Opinião Política | José Manuel Graça (PS) – A realidade com que vamos vivendo

JOSE GRACA

A realidade com que vamos vivendo

Continuando Mafra, todo o Portugal, a Europa e o resto do mundo em luta contra esse “invisível”, mas mortífero vírus de nome SARS-CoV-2, mais conhecido como COVID-19 onde se envidam esforços para o seu combate e erradicação e tendo, o nosso território, tido estado entre os segundos Concelhos com mais casos registados, nesta semana que decorre Mafra viu o seu enquadramento descer – e, descer, aqui é bom – para um 3º nível, mercê de uma redução para um ranking de +/- 450 casos por 100.000 habitantes. Ainda são muitos casos, com certeza! Cumprindo as medidas de segurança impostas associadas às medidas que cada um de nós deve ter como princípio pessoal ético e de profilaxia cidadã, tenhamos esperança em ultrapassar estes “tempos maus” rumo à recuperação de uma nova vida normal.

O populismo e o Congresso do PCP

O PCP vai realizar o seu XX Congresso neste próximo fim de semana. Muita tinta este acontecimento está a fazer correr. Em termos legais existe o “direito político” de fazer o congresso. A lei do estado de emergência não proíbe reuniões partidárias, estipulando mesmo que “as reuniões dos órgãos estatutários dos partidos, sindicatos e associações profissionais não serão em caso algum proibidas, dissolvidas ou submetidas a autorização prévia“.

A todos os ataques ideológicos e ao arrepio da Lei Jerónimo de Sousa tem resistido estoicamente sem, no meu entender, perceber bem a diferença entre a realização de um ato legitimo e a perceção popular dessa mesma realização em contexto de estado de emergência. Aos políticos pede-se que saibam “ler” as vontades das pessoas e, a um dos nossos últimos políticos vivos, e em funções, daqueles que votaram a Constituição, não me parece estar a atravessar um momento de clarividência.

Esta é uma mera opinião pessoal, mas a qual não me leva a calar e a tornar cúmplice de um valor de se expressar a democracia, exercitando a pluralidade partidária mantém viva, mesmo que nas horas incertas que se vivem. Perante estes ataques à democracia, a lembrar a ditadura fascista, ergo-me dizendo, não! Quanto à teimosia política … já disse.

Se, numa esquerda afirmada pelo passado de resistência ao fascismo alguma teimosia acontece temos, ao centro-direita um Rui Rio, hipotético aspirante a primeiro ministro, que não vilipendie a Constituição da República Portuguesa que o PPD ajudou a construir. Não devia poder dizer que há leis que, também aprovadas por si e pelo PSD/PPD na AR e deste mesmo voto se esqueça para cavalgar a senda populista, parecendo ter-se deixado infetar com a recente chegada do Chega ao seu convívio!

É percetível que o ainda líder do PSD continua a apostar numa crise política com data marcada. Espera contar que a inevitável crise gerada pela pandemia possa contribuir para um desgaste no Governo. Basta estar atento a alguns sinais e relembrar uma ideia debatida no último congresso do PSD, de que, haveria uma crise política na segunda metade de 2021. E ainda não havia pandemia cujo estado sanitário veio potenciar o ataque ao poder, com o BE a servir a queda do PS na bandeja do centro-direita como já o fez aquando da rejeição do PEC IV e depois, foi o que se viu!

As eleições autárquicas do próximo ano serão, em muito, o principal barómetro à análise política de quando se dará o tiro para o início da luta, porque os tiros de aviso já aconteceram.

A recente aceitação por parte do PSD de integrar no seu leque de apoio parlamentar nos Açores, só pela vertigem do poder, um partido de extrema direita xenófoba, fundado por um ex-Vereador do PSD na Camara de Loures é um perfeito absurdo. Um partido radical alimenta-se do sangue das próprias vítimas. O PSD ao “inovar” transformando o Chega num interlocutor válido está a dar-lhe legitimidade para além do voto que o mesmo representa. Só para se atingir o poder, não pode valer tudo!

Como o comentador e militante social democrata Pedro Marques Lopes disse recentemente “Nas presidenciais, André Ventura vai disparar feio contra Marcelo. Como é que o PSD vai lidar com um líder que vai atingir a principal figura de centro-direita?” É uma pregunta que eu subscrevo.

A história ensina-nos que a apresentação anti sistema é a ferramenta essencial e preferida pelo populismo. Diversos analistas são unanimes na concordância de que o perigo de que quando se adotam as propostas destes partidos para os tentar derrotar o que acontece é que se está a dar palco a essas propostas e a torna-las “normais”. Diz-me com quem andas dir-te-ei quem és, diz o povo. Rui Rio não pode alegar ingenuidade. E, para já, esta é a opção política que Rui Rio quer oferecer aos Portugueses, comprometendo o programa do partido fundado por Francisco Sá Carneiro e esperando que todos os que não se reveem nos apoios recebidos pelo PS à sua esquerda fracassem.

A estupidez está descrita clinicamente, e tem leis que a regem. Uma vez, disse o físico teórico alemão Albert Einstein que só havia duas coisas verdadeiramente infinitas; o universo e a estupidez humana. E, sobre a infinitude do universo, não estava certo.


José Graça
Presidente da Concelhia do PS em Mafra; Membro da Comissão Nacional do Partido Socialista; Conselheiro efetivo do CES-Conselho Económico e Social; Membro do Secretariado Nacional da UGT; Vereador da Câmara Municipal de Mafra pelo Partido Socialista

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