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Estou em acreditar que o filósofo René Descartes faria hoje um episódico sorrisinho ao ver a sociedade ocidental atrapalhada na ideia de que a expressão “Eu penso” é uma aquisição de todos e de cada um.
Não há dúvida de que temos todos essa ilusão, eu penso, e (para ser ainda mais próximo do filósofo), é por pensar que vamos existindo.
Eu penso, logo existo é dessas frases quase publicitárias que se tornaram um clássico no mundo da cultura.
O filósofo René Descartes, no entanto, deixaria murchar o sorrisinho, passaria a exibir uma ruga preocupada na sua testa aparentemente robusta e de homem inteligente, ao constatar que o que ele pretendia afirmar era um Eu penso todas as certezas mas…relacionando a verdade unicamente com as ideias claras do espírito.
Ora isso implicava mostrar que o método de pensar é a iniciativa fundamental da inteligência e que só a razão determina a ordem da matéria.
Nos dias de hoje, tal pensamento debate-se entre algumas verdade e uma produção desmesurada de inverdades. E deixa-nos às voltas com o que é realmente isso da razão, sabendo que outras coisas que não a são nem a comportam – à razão, entenda-se – nos algemam e nos tolhem, sob o ponto de vista cultural, social, político e económico, apresentando-nos um mundo ilusório de não razão, como patamar de vida.
Perdeu-se, por assim dizer, no pensamento contemporâneo essa autoconfiança, que era quase ilimitada, no poder da sua atuação: a ideia precede as coisas ao ritmo do conhecimento.
Pelo menos este conceito estará tolhido: ao reduzirmos a produção de ideias, ao confundirmos o que é conhecimento com o caudal imenso da informação avulsa que nos invade e esmaga, estamos muito longe do que nos fará bem conhecer.
Ao trocarmos razão (no sentido mais profundo) pela convicção, andamos muitos séculos para trás. E traímos o sorriso de Descartes.
Alexandre Honrado
Historiador