Crónica de Alexandre Honrado O que escrever quando é inútil a escrita (dois) Ao ser impossível a poesia – depois do triunfo da barbárie – a aceitação da derrota do Homem interior (aquele que descobre as vias da experiência interna, capaz da produção de leituras superiores de si, dos outros e do mundo que o rodeia, mesmo do intolerável), o homem ficar-se-ia pelo Real, impedindo o Irreal, ou o que, na sua capacidade de criar, permite suportar a realidade e vê-la de um modo elevado e amplo. Ou,…
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Crónica de Alexandre Honrado – O que escrever quando é inútil a escrita
Crónica de Alexandre Honrado O que escrever quando é inútil a escrita Se Adorno[1], a propósito do Holocausto, afirmou que “já não é possível escrever poesia depois de Auschwitz”, é tempo de aceitar uma ideia que há muito me persegue: depois de tudo o que o século XXI tem produzido, já não é possível escrever uma prosa identitária e o que dela restar em afetividade arde no lume brando de todos os impactos traumáticos? (Falo da produção do Mal, para usar uma imagem fácil. Falo dos fundamentalismos, dos…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – O fantoche que há em todos nós
Crónica de Alexandre Honrado O fantoche que há em todos nós Haverá algum mundo paralelo onde sejamos capazes de reconfigurar o sensível? É no mundo sensível que podemos criar um antipoder, onde podemos modificar o mundo egoísta e bélico, produtor dos níveis de dominação e de destruição, que impedem a construção do futuro, um espaço ideal em que (nos) transformamos em seres e coisas sustentáveis e de vocação de proximidade e aceitação de todas as diferenças, afinal aquilo que conhecemos por democracia e que traímos a cada passo.…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – Uma presença sem mistério
Crónica de Alexandre Honrado Uma presença sem mistério É logo no início da década de 1980 que Eduardo Lourenço vê publicado um dos (seus) livros que mais reli: O Espelho Imaginário. Fala de pintura, também de antipintura e de não-pintura e como sempre acontece com Lourenço vamo-nos enredando numa linguagem tecedora, das que nos levam às profundezas – às “profundidades vazias da nossa impotência” – mas que nos mantêm à tona, puxados invariavelmente pela inebriante magia do que no pensador resiste do poeta e do que na escrita…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – Regressar à Ucrânia
Crónica de Alexandre Honrado Regressar à Ucrânia Estive várias vezes na Ucrânia, em várias e distintas qualidades, até fui um dos autores de uma canção do festival da Eurovisão, peripécia de que hoje guardo uma memória esfumada, como se fosse outro eu a passear-me pela green room de Kiev à espera de votações e atuações. Não é importante este episódio, sendo meu partilho-o, considero importante, isso sim, ter estado várias vezes na Ucrânia, ter-me apaixonado pelo país, emergente das velhas repúblicas socialistas soviéticas, tendo reconhecido nele inúmeras qualidades,…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – A Europa numa hora de amnésias
Crónica de Alexandre Honrado A Europa numa hora de amnésias O texto que se segue faz parte de outro, inédito, intitulado Europa, entre a memória e o esquecimento, que aguarda publicação em livro coletivo no qual sou apenas um dos autores. É um pedaço desse livro, mas parece-me mesmo assim interessante esta partilha. Políticas de memória, memória individual, memória coletiva, memória prótese, amnésia transcultural – são tantos os lados prismáticos da superfície onde se procuram os pontos de referência essencial da cartografia europeia da atualidade, pelo menos no…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – O fim das coisas públicas
Crónica de Alexandre Honrado O fim das coisas públicas Há indícios fortes do declínio das Repúblicas como forma orientada de governação dos povos, não só porque os povos deixaram de ser uma realidade prioritária, substituídos pelo individuo, pelo individualismo e pela individuação, como a ascensão das direitas impede a coisa pública, opõe-se aos coletivos comprometidos com a construção participada e participativa da política e sobretudo teme, como ato de crianças medrosas perante a admoestação pelo seu mau comportamento, a festa nutricional das democracias, sempre ameaçadas pelo frenesim esfomeado…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – Não se deve simplificar
Crónica de Alexandre Honrado Não se deve simplificar Aceito: nunca se deve simplificar o real, nem subordiná-lo apenas àquilo que o completa, como, por exemplo, o imaginário e o simbólico. Aceito que o real é construído pelo formato compacto do que se faz e age e do que alguns pensam. O real é ainda e talvez essencialmente uma construção social, nem sempre o que parece é, pelo que aceito que, de modo lato e sincero todo o real é também o irreal (e a irrealidade) que o contém…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – E Putin aqui tão perto
Crónica de Alexandre Honrado E Putin aqui tão perto Escrevi há dias sobre os países que estão em guerra no mundo, lamentando que os nossos noticiários passem à margem da catástrofe humana que se vive em cada um deles. Tive comentários surpreendentes, como se eu não tivesse entendido (por alguma lacuna do meu fraco entendimento) que a prioridade portuguesa, europeia, mediática e atual era a Ucrânia – para quê perder tempo com os 19 milhões de pessoas a passar fome no Iémen, país do tamanho da França e…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – Tirem-me daqui
Crónica de Alexandre Honrado Tirem-me daqui Nada sei das mulheres afegãs. Deixei de ouvir falar dos assassinos talibã, do absurdo da sua governação, desse rosto estranho e barbudo do nazismo, dessa careta fundamentalista, um dos muitos esgares do nacionalismo no mundo. Nunca mais ouvi falar das meninas do povoado de Chibok, no norte da Nigéria, 276 estudantes de uma escola local que foram sequestradas por militantes do grupo extremista Boko Haram. O mundo, com eu, perdeu-lhe o rasto por trás de um encolher de ombros vergonhoso. Nada sei…
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