Crónica de Alexandre Honrado Sorte? Há pouco, no adro da Igreja, encontrei-me com outros homens sem fé e discutimos se os deuses são gestores da sorte, que condenam à morte ditadores, os monges budistas, crianças inocentes, quem lhe estiver ao alcance. Chamem-lhe costume ou superstição ou feng shui. Imagina agora que lá fora estão a pintar as paredes com sprays desinquietos (dos artistas famosos aos empreiteiros, todos queremos deixar a nossa assinatura) e eu aqui, à espera da sorte, deitado em cima do pano verde das apostas, a escutar…
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Crónica de Alexandre Honrado | Todo este fogo que arde em nós
Crónica de Alexandre Honrado O TRIUNFO DA INSENSIBILIDADE (OU PORQUE É QUE NÃO SOMOS NADA ESTÉTICOS) Somos uma incógnita e nunca conseguimos responder à dúvida dupla: o homem faz a vida ou a vida faz o homem? Se pusermos ao espelho o homem ocidental de hoje, ele é um reflexo padronizado: veste marcas universais, usando o luxo ou os mais originais gadgets da moda, mesmo por imitação, enquanto adelgaça as formas em ginásios comuns, faz cirurgias estéticas para se aproximar de um padrão qualquer que a estação…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Todo este fogo que arde em nós
Crónica de Alexandre Honrado Todo este fogo que arde em nós Não devíamos esquecer os mortos — e, todavia, o que vai ficando de cada um daqueles que partem é uma mancha que se dilui com o tempo até o lugar que ocupavam em vida não fazer grande sentido. Esquecer os mortos é esquecermo-nos. É acreditar que somos apenas formatos singulares sem rasto nem raiz nem memórias, quando afinal são esses traços que nos permitem as ousadias plurais: rasto, raiz, memória, lugares de onde partimos para ser…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Maus e bons e os outros todos
Crónica de Alexandre Honrado Maus e bons e os outros todos Discutiam antigos filósofos ideias de bondade e de maldade, acreditando uns que seria na civilização e no progresso que o ser humano conseguiria encontrar o apaziguamento para os seus ódios mais extremos. O que nele se encontrasse de primário e rude, seria com o tempo transformado em qualquer coisa que o levaria à perfeição, ou muito próximo. O animal que gatinhava, mal se equilibrando, que urrava e caçava com as mãos, seria, anos depois, um deus, ninguém…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | AFETOS QUE NOS AFETAM: a reconstrução
Crónica de Alexandre Honrado AFETOS QUE NOS AFETAM: a reconstrução Nenhum itinerário pode considerar-se completo quando o tratamos em forma narrativa. Duas pessoas farão relatos do mesmo percurso de duas formas diferentes. Ambas evocarão memórias singulares e não coincidentes. Pequenos detalhes chegarão depois, vindos sem intenção pré-definida, acrescentarão um ponto a cada conto. Mesmo que se parta ao mesmo tempo de uma linha de partida e se chegue aparentemente a par a uma meta, ombreando, imitando os passos de outro, somos marcados por diferenças e complexidades. É por isso…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Passeio pela cidade
Crónica de Alexandre Honrado Passeio pela cidade Por vezes, a cidade é História, outras o simples recanto sombrio que permitiu histórias e lendas, tornando-se, em qualquer dos casos, ponto de encontro da civilização humana. Ou é, em alternativa, o que a história esqueceu no seu percurso, ficando a esmaecer nos anos com o que lhe sobra de ocupação do homem, esse ser simultaneamente religioso, político, económico, sensual, cultural, capaz de deixar à sua passagem tantos vestígios e pegadas desperdiçadas. Na atualidade, a cidade é obrigatoriamente a perceção da sua multiculturalidade,…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | O banal nunca é comum
Crónica de Alexandre Honrado O banal nunca é comum São malcriados. Há uma bitola para medi-los, é certo, e não se tolha a liberdade quando se aponta a dedo gente como eles. São violentos, mas não agressivos. O agressivo é competitivo, tenta impor dinâmica às coisas, transformando-as, mas essa gente, em contrapartida, é medíocre e muito covarde, exerce a força sobre os mais fracos, sempre sobre os mais fracos, e promove os seus soezes lugares-comuns. É gente malcriada, não sei se já disse. (O sentido da criação impõe formatos…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | A LIBERDADE – está a passar por aqui?
Crónica de Alexandre Honrado A LIBERDADE — está a passar por aqui? A Liberdade – estado de estar livre dentro da sociedade do controle ou das restrições opressivas impostas pela autoridade – não é um conceito abstrato, nem romântico, nem uma utopia inalcançável. Sabemo-lo por experiência própria, já que vivemos num país, entre poucos, que consagra o estado de exceção, de liberdades civis, de liberdade política, social e íntima, que os tempos da barbárie tentam limitar. Esses limites, tão duros e assassinos no passado, voltam a ser, ainda que…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | Abril entre cravos – e pontos negros
Crónica de Alexandre Honrado Abril entre cravos — e pontos negros Abril, em 50 anos, produziu o melhor que temos, mas também nos legou cinquenta maus exemplos, que a democracia, mau grado o que a movia de raiz, deixou gerar, nascer, crescer, no seu pródigo encanto de garantir liberdades e garantias, mesmo para aqueles que, agonizantes, a odiavam e esperavam a sua hora. São 50 nódoas, a democracia é a responsável. Em mar de cravos vermelhos, temos agora um triste ramo de cravos negros. Não simboliza, esse negrume,…
Ler maisCrónica de Alexandre Honrado | A AMNÉSIA HISTÓRICA E O GLOBAL (o fenómeno mais perigoso que enfrentamos)
Crónica de Alexandre Honrado A AMNÉSIA HISTÓRICA E O GLOBAL (o fenómeno mais perigoso que enfrentamos) Tenho sempre presente a velha frase de um professor, desses que marcam e que legam, isto é, desses que ensinam, que a leitura pela leitura traz sempre dividendos, mas a nossa capacidade de seleção dessa leitura terá resultados mais eficazes. Assim sendo, não é a consulta de todos os conteúdos propostos por todas as prateleiras da biblioteca mais próxima, mas a atenção aos livros que elegemos da nossa (por vezes dolorosamente conseguida) biblioteca…
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