Crónica de Alexandre Honrado
O banal nunca é comum
São malcriados. Há uma bitola para medi-los, é certo, e não se tolha a liberdade quando se aponta a dedo gente como eles.
São violentos, mas não agressivos. O agressivo é competitivo, tenta impor dinâmica às coisas, transformando-as, mas essa gente, em contrapartida, é medíocre e muito covarde, exerce a força sobre os mais fracos, sempre sobre os mais fracos, e promove os seus soezes lugares-comuns.
É gente malcriada, não sei se já disse. (O sentido da criação impõe formatos delicados e humanos). Gente que se comporta como certos animais desprovidos da capacidade de relacionamento com as outras espécies: mordem, espumam de raiva, uivam, ladram (e a caravana já não pode passar sem se incomodar muito com eles). Mordem e não estão vacinados, até porque alguns deles são negacionistas, vivem numa terra plana e temem a cura e a prevenção. Por isso podem contagiar-nos. E propagar as doenças mais fatais. Como a linguagem do ódio, a formatação bélica, a ignomínia, a falta de sentido.
Vejam como nos olham afivelando as caras imbecis com esgares de falsa ironia. É que não sabem falar, os seus gritos não festejam ou aplaudem, mas procuram confrontar, são racistas, xenófobos, homofóbicos, odeiam as minorias, atacam as mulheres, pois acreditam que em questões de género o pedaço de pele murcha que usam para se aliviarem quando podem lhes confere um estatuto intocável de urina áurea. É a useira potência dos impotentes.
Ocupam cadeiras que lhes conferem poder, nelas fazem figuras de impotência rasca: aplaudem-se entre si, como as focas que se reúnem num rochedo, sem mais do que barbatanas para agitar e soar no eco inútil dos oceanos ameaçados.
São malcriados. Sobretudo são perigosos; são daqueles jogadores de bisca lambida que desdenham das peças do xadrez, porque o cérebro não lhes entra na cabeça.
Dizem frases feitas e agradam a muitos, que não entendem que o açougueiro não faz amizade com os porcos, a menos que lhes destine a degola e o cepo, a guilhotina inglória.
Metem nojo. E, todavia, andam por aí à solta e usam as nossas liberdades para a sua libertinagem.
O mundo está cheio deles, como de vírus, aliás.
A pandemia deles é outra. E acaba sempre mal.
Alexandre Honrado
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