Crónica de Alice Vieira | Estrela da Tarde

Alice Vieira

 

Estrela da Tarde
Por Alice Vieira

 

No teatro do Casino Estoril estreou, há muito pouco tempo, uma peça com os Irmãos Feist

Agora que, com alguma cautela, já se pode ir ao teatro, chamo aqui a atenção para que todos os que puderem, se desloquem ao Estoril para a ver.

O tema da peça é a vida e obra de Ary dos Santos.

E tanto os Irmãos Feist como Ary dos Santos me dizem muito

Antes de mais os Irmãos Feist são “os meus meninos”. Eu podia ter sido mãe deles… é verdade … Eu e o Luis Feist – pai deles —fomos namorados no nosso tempo na Faculdade de Letras. Depois a vida deu muitas voltas e deixámos de nos ver. Mas ficámos sempre muito amigos. Lembro-me de, no dia do enterro (morreu tão novo…) o seu irmão Pedro me dizer “ele gostava muito de si”.

Ele, a mulher (a locutora Manuela Paulino, que também morreu muito nova) e os filhos — o Nuno e o Henrique — viveram algum tempo em Londres. Quando regressaram, voltei a dar-me muito com eles—e pronto, daí ficaram “os meus meninos”

E agora vamos ao Zé Carlos. Ou seja,  José Carlos Ary dos Santos. Eu era muito amiga dele. Ele vivia na Rua da Saudade (extraordinário nome de rua para um poeta!) e hoje tem uma rua com o seu nome na freguesia de Benfica.

Eu ia muitas vezes a casa dele. Era uma maravilha ouvi-lo recitar! O Ary fazia tudo bem!

Poesia, publicidade…

“ Sagres, a sede que se deseja…”

“Minha lã, meu amor..”, da Woolmark

— Estes são apenas alguns slogans de que agora  me lembro.

Ele conhecia muito bem a minha história (então muito complicada…) com o Mário Castrim… Sabia que eu ia ter com ele à tarde, a um café do Bairro Alto, mas que às vezes não era possível… e um  dia, lá na Rua da Saudade, deu-me um papel e disse. “é para ti e para o Mário.”

Era um poema lindíssimo, chamado “Estrela da Tarde”

“Era a tarde mais longa

de todas as tardes que me acontecia

eu esperava por ti, tu não vinhas

tardavas, e eu entardecia…” etc

Alguns dias depois disse-me : “o chato do Fernando Tordo quer uma cantiga com uma letra minha… e meteu-se-lhe na cabeça que tem de ter a palavra ”tarde… ”. Maluqueiras… ”. Fez uma pausa e acrescentou: “posso dar-lhe o poema que fiz para ti?”

Claro que lhe disse que sim, e o Carlos do Carmo cantava–a maravilhosamente.

Não digam nada a ninguém, mas ainda hoje, tantos anos depois, não a consigo ouvir sem me emocionar. Se puderem, vão ao YouTube e oiçam-na.


Alice Vieira
Trabalhou no “Diário de Lisboa”, no“Diário Popular” e “Diário de Notícias”, na revista “Activa” e no “Jornal de Notícias”.
Atualmente colabora com a revista “Audácia”, e com o “Jornal de Mafra”.
Publica também poesia e é considerada uma das mais importantes escritoras portuguesas de literatura infanto-juvenil.

Pode ler (aqui) as restantes crónicas de Alice Vieira


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