Crónica de Alexandre Honrado
Em torno do discurso do ódio
Minorias políticas são por vezes tentadas a usar o discurso do ódio como solução parcelar e parcial dos seus dissabores e frustrações. É o que notamos, em crescendo, nas redes sociais, nalguns pontos rotineiros de encontro, em palcos que insultam as plateias e as desdenham.
Em democracia os que hoje governam amanhã serão governados, a alternância permite a respiração do sistema e a passagem pelo crivo de muitas tentações não democráticas, como as de tornar o poder totalitário e inquestionável, quando afinal o poder em democracia é apenas o poder de poder estar ao serviço de quem deu força aos que queremos que nos serviam, provisoriamente, durante um período determinado.
Quem governa é trabalhador a prazo e funcionário público ao serviço de um público que nem sempre lhe reserva aplausos, pois tem mais que sofrer e em que pensar.
O discurso do ódio, aproveitando sentimentos e desesperos, emerge normalmente dos setores mais impotentes, entre os incapazes de explicar por palavras e atos que não são os escolhidos da maioria, exatamente porque não possuem a confiança dos que decidem. Esses, os que decidem, somos nós, nas horas decisivas. Só podemos fazê-lo em liberdade de falar, escolher, decidir, partilhar, organizar. Ver os derrotados – evoco Trump ou Bolsonaro para dar dois exemplos tristes, mas evidentes – a criaram frágeis argumentos em suportes duros, para ultrapassar as suas derrotas, é temer que sejam impulsionadores de discursos de ódio dos muitos que, em seu nome, sem pedagogia normativa, resolverem ultrapassar as regras e viciar os jogos, com mau perder e mau agir. São invasores de Capitólio.
O discurso do ódio é matéria que me prende agora e à qual voltarei. Confesso que outros discursos mais amenos e pacíficos têm-me tomado o tempo. Mas voltarei ao assunto, sem ódios nem ressentimentos.
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