Em que data foi a peste negra? Por Alexandre Honrado Porque será que a esmagadora maioria da população planetária afetada, há cem anos exatamente, por uma pandemia que matou milhares de milhões de seres humanos lançou sobre a história um manto pesado de esquecimento? No mesmo século XX sofreu, a mesma população da Terra, a I Guerra Mundial, a II Guerra Mundial e barbaridades de menor escala como a guerra Russo-Japonesa, a Guerra das Balcãs, a Guerra Civil Espanhola, de Franco, a Guerra Colonial, de…
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Crónica de Alexandre Honrado – 25 de abril agora e sempre
25 DE ABRIL AGORA E SEMPRE Por Alexandre Honrado Reparei que, sem causas de maior, a direita política e a sua vergonhosa extremidade (e uma mancha conservadora que não sabe sequer que é de direita mas que interpreta a ilusão hereditária de avós comprometidos), estão na sua alegria sazonal de reivindicações, dando graças por ter encontrado mais uma vez alguns argumentos muito desequilibrados mas assustadores. Brandem agora a bandeira do passado com a simbologia da gadanha – porque acham que será alternativa à foice – e do cutelo –…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – É um resfriadinho (comparado com a loucura de alguns)
É um resfriadinho (comparado com a loucura de alguns) Doem-me os sentidos. Repete-se em eco aos gritos a palavra Whuan, mas não faz muito sentido. Um vírus não se fabrica, nem se exporta assim. E todas as teorias da conspiração são possíveis. O terror instala-se. Mas não se instala porque morrermos, ou porque vemos morrer, mas porque vemos que alguns querem safar-se, salvar a sua pele, deixando os mais desprotegidos ou impreparados, os mais pobres e os menos preparados, para a pilha que arda, para o forno crematório, não…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – O fim do mundo ou apenas um até já?
Estamos em combate pela alteridade, essa ideia que consagra como a existência do “eu-individual” só é permitida mediante um contato com o outro. Coisas que julgávamos perdidas, como a leitura, vêm provar a frase que diz que “ler conduz-nos à alteridade, seja à nossa própria ou à dos nossos amigos, presentes ou futuros”. E lemos, por medo. Lemos tudo. Frases feitas e batidas, artigos de opinião, o e-mail da tia e a literatura farmacêutica da avó. Agora é o tempo de ler. É tempo da alteridade. De percebermos que precisamos…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – COVID-19? Deixei de ter tempo livre
Deixei de ter tempo livre desde que estou confinado a um espaço – com computador e ainda alguma comida. É um exílio dourado, na província, a muitos quilómetros da capital, com o céu por companhia e a natureza pouco espezinhada a tocar-me de leve, que isto agora é tudo um toque leve, nada de apertos de mão ou beijos prolongados. Não vejo muita gente, não só porque os outros se isolaram mas em especial porque aqui o ser humano não lhe apetece estar, dá muito trabalho estar num sítio destes.…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Coronavírus – A repetição de um pesadelo
Pandemia. Loucura. Morte. É como se todos os sinos do mundo tocassem a rebate, os alarmes soassem, as sirenes não parassem de clamar. Isto no mundo, nos cinco continentes, mas sobretudo dentro das nossas cabeças, onde os alarmes são sempre mais fortes. No supermercado olham-me com muito desdém; eu sou aquele que transporta os elementos mais bizarros: um vaso com uma pequena oliveira, tão diferente das oliveiras assassinas que vi há dias, a crescer à força de estímulos químicos e a matarem toda a fauna em seu redor, ali mesmo,…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – O que fazer na minha ilha
Leituras muito variadas – não necessariamente em livros, ou em artigos dos muitos jornalismos ou das emanações académicas -, leituras feitas olhos nos olhos, a maior parte das quais assentes na observação do que somos, do que estamos a deixar de ser e resultantes da mundividência (isto é, do modo de ver o mundo) e sobretudo da mundivivência (em neologismo, o modo de viver o mundo, palavra que nenhum dicionário aceita), levam-me a interrogar as ideias que construí da condição humana, do humanismo, da produção identitária e da evidente dispersão…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – Esqueçam a eutanásia, ainda temos o suicídio
Um dos meus interesses de estudo – ando a tentar reduzi-los a dois, mas não percebo bem como se faz – obriga-me a perder longas horas com o tema cultural (e político) do esquecimento, numa época, a nossa, que tem no topo da lista das doenças o Alzheimer, e, nas notícias mais recentes, uma constatação fácil de assimilar: “[Em Portugal] apesar do decréscimo da população, o número de pessoas com demência irá mais do que duplicar: de 193.516 em 2018 (1,88% da população) para 346.905 em 2050 (3,82% da população)”.…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado – Mas as crianças, senhor, porque lhes dais tantos gadgets?
Oferecemos horizontes infinitos aos nossos filhos – sem lhes mostrar a qualidade do terreno onde devem por os pés e a beleza intensa dos avós que deram a vida e a glória para que hoje pudéssemos olhar para os telemóveis em liberdade. Olhar para quem me rodeia faz parte de uma militância cultural. Leva-se ideias para recolher outras, ausculta-se os pulmões da Nação e aprendemos o tamanho do que somos – quase sempre menor do que aquele que nos atribuímos. O querido filósofo português José Gil antecipou-se às razões maiores…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | George-Steiner – Morre a cultura em palavras e silêncio
De repente apetece-me confessar que todos os textos, mesmo aqueles onde mais ficcionamos, são textos escritos na primeira pessoa, textos no singular, mesmo os menos singulares. Este é portanto um texto desses. Um texto na primeira pessoa e magoado, mal refeito das emoções, uma tatuagem mal cicatrizada, por outras palavras: um texto à flor da pele. Estive duas vezes ao pé de George Steiner. Numa, com timidez, apertei-lhe a mão, julguei-me eleito, um privilegiado. Foram encontros ocasionais, Steiner falava publicamente, e eu estava numa das filas sombrias mas não frias…
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