EDITORIAL | 2019 foi um bom ano para o concelho de Mafra mas…

O concelho de Mafra situa-se a poucos quilómetros da capital do país e nestes tempos do segundo milénio, em alguns aspetos faz lembrar a República Popular da China, ou seja, num concelho, duas realidades e dois sistemas.

É certo que a entrada em cena do atual presidente da Câmara Municipal de Mafra veio mudar, de alguma forma, a face do concelho. Hélder Sousa Silva (HSS), com mais mundo e com mais energia do que Ministro dos Santos, soube aproveitar, enquanto pôde (ou puder) as sinergias entre o PSD Mafra e o PSD nacional e os conhecimentos pessoais e políticos adquiridos aquando da sua passagem pela Assembleia da República enquanto deputado, na XII Legislatura (“despachar” Hélder Silva para a Assembleia da República terá sido o maior erro político de Ministro dos Santos).

A reabilitação dos carrilhões da Basílica do Palácio Nacional de Mafra, em conjunto com o reconhecimento do Real Edifício de Mafra como património da humanidade, e a politicamente muito bem trabalhada instalação do Museu da Música em Mafra terão sido, até ao momento, os pontos altos dos mandatos do atual presidente à frente do município de Mafra.

Na Ericeira, o impulso dado às atividades ligadas ao surf, o forte investimento feito no turismo, que tem trazido à vila milhares de turistas durante o verão, e alguma reabilitação urbana do casco tradicional da vila, poderão contribuir (assim o bom ciclo económico o permita) para a continuação de bons anos para esta vila que noutros tempos já foi piscatória.

Na Venda do Pinheiro, com inauguração no ano anterior (o atual presidente da junta de freguesia terá respondido com a palavra “jardim”, a uma pergunta de Hélder Silva, que queria conhecer os anseios mais profundos habitantes da freguesia, e terá sido assim que nasceu aquele que foi pomposamente denominado Parque Ecológico da Venda do Pinheiro), embora a designação de “ecológico” tenha sido manifestamente exagerada.

A Malveira não podia ficar politicamente esquecida, e aí está em desenvolvimento o projeto que pretende modernizar o ex libris tradicional daquela vila, ou seja, o espaço onde tradicionalmente tem lugar a Feira da Malveira.

Das restantes freguesias não reza a história, e o abandono do interior do concelho, exceção feita a algumas obras viárias, tem-se mantido como uma marca que atravessa os tempos e as legislaturas autárquicas deste concelho.

O fim da privatização das águas e do saneamento foi aclamado por todos, por defensores da iniciativa privada e por defensores do primado do estado. No entanto, o comum dos mortais só deverá sentir algum alívio nas tarifas com o orçamento para 2021, ano eleitoral. A frequentemente esquecida questão do saneamento não deixa de permanecer uma nódoa difícil de lavar, num concelho às portas da capital, haver ainda munícipes que não têm acesso à rede de esgotos, é verdadeiramente inaceitável. Há de chegar o homem a Marte e a rede de esgotos do concelho sem estar concluída.

Do ponto de vista da imprensa, da liberdade de informação, do direito de acesso às fontes e da equidade de tratamento de todos os órgãos de comunicação social (OCS) do concelho, o Jornal de Mafra faz votos de que se faça luz nas sedes do poder local (Câmara de Mafra e PSD Mafra) e que 2020 possa ser (espontaneamente e sem haja necessidade de recorrer às entidades que regulam este tipo de direitos), o ano em que os edifícios públicos deixam de albergar OCS (discriminando uns em relação aos outros), o ano em que as entidades públicas passarão a distribuir a publicidade institucional por todos os OCS generalistas do concelho, não discriminando uns em relação aos outros, o ano em que deixará de ser necessário recorrer a entidades de regulação, para que seja possível a todos os OCS obter documentos que a lei faz acessíveis a todos, e finalmente, o ano em que o concelho de Mafra se organiza em termos comunicacionais e passa a fazer o que fazem todas as câmaras que se prezam e todas as que nos rodeiam geograficamente (Torres Vedras, Sintra, Loures), ou seja, passar a manter um departamento de comunicação moderno, que comunique com os OCS locais e que não se limite a utilizar a Lusa e as agências de comunicação (pagas), para fazer chegar a informação a Lisboa, em detrimento de todos os OCS que atuam e pagam impostos no concelho de Mafra. Por alguma razão o poder local se encarniça na defesa de algumas entidades que aqui labutam, desde as mais variadas associações (sejam antigas ou muito recentes), sendo os OCS votados ao mais completo ostracismo informativo, por parte da instituição autárquica.

2020 será um ano politicamente atarefado, com a preparação das duas eleições que terão lugar em 2021, as presidenciais logo em janeiro e as autárquicas, provavelmente no mês de outubro. Se as presidenciais não apresentam grandes dúvidas, pois a reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa parece certa, em relação às autárquicas de 2021, as dúvidas que procuram esclarecimento, não passam por saber quem vai ganhar no concelho de Mafra, pois, aqui o PSD e Hélder Silva têm a vitória na mão, passando sim, por saber se a maioria absoluta se alarga ou não e se a oposição recupera o vereador perdido nas últimas eleições. Interessante será ainda observar que grau de protagonismo, o atual presidente reservou para Aldevina Rodrigues, a personagem política que aparentemente tem surgido como a sua delfim para as eleições de 2025, à frente da candidatura do PSD Mafra.

 

Paulo Quintela
Diretor do Jornal de Mafra

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