E viva o teatro
Por Alice Vieira
Todos devem ter sabido da homenagem que foi feita ao actor Ruy de Carvalho na Casa da Cultura da Ericeira.
E nessa altura eu pensei que, em miúda, andava sempre nos teatros! E que bom que foi! Que bom que foi ter conhecido então a Amélia Rey Colaço (ela também gostava muito de mim e era ela que às vezes me telefonava para eu ir a sua casa), a Marianinha (era assim que toda a gente chamava à Mariana Rey Monteiro), a Beatriz Costa (que, no fim de cada espectáculo afastava um bocadinho a cortina e dizia “adeus meninos, até amanhã!”) a Josefina Silva (que era muito engraçada e me contava todas as maroteiras do marido…), a Irene e a Elvira Velez, essas através do Igrejas Caeiro (respetivamente marido e genro de ambas), a Maria Matos, a Eunice Muñoz, a Carmen Dolores, o Zé Viana, a Palmira Bastos (e que bom que foi conhecer aqui, na Ericeira, a neta dela, a minha amiga Ana Bastos), etc. — e muito mais tarde, já adulta, a Maria do Céu Guerra, o Fernando Gusmão, o João Lourenço, a Rita Lello, o Carlos Avillez (com quem cheguei a trabalhar, escrevendo uma peça para o TEC), Agostinho Brito de Macedo no TIL (Teatro Infantil de Lisboa) onde também tive uma peça em cena, durante mais de um ano!
Como jornalista entrevistei muitos actores e dramaturgos, entre eles o Bernardo Santareno (ou seja, o meu amigo António Martinho do Rosário ) e muitos outros. Os mais difíceis de entrevistar eram a Eunice Muñoz (que respondia consoante os maridos que tinha), e a Hermínia Silva que, quando eu lhe fazia uma pergunta, berrava para o marido, que estava ao fundo da casa,“ ó Sr.Guerreiro, o que é que eu respondo?!”
E também terrível de entrevistar, embora numa outra área, era a pianista Maria João Pires. Aí não havia nada a fazer. Ela aparecia sempre com o marido da altura, sentava-se e nunca abria a boca, era sempre ele que respondia. Um dia aborreci-me e fui-me embora sem acabar a ”entrevista”.
E agora eu ficava para aqui a falar, porque histórias destas, relacionadas com o teatro e os actores, não me faltam.
Remato com uma história que se passou com um espectáculo feito por amadores.
Representavam a “A Severa”, de Júlio Dantas. E naquela altura em que a Severa está quase a morrer, o Marquês de Marialva aproxima-se dela e pergunta “Como vais Severa?”
Pois. Nesta peça de amadores, o texto foi seguido à risca até aí… O pior foi depois…
–Então, Severa, como vais?”
–“Vou mal, vou muito mal!”
–“Deixa lá, vais tu, vou eu, vai toda a gente!…”
Mas ainda cá hei-de voltar com mais teatrices.
Alice Vieira
Actualmente colabora com a revista “Audácia”, e com o “Jornal de Mafra”.
Publica também poesia e é considerada uma das mais importantes escritoras portuguesas de literatura infanto-juvenil.
Pode ler (aqui) as restantes crónicas de Alice Vieira