Crónica de Alexandre Honrado
Porco e açougueiro
Ainda o discurso do ódio
À entrada de Lisboa, um cartaz político exibe à beira da estrada uma foto de uma senhora, negra, que faz a apologia de valores de direita. Na sua sabedoria de campo, diria uma antepassada minha que é o mesmo que um porco aceitar um convite para jantar do açougueiro, de facas afiadas, desejoso do seu toucinho e banhas. Nada mais contraditório, aquela presença naquele cartaz, com aquele discurso. Chegamos a ter pena da senhora, da sua ingenuidade, da sua falta de cultura e de raízes. Ela seria a última a poder valorizar aquele discurso e milhões de outros por ela lhe explicariam porquê. De certa forma, o discurso e o cartaz são colados sobre outro discurso, o discurso do ódio que tenho andado a referir. Para o direito “discurso de ódio é qualquer discurso, gesto ou conduta, escrita ou
representada que seja proibida porque pode incitar violência ou ação discriminatória contra um grupo de pessoas ou porque ela ofende ou intimida um grupo de cidadãos”. É o que mais encontramos nos dias de hoje. Até nas escolas onde crianças que dificilmente sabem o nome do Presidente da República ou do primeiro-ministro, recitam frases que lhes são dadas a repetir: antes do 25 de abril é que era bom, aquele velhinho que nos governava é que era sério e punha tudo na linha. Pior, já ouvi dizer que este governo não faz nada pelos jovens, antes é que era! Pois era: sem livros, sem roupa, sem sapatos, sem liberdades, com guerra colonial, campos de concentração e de prender, coisas dessas que agora são branqueadas por alguns, cujos interesses são evidentes, mas os discursos são camuflados. Há muito a dizer sobre o discurso do ódio. Assim a liberdade nos permita!
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