Agora, quando se começam a movimentar as forças políticas para as eleições autárquicas deste ano, que segundo Carlos Bernardes, Presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras (CMTV), deverão ter lugar a 26 de setembro, no momento em que já se alinham os nomes que hão de constituir as listas de candidatos, e após ter divulgado no domingo, a lista do PS que há de disputar a eleição no concelho, Carlos Bernardes, presidente CMTV e da comissão política do PS, retirou ontem os pelouros e a confiança política à sua camarada de partido e também vereadora da câmara, Cláudia Horta Ferreira.
Cláudia Horta Ferreira é vereadora da Câmara Municipal de Torres Vedras, detendo até ontem, os pelouros da Administração Municipal e Modernização Administrativa, Recursos Humanos, Qualidade, Participação e Cidadania, Tecnologias de Informação e Comunicação.
Entre 2009 e 2016 foi deputada municipal pelo PS. Desempenhou funções de Adjunta do Gabinete do Ministro dos Assuntos Parlamentares do XVIII Governo Constitucional e de assessora do Secretário de estado da Presidência do Conselho de Ministros do XVIII Governo Constitucional. É licenciada em direito e especialista em direito administrativo, contratação pública e legislação laboral.
Na sessão de câmara, Marco Claudino, vereador da coligação Juntos Somos Mais Fortes (PPD/PSD.CDS-PP) interpelou o presidente Carlos Bernardes, a propósito daquilo que apelidou de “segredo mal escondido”, referindo-se a um despacho datado de ontem, que retirou os pelouros à vereadora do PS, Cláudia Ferreira, por quebra da confiança política. Marco Claudino defendeu que estes acontecimentos, pela sua importância, deviam merecer explicações públicas, da parte do presidente do executivo, o caso é grave o suficiente para o presidente “dar 1 palavra aos torrienses?”, disse.
Recorrendo a um discurso escrito, Cláudia Horta Ferreira tomou a palavra para “defesa da honra”. Foi convocada por Carlos Bernardes, para uma reunião em que estava também presente o vereador Hugo Lucas, como ela, vereador eleito pelo PS, responsável pelas áreas das Infraestruturas e Obras Municipais, Gestão de Áreas Urbanas Transportes e Trânsito e Mobilidade.
No início da reunião com os dois vereadores, Carlos Bernardes pediu-lhes para desligarem os telemóveis, “porque podiam estar a ser escutados”, pedido a que os vereadores acederam. O presidente afirmou então, que “se passava algo muito grave com a casa dela”, e que “a obra é uma vergonha”. Cláudia Ferreira afirmou então desconhecer as razões que poderiam estar na base destas referências do presidente, tendo este esclarecido que se referia às obras que decorrem na casa que a vereadora adquiriu, cujo empreiteiro contratou um subempreiteiro que também foi contratado pelo empreiteiro de uma obra da câmara contratada por concurso público, obra que está decorrer perto da casa da vereadora.
Cláudia Ferreira afirmou, não ter nada a ver com quem subcontrata, o empreiteiro das obras da sua casa, nem saber quem são os subempreiteiros das obras da câmara municipal. Reconheceu que a zona de implantação da casa que adquiriu está a valorizar-se, mas afirmou que comprou a casa já depois da intervenção urbanística ser pública e que a escolha do empreiteiro que contratou, foi o resultado de uma consulta que representou mais de 60 pedidos de orçamento, num processo de seleção que se prolongou por mais de um ano.
Cláudia Ferreira assegurou que o cargo que exerce na Câmara de Torres Vedras não lhe proporcionou condições especiais na compra da casa ou nas obras que aí decorrem e que o processo da obra foi aprovado em reunião de câmara, na sua ausência, sem quaisquer reparos, sendo um processo transparente.
A questão da presunção de inocência foi um argumento utilizado quer pela vereadora, quer pelo vereador do PSD, Marco Claudino, “o presidente usa a presunção de inocência para si mesmo nos vários casos de que tem sido alvo, mas não aplica isso aos outros”, afirmou.
No final da sua intervenção, Cláudia Ferreira pediu a certidão da ata da reunião de câmara, pediu também uma auditoria à obra da câmara junto à sua casa e mostrou-se disposta a avançar para os tribunais por se sentir difamada.
Marco Claudino, na última intervenção que fez a propósito deste caso, após afirmar, “ainda nem sequer compreendi bem qual é a situação”, referiu-se a três casos da mesma indole, para os quais tem vindo a chamar a atenção neste mandato: não ter sido retirada a confiança política ao então tesoureiro e atual presidente da Junta da Maceira, já que, alegadamente “ficou provado em tribunal ter feito uma puxada ilegal de eletricidade para um espaço em que era arrendatário da própria junta em que na altura era tesoureiro e de que agora é presidente”, à alegada existência de contratos da câmara com a nora da vereadora Laura Rodrigues e finalmente, referindo que, alegadamente, a câmara assinou contratos com a sogra da vereadora Ana Umbelino.
Ambas as vereadoras, Laura Rodrigues e Ana Umbelino repudiaram energicamente a existência de favor nos contratos referidos pelo vereador do PSD.
Nesta sessão do executivo, Carlos Bernardes optou por não se pronunciar acerca do afastamento da vereadora, não respondendo às questões colocadas pelo vereador Marco Claudino, nem à argumentação da própria vereadora a quem retirou a confiança política. Também não respondeu ao pedido de esclarecimentos do Jornal de Mafra, que optou, embora em vão, por adiar a publicação deste artigo para hoje, respeitando a obrigação deontológica de ouvir todas as partes.