Crónica de Alice Vieira | Lembram-se dos Ballet Rose?

 

Lembram-se dos Ballet Rose?
Por Alice Vieira

 

Se há programa que eu nunca perco na televisão são as transmissões da Volta a Portugal.

Sempre gostei muito de ciclismo, desde os tempos do Alves Barbosa que, para além do mais, era um galã e até foi personagem principal de um filme, “O Homem do Dia”, realizado em 1958 por Henrique Campos. Do elenco faziam parte grandes atores daquele tempo como, por exemplo, Maria Dulce, Costinha, Armando Cortez, Alina Vaz, Mário Pereira, e outros. Foi um grande sucesso, mas  uma grande porcaria. Acontece.

Voltemos ao ciclismo. Já não sou do tempo do José Maria Nicolau, mas lembro-me sempre de um poema que o Ruy Belo escreveu, quando ele morreu, e que começa assim:

“José Maria Nicolau fugiu. Quem o apanha?

Nunca pedalou tanto como agora.

Decerto vai chegar antes da hora.

A etapa era decisiva e está ganha”,  etc… .

Eu sou mais do tempo do Joaquim Agostinho e do Marco Chagas.

Quando eu escrevia sobre desporto no jornal, o que eu mais gostava que me mandassem fazer era seguir a Volta. Claro que o jornal mandava sempre um jornalista desportivo—e depois outro para fazer “os folclores”, como se costumava dizer.

Lembro-me de um dia em que o Joaquim Agostinho se enganou no percurso, andou uma data de quilómetros e depois mais tarde, quando reparou, voltou para trás,  fez o percurso certo… e chegou em primeiro lugar!

E o Marco Chagas um dia chamou-me a atenção para um grupo de mulheres que estava sempre à beira da estrada a vê-los passar, na zona de Mafra. E o que faziam?  O grupo estava sentado, sempre a olhar a ver se viam o pelotão — e, quando eles apareciam,  elas viravam-lhes sempre as costas até eles desapareceram na estrada. Depois pegavam nos bancos onde tinham estado sentadas e iam-se embora. E nunca falhavam uma Volta.E sempre se comportaram assim.

Nesses tempos todos nós, jornalistas, acompanhantes da volta, etc,  juntávamos dinheiro para darmos uma prenda ao ciclista que chegasse—coitadinho… — em último lugar  na terrível  etapa da Torre, na Serra da Estrela. E ele era levado aos ombros, uma alegria.

Será que essas coisas ainda acontecem agora?


Alice Vieira
Trabalhou no “Diário de Lisboa”, no“Diário Popular” e “Diário de Notícias”, na revista “Activa” e no “Jornal de Notícias”.
Atualmente colabora com a revista “Audácia”, e com o “Jornal de Mafra”.
Publica também poesia e é considerada uma das mais importantes escritoras portuguesas de literatura infanto-juvenil.

Pode ler (aqui) as restantes crónicas de Alice Vieira


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