Crónica de Alexandre Honrado
Ódio
Má educação conduz ao beco escuro, fétido, pobre, da má cidadania. É aí que entre ecos e murmúrios se ouve normalmente o discurso do ódio com mais acutilância, mas de lá emana para todos os lugarejos, aldeias, vilas e cidades, como se de uma pandemia mortal e vergonhosa se tratasse.
Eu disse que voltava, e volto, a ocupar-me com o tema o discurso do ódio, e já depois de ter iniciado a minha reflexão vejo-me rodeado, sem espanto, de múltiplas notícias com origem portuguesa, sobre esse mesmo discurso, que parece contagiar, propagar-se como vírus repelente e mortífero, a ocupar espaço em muitos locais, pessoas, instituições, grupos médios, maiores, indivíduos solitários e mesquinhos, que tanto podem estar na nossa rua ou no nosso emprego, como, sei lá, na Assembleia da República que devia ser coisa pública e não um ninho onde os lacraus preparam vinganças e traições como às vezes acontece.
O discurso do ódio tende a formatar aqueles que, medrosos, tomam as minorias como alvo ou sendo minoritários, defendem-se buscando alvos para a sua pequenez. Parece uma contradição, mas não é. E nasce, esse discurso, em casa e sai à rua e entra nas escolas e suja os lugares por onde passa, esse discurso do ódio, que se alicerça em vocabulário muito próprio, parasitando a vida à sombra da liberdade de expressão que, no lado oposto da vida, permite que se diga o que se quer.
Segundo o Conselho da Europa, o discurso de ódio pode ser definido genericamente como “qualquer expressão que espalha, incita, promove ou justifica ódio racial, xenofobia, antissemitismo ou qualquer outra forma de intolerância. Incluindo: intolerância causada por nacionalismo agressivo e etnocentrismo, discriminação e hostilidade contra minorias, migrantes e pessoas de origem estrangeira”.
É tão grave como efeito e ação que, eu garanto, ainda falarei dele um destes dias.
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