Crónica de Alice Vieira | Lá vêm os mascarados

Alice Vieira

Lá vêm os mascarados

Por Alice Vieira

 

E pronto, daqui a dias lá vem mais um carnaval.

Claro que há quem ande mascarado o ano inteiro, Trump, por exemplo, anda para aí mascarado de presidente dos EUA quando toda a gente sabe que ele é apenas um palhaço — muito bem pago.

Mas adiante.

Todos os que me conhecem sabem que eu detesto o carnaval. E isto vem desde muito criança. Ou seja: nunca me lembro de ter gostado do Carnaval.

Eu explico.

As tias que me criavam– que não tinham nada que fazer– passavam tardes inteiras no Museu de Arte Antiga, em Lisboa, a olharem — e a tentarem copiar num papel — os fatos de damas antigas que viam nos quadros em exposição.

Depois levavam os desenhos à modista donde gastavam, e ela tentava fazer um fato igual àquele. A seguir alugavam uma cabeleira e enfiavam tudo aquilo em cima de mim.

Depois levavam-me ao Politeama — que era o único teatro que fazia espectáculos de carnaval e organizava concursos de máscaras, com prémios importantes. Claro que—ao contrário dos outros miúdos que se divertiam à brava a atirar saquinhos uns aos outros — eu não me podia mexer, para estar perfeita na altura do desfile pelo palco. Além disso, lembro-me que a cabeleira me dava imensa comichão na cabeça—mas nem pensar em tocar nela , quanto mais enfiar a mão por baixo dela para me coçar.

Um tormento.

E era sempre eu que ganhava

E o que era o prémio? Era mesmo um grande prémio: uma frisa, durante um ano inteiro, para todos os espectáculos do teatro.

Se fosse hoje, chamaríamos a isso exploração do trabalho infantil — porque, evidentemente, dada a minha idade, eu não podia assistir a espectáculo nenhum. As minhas tias é que lucravam com tudo.

E isto prolongou-se até eu já ser crescidota…

Por acaso agora, que vivo perto de Torres Vedras, até nem desgosto do Carnaval e gosto muito de ver o desfile — porque são adultos, normalmente os homens mascarados de mulheres e vice-versa.

É mesmo uma paródia.

E, como todos os meus amigos sabem — para a paródia estou sempre pronta!

Divirtam-se !

 

Alice Vieira


Alice Vieira
Trabalhou no “Diário de Lisboa”, no“Diário Popular” e “Diário de Notícias”, na revista “Activa” e no “Jornal de Notícias”.
Atualmente colabora com a revista “Audácia”, e com o “Jornal de Mafra”.
Publica também poesia, sendo considerada uma das mais importantes escritoras portuguesas de literatura infanto-juvenil.

Pode ler (aqui) as restantes crónicas de Alice Vieira


 

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