixão tumultuosa, incandescente. O amor inteiro, a vida feita poesia, em crescendo. Verso a verso.
Obrigado Sofia. Verso a verso se inventa o amor. Abraço
Certamente irei comprar! Obrigada pela sugestão. Um beijinho
Obrigado Madalena. Tenho a certeza que vai gostar. Abraço
Obrigado Ivone. Que belo é o teu comentário. Tão lindo. Tão empenhado. És tão generosa. Abraço
Leste, sentiste e acrescentaste emoção aos poemas.
Criaste a tua própria poesia.
Que grande e bela homenagem soubeste fazer a Maria Teresa Horta!
Obrigado Maria. Que bom teres gostado. Grato por toda a tua disponibilidade. Abraço
Que coincidência meu amigo,estava eu divagando pelo poema:Trajecto na Escrita,da nossa Teresa Horta, e,ainda folheando pela Estranhezas de muitas páginas quando me deparo com a crónica de hoje. Espantosamente…não há coincidências quando comungamos o mesmo gosto pela da leitura deste livro maravilhoso.Grata meu amigo por me fazeres sentir perto neste sentir de leituras nossas. Abraço!
Obrigado Célia. Leituras que nos inspiram e transportam para outras levezas. Abraço
Quando as palavras e o sentir de dois belíssimos poetas se cruzam, dá nisto: uma emoção, e um duplo encanto.
Obrigada, Jorge. Tanto e tão belo, tudo o que nos dás! Adorei.
Obrigado Manuela. Sou um mero escrinhador a tentar passar a genialidade de uma senhora a que chamamos Poesia. Abraço
Jorge, é um vendaval de emoções!! Ler Maria Teresa Horta e Jorge C Ferreira de uma assentada só. Porque tu, sabes melhor que ninguém ler a tua (e nossa) senhora poesia. Uma maravilha que nos ofereces! Que arte! Que privilégio o nosso!
Abençoados sejam !!!
Obrigado Cristina. Sim Teresa é a Poesia. Uma dádiva que todos os dias nos oferece beleza. Abraço
Existem mãos lindas. Dedos com anéis que brilham como se fossem reflexo das palavras deste livro “Estranhezas”. Outras mãos escrevem com a delicadeza e sensibilidade de sentir. Belíssimo o que nos deixas a extraordinária Senhora de “Ti” Maria Teresa Horta. Parabéns Jorge.
Obrigado Regina. Que bom o qur escreveste. Só me resta enviar-te um abraço
Querido amigo, que escolha fabulosa. Ainda não tenho o LIVRO e nada li a seu respeito, senão o que ofereceste nesta bela crónica. Gosto muito da Teresa e é certo que comprarei o Livro. Tudo o que dizes sobre ele mostra bem a identificação que tens com o sentir da Poetisa. Aliás, na maioria do que escreves habitualmente, nas reflexões, ou textos mais mágicos, está o teu sentir sobre o AMOR e o que une com esse sentimento maior dois Seres, está esse fio de desejo e sonho, de experiência e corpo físico, atracção recíproca sem ” peias “, obstáculos, desnecessárias, vergonhas, condenações, penitências desnecessárias. Todo o AMOR é puro e transparente para quem o sente. Que poderia eu dizer além do que já expuseste ? ” Sobreviver a todas as tragédias ” e “enfeitar a vida “, é o que resta a todos os que AMAM. P.S.__Não te esqueças de dar um beijo meu à Isaurinda.