Livros proibidos
Por Alice Vieira
Todos sabemos que, durante a ditadura, eram censurados jornais, revistas, teatro, correspondência, etc. — mas fala-se muito pouco dos livros proibidos E se os havia!
Ainda me lembro de uma enorme lista de livros proibidos — sem ninguém perceber por quê.
Uns não eram totalmente proibidos, mas tinham muitas frases cortadas. Bastava escreverem a palavra ”vermelho” — que, para os censores era sinónimo de comunista.
Outros relatavam simplesmente a vida das pessoas, como, por exemplo, ”Cerromaior “ de Manuel da Fonseca, cuja accão se passava no Alentejo.
Houve proibições que deram muito que falar: a “Antologia de Poesia Erótica e Satírica”, organizada por Natália Correia e editada por Fernando Correia de Mello; as “Novas Cartas Portuguesas”, de Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa e Isabel Barreno (que meteu polícia, tribunais, ameaça de prisão, etc ) e “Luuanda”,de José Luandino Vieira que, por ter sido premiado, levou à completa destruição do edifício da Sociedade Portuguesa de Autores e à prisão de todos os membros do júri. Só porque Luandino era de Angola e lutava pela libertação das colónias. Pela libertação da sua terra.
E não eram proibidos apenas livros em língua portuguesa: aos livros estrangeiros acontecia a mesma coisa: nem pensar em encontrar por cá livros de Jorge Amado, Nitzsche, Henry Miller, D.H.Lwrence, etc
E a lista de autores portugueses com obras proibidas é tão grande — Aquilino Ribeiro. Manuel Alegre, Miguel Torga, Alves Redol, Soeiro Pereira Gomes, José Cardoso Pires, Orlando da Costa, Maria Archer (que teve de ir viver para o estrangeiro por não conseguir sobreviver aqui…) etc., etc. — que temos de parar.
Alice Vieira
Atualmente colabora com a revista “Audácia”, e com o “Jornal de Mafra”.
Publica também poesia, sendo considerada uma das mais importantes escritoras portuguesas de literatura infanto-juvenil.
Pode ler (aqui) as restantes crónicas de Alice Vieira