Dia do livro infantil
Por Alice Vieira
Hoje, dia 2 de Abril, dia em que há 196 anos nasceu Hans Christian Andersen, comemora-se em todo o mundo o Dia do Livro Infantil. Por isso, os adultos que me desculpem, mas hoje este espaço é dedicado aos mais novos. Aí vai uma história para eles.
(O que não quer dizer que os adultos também não a possam ler…)
“A SENHORA DUQUESA QUER LEITE
–
Decorria lentamente a tarde quando a Senhora Duquesa disse:
–Gastão, traz-me uma chávena de leite!
Gastão, que era mordomo e muito bem-educado, respondeu:
–Senhora Duquesa, não há leite.
A Senhora Duquesa, muito admirada, perguntou:
–Mas porquê, Gastão? Será que as nossas vacas deixaram de dar leite?
Gastão, que era mordomo e muito bem-educado, respondeu:
–A Senhora Duquesa deve estar a fazer confusão: não temos vacas. Vivemos num prédio e era impossível tê-las aqui.
A Senhora Duquesa endireitou-se devagar na sua poltrona e disse:
–Então donde é que vem o leite que diariamente eu bebo?
Gastão, que era mordomo e muito bem-educado, respondeu:
–Do supermercado da esquina.
A Senhora Duquesa suspirou muito longamente e disse:
–E então por que não há leite?
Gastão, que era mordomo e muito bem-educado, respondeu:
–Porque a Senhora Duquesa há mais de 5 meses que não paga a conta. Ainda ontem tentei lá entrar e logo eles berraram “não queremos cá caloteiros!”
A Senhora Duquesa franziu a testa e, muito pausadamente, disse:
–Que modos tão grosseiros Gastão! Queres tu dizer que, se eu não pagar o que devo…
–…não há leite para ninguém.
–Queres tu dizer que, se eu quiser uma chávena de leite…
–… é melhor pagar o que deve.
–Pagar o que devo?
–E rapidamente!
A Senhora Duquesa voltou a endireitar-se lentamente na poltrona, e pensou nas palavras de Gastão
Pensou bem, pensou muito bem, pensou muitíssimo bem.
Então, suspirando ainda mais longamente, disse:
–Gastão, traz-me uma chávena de chá.
Actualmente colabora com a revista “Audácia”, e com o “Jornal de Mafra”.
Publica também poesia e é considerada uma das mais importantes escritoras portuguesas de literatura infanto-juvenil.
Pode ler (aqui) as restantes crónicas de Alice Vieira