E viva o Santo António
Por Alice Vieira
No dia 6 de Maio, mas de 1957, era publicado o primeiro número do Suplemento Juvenil do Diário de Lisboa. Claro que os mais novos nem sabem do que eu estou a falar, até porque o “Diário de Lisboa” fechou em Novembro de 1990.
Então parece que este ano vamos voltar a ter marchas populares. Desde sempre que me lembro de estar entre aquele maralhal todo na Av. da Liberdade a assistir às marchas, mais tarde a entrevistar todos eles durante os dias dos ensaios, e ainda mais tarde já com direito a ficar sentada na tribuna de honra, porque pertencia à Comissão de Toponímia da Câmara de Lisboa.
E quando eu era miúda, numa quinta em Rio de Mouro onde eu então vivia, lembro-me de termos feito marchas –com arcos e balões e tudo– eu, os meus irmãos, e primas. Aquilo era um bocado desafinado, mas ninguém dava por isso
E, já adulta, lembro de haver um ano uma grande novidade: a Marcha das Avenidas Novas, com todos de lambreta… (ainda se lembram do que era uma lambreta?). Mas não passou desse ano… O bairrismo das avenidas novas era pouco e não resistiu.
Os padrinhos eram sempre gente conhecida — e eram eles que abriam o desfile.
Uma vez convidaram-me para madrinha da Marcha da Voz do Operário. Era quase sempre a marcha que abria os desfiles, composta por miúdos, e eu nesse ano tinha trabalhado muito com a escola deles.
Disse-lhes que ficava muito honrada mas nesse dia tinha encontros com miúdos de duas escolas no Algarve — onde o 13 de Junho não é feriado…
Disseram que não fazia mal, eles iriam falar à mesma no meu nome.
Assim foi.
Pois não imaginam as pessoas que me telefonaram a dizer que me tinham visto a desfilar, e como eu ia bem, e como o meu vestido era bonito, e como estava bem penteada… As pessoas veem mesmo aquilo que querem ver…
Para lá das marchas de cada bairro havia –e penso que ainda há — a Grande Marcha de Lisboa. E um ano eu, o José Mário Branco e mais outro autor de que não recordo o nome, fomos convidados a escrevê-la. Não me lembro de nada — mas sei que nos deu imenso trabalho, que era muito bonita e que se aguentou vários anos.
Nos últimos anos antes da pandemia já não assisti às marchas… Junho era um mês em que eu ia a muitas escolas fora de Lisboa, às vezes no estrangeiro, e lá se foi o Santo António…
Mas estou contente por saber que vão regressar.
Alice Vieira
Atualmente colabora com a revista “Audácia”, e com o “Jornal de Mafra”.
Publica também poesia e é considerada uma das mais importantes escritoras portuguesas de literatura infanto-juvenil.
Pode ler (aqui) as restantes crónicas de Alice Vieira