Amores de verão
por Jorge C Ferreira
Mais um verão. Mais uma emoção. Um calor que traz recordações. Uma água que aquece e uma luz que não se apaga. Noites de ir para a rua. Amores de verão. Amores canção e lembranças do primeiro beijo. Pela primeira vez o sabor de alguém. Os olhos fechados. A completa ilusão.
Sabíamos os caminhos das rochas e o sabor das algas marinhas. Éramos quase só sal e éramos tanto. Amor intenso. Sabores únicos. Sabores que só o verão nos oferece. Os lábios a crescerem para outros lábios. Passear de mão dada.
Saber a temperatura do querer. Sentir a força do verbo amar. A paixão assolapada. Deambular por todas as vertentes da palavra Amor. Aves agitadas a anunciar a tua chegada. Corações alvoraçados. Quando tudo parece eterno. O dia a dia que se repete e não cansa.
As noites de todas as ilusões. As esplanadas cheias. A praia à noite. Os beijos que nos marcaram para sempre. Um banho à meia-noite. A lua que nos tenta. A atracção fatal. Os corpos despidos que se juntam. Uma música nascida para aquele momento. A vida a acontecer.
Tomar banho com os jeans. Uma maneira de os branquear. Esperar que secassem sob aquele sol inclemente. Sol que nos bronzeava. Os corpos jovens a ficarem cada vez mais apetecíveis. Calores fatais os que irradiavam. O desejo a crescer de uma forma desabrida. O sol do nosso amor.
Nós a julgarmo-nos imortais. Arriscar, por vezes, demasiado. Um barco do avesso e o mar a ficar longe. Arriscar ultrapassar os limites concedidos. Saber o que significa a palavra aventura. Ver-te cada vez mais e tu saberes de mim todo. Assim acontecia.
Dizer-te adeus e não saber se ia ser o último encontro. O verão que acaba e os muitos amores que são enterrados à beira-mar. Meu amor tanto, meu amor primeiro, meu sal inteiro que morreste na última onda nocturna. Minha oferenda, meu encanto perdido, que será feito de ti? Para que lugar partiste? Tanta carta sem resposta. Outras tantas devolvidas ao remetente.
Demorou a perder o teu sabor. Custou não saber de ti. Não comer mais gelados contigo. Os sabores diferentes que escolhíamos. Sabores que trocávamos no beijo seguinte. Uma vida que parecia não ir acabar. Sabíamos que tudo isto era possível acontecer e não queríamos acreditar. Levar o sonho o mais longe possível. Mesmo quando viessem as marés vivas.
Outubro trazia uma outra vida, um outro lugar. A cidade grande e uma outra roupagem. As folhas começavam a cair das árvores e o verão a ser esquecido. Enroupávamo-nos. Tínhamos outras companhias. Reiniciávamos a outra maneira de estar. Tudo ficava tão diferente. A liberdade minguava em todos os sentidos. O tempo ficava mais escuro e parecia que íamos perdendo brilho. As obrigações. Cumprir as normas apesar da rebeldia.
Novos amores que se encontravam. Os beijos tinham diferentes sabores. As camisolas de gola alta. Os corpos tapados. Uma diferente forma de viver. Os horários, os testes, os pontos e os exames. Os fins de semana eram o fim do sufoco. Os programas que se marcavam. Procurar a alegria possível entre a chuva e os dias pequenos.
Esperar ansioso pelo próximo verão.
«Deviam ser boas as maroscas que aprontavas nesses verões!»
Fala de Isaurinda.
«Era um miúdo ávido de conhecer tudo o que era novo. Só isso.»
Respondo
«Sim, sim. Eu conheço-te bem.»
De novo Isaurinda e vai, um sorriso trocista.»
Jorge C Ferreira Agosto/2022(357)
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O que me vem à memória, a Nazaré, um Picadeiro. Uma barraca onde todos nos juntávamo-nos de toalha pelas costas a jogar às cartas. E depois os banhos a furar e galgar as ondas perigosas sem medos. Aventureiros.
Depois veio Lisboa e um tempo novo. O trabalho, cresci à pressão como um pinto de aviário. Sempre com muitas responsabilidades determinadas por um regime que todos vivemos em que assinamos declarações que tinham números dizendo que éramos contra o comunismo, etc, etc, até que veio 1974 e todos respirámos Liberdade.
Quando partir deste mundo posso dizer que vivi essa época muito Feliz em todos os aspectos. Livre, Jovem e Bela, Muito amada!
Obrigado Fernanda. Muitos de nós fomos obrigados a crescer à pressa. Mas aquele tempo que vivemos ninguém nos tira. Somos a soma de tudo o que vivemos. Abraço
Belo filme que vi e segui com atenção. Amor intenso e tanta ilusão, tanto sabor a sal. “O sal é o sabor de todos os sabores.” Eu saboreei este filme que adorei. Vi alguns na minha juventude, mas este teve um sentido especial para mim. Foi vivido por quem muito me diz.
Também lamentava sempre, o final das férias, passadas com primos e filhos de amigos da família, que sempre me deixava alguma saudade.
Com a chegada de Outubro, começavam os nossos deveres. O estudo.
Foi lindo o que li, obrigada pelo belíssimo momento. Adoro a sua escrita, sempre de palavras correctas e doces, como a sua poesia.
Abraço e gratidão.
Obrigado Maria Luiza. Minha Amiga tão generosa. Um tempo de intensa liberdade. Grato por ler, ter gostado e comentado. Sempre uma alegria. Abraço grande
Gostei muito, meu querido. São férias de Verão que já só relembro. mas é sempre muito bom ler-te. Contigo viajamos. Beijinhos ternos, não esquecendo a Isabel e a Isaurinda. Beijinhos muito amigos e doces.
Obrigado Ivone, minha querida Amiga/Irmã. A tua presença é sempre tão gratificante. Era um tempo inesquecível. Beijinhos
Que bela viagem à idade dos sonhos. Feias grandes. Regressei a uma praia pequena, mas tão bela, perto da aldeia onde vivia. Grupo maravilhoso a que se juntavam os amigos que vinham da cidade grande..
Jogos na praia, muita alegria. A praia era nossa, o sol brilhava mais e o mar era mais azul. À noite, sob o manto de estrelas, tocava-se viola e as vozes faziam magia. A música francesa estava no auge. Por momentos pareceu-me ouvir “tous les garçons e filles de mon age “… cantada por Françoise Hardy. Olhos nos olhos mão na mão. Era o despertar de sentimentos. Tudo se vivia intensamente.
Como é bom ter tão belas recordações nesta fase da vida em que os sonhos deram lugar a incertezas.
Obrigada, Amigo, por dar cor à vida com os seus textos maravilhosos. Grande abraço.
Obrigado Eulália. Tempos que não se repetem. O “Salut les Copains”. As escapadelas furtivas. Os beijos roubados. Grato pela sua presença. Abraço grande.
Beijos com sabor a maresia.
Beijos na barraca de lona, às listas.
Beijos pela manhã e pela tarde fora.
Beijos misturados com areia.
Beijos pingados de gelados de morango e baunilha.
Beijos molhados pelo princípio do desejo.
Pela descoberta dos corpos presos nas redes dos amores breves e quase sem história…
Beijos nas dunas sob um cobertor de estrelas. Cadentes.
Beijos desenvergonhados.
Beijos usurpados.
Beijos de pastilha elástica.
Beijos de risos e abraços.
Beijos de passagem.
Beijos jamais esquecidos.
Com um beijo casto, meu poeta querido, te confesso o quão agradável foi recordar férias passadas com “amores” quasi desconhecidos. Arrojados.
Clandestinos. Alguns sem nome. Outros de surpresa. Outros que deixaram marcas profundas.
Outros. Ainda com sabor a pouco..
A tua crónica de hoje, inesperada mas nostálgica fez-me voltar aos lugares onde deixei… beijos!!!
Foi tão bom…
Obrigado Mena é isso tudo. Como dizes tão bem. Como sabem vem os teus comentários. Eternamente grato. Abraço enorme
Amores de verão eram corações em constante alvoroço. O água do mar tinha mais sal, os desenhos possíveis na pele tisnada pelo sol. Descobrir as sensações e as saudades. A Isaurinda é um encanto, adoro como te repreende. Amor perfeito. Abraço Jorge.
Obrigado Regina. Sim os corações aguentavam coisas tremendas. Os amores que, muitas vezes, ficavam enterrados na areia. Grato por tudo. Abraço grande
Perdoa-me o humor – Foste “apanhado” pela Isaltina!
As recordações que trouxeste, jogadas na minha memória encontram-se em momentos comuns.
Lavar as jeans na praia , para ficarem claras , ou cor de uso como se dizia. E o meu pai zangadíssimo a perguntar porque estava a dar banho às calças? Num segundo ouvi em som de castigo – Nem que fiquem claras e roçadas, nunca mais te compro outras.
Tempos de amores, onde cada esquina da nossa vontade era um mar de surpresas que desvendávamos com simplicidade, não querendo acreditar em soluções difíceis.
Pleno de razão o teu escrever – “Sentir a temperatura do querer.”
Grato pelo teu desabafo , onde recordei momentos iguais.
Um grande abraço!
Obrigado José Luís. Os nossos tempos. Os tempos em qye nos julgávamos imortais. Uma alegria imensa. A minha gratidão por estares sempre aqui. Este espaço é nosso. Abraço grande
Tempos idos que perduram na memória da adolescência. Falo por mim, tudo me era proibido, e, como tal assim que me apanhava na Manta Rota (Cacela) algarve fazia das minhas, aí sim, eu era uma adolescente descomplexada, para mais sentia-me a menina da cidade. Claro que nessas férias era eu e uma prima bem mais velha que me levava aos bailes de verão junto à praia. Bons tempos e lugares só meus, tão meus que ainda hoje partilho dessas cumplicidades com primas de outros lugares onde me sentia livre.
Que bom querido amigo, pela tua crónica também consegui viajar pelas minhas lembranças. Obrigada, abraço!
Obrigado Cecília. Que bom estares de novo por aqui. As férias da nossa alegria. Um tempo único. Muito grato. Abraço enorme