Crónica de Alexandre Honrado – Cultivar para não banalizar

Alexandre Honrado

 

Crónica de Alexandre Honrado
Cultivar para não banalizar

 

“Banalizar a linguagem é banalizar o pensamento que ela veicula.”
Teodoro Adorno (Adorno, 1999).

Sabe-se hoje que na economia o peso da cultura é enorme – mesmo que o Orçamento Geral de Estado (quase) não a contemple, talvez pelo erro político habitual de que o Estado não sabe investir nem é bom gestor nas poucas áreas que lhe podem trazer retorno e notoriedade de curto, médio e longo prazo. Aliás, aprendemos que a expressão “economia da cultura” revela uma noção funcional da cultura associada a determinadas atividades económicas relacionadas com a criatividade e os seus respetivos produtos.

As indústrias culturais, expressão herdada da Escola de Frankfurt, e de 1923, podem definir-se como as atividades que permitem produzir, distribuir e colocar no mercado bens e serviços culturais. E este tipo de economia está presente, e pode reforçar-se, nos exemplos que trabalhámos enquanto investigadores. A conclusão é que essas indústrias movem milhões; criam empregos; são imprescindíveis no grupo da totalidade, isto é, para todos nós.

Assim sendo, a dotação financeira das Juntas de Freguesia tenta a operação (pelo menos) da gestão destes equipamentos e do seu resgate. Nalguns casos, sem grande vocação, é certo, e sobretudo sem grande formação específica. Alguma coisa em maior escala se passa com as Câmaras Municipais. Nós é que vemos tudo como “culpa” do Estado e do Governo, esquecendo que a realidade se estreita em cinturas muito mais finas e ativas.

Autarquicamente as coisas abanam. Sabemos hoje que, mesmo ao nível do poder central, um dos maiores défices está na falta de gestores culturais. Os que temos são poucos. Os poucos que temos têm poucas habilitações, as mais das vezes, e logo para exercerem atividade numa das áreas mais movimentadas e de maiores recursos do tecido social. São as exigências, em suma, dos novos desafios da gestão cultural (que obrigam a maior investimento nos estudos culturais, área ainda subestimada do conhecimento).

Finalmente, por não me apetecer escrever mais, por ora, acabo como comecei, com uma citação:

“Os artistas contemporâneos não têm a obsessão pela antecipação da história a qualquer preço e, pelo contrário, privilegiam o espaço e a geografia. Em relação ao tempo, a nossa cultura artística contemporânea tende a atualizar os operativos com vocação universal.” Ribeiro (2002)

Citei:

ADORNO, Theodor e HORKHEIMER, Max (1947). Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

Ribeiro, António Pinto in Público, 25/08/02.

 

Alexandre Honrado

 

 


Alexandre Honrado
Escritor, jornalista, guionista, dramaturgo, professor e investigador universitário, dedicando-se sobretudo ao Estudo da Ciência das Religiões e aos Estudos Culturais. Criou na segunda década do século XXI, com um grupo de sete cidadãos preocupados com a defesa dos valores humanistas, o Observatório para a Liberdade Religiosa. Dirige o Núcleo de Investigação Nelson Mandela – Estudos Humanistas para a Paz, integrado na área de Ciência das Religiões da ULHT Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias em Lisboa. É investigador do CLEPUL – Centro de Estudos Lusófonos e Europeus da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e do Gabinete MCCLA Mulheres, Cultura, Ciência, Letras e Artes da CIDH – Cátedra Infante D. Henrique para os Estudos Insulares Atlânticos da Globalização.

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