Opinião Política | Roberto Martins [PS] — Analisa as Eleições Legislativas – Vitória de Pirro
A AD venceu as eleições e todas as vitórias são meritórias. Parabéns à AD e a Luís Montenegro, que deverá ser indigitado Primeiro-Ministro.
Dito isto, a vitória de Montenegro é pírrica, curta e acarreta riscos sérios para o panorama político português, agora caído num pântano de onde não se vislumbra saída.
Convém lembrar como aqui chegamos. A sete de novembro de 2024 demite-se o Primeiro-Ministro, António Costa, na sequência de um comunicado do Ministério Público que o envolvia em suspeitas de crimes. De seguida, o Presidente da República decide-se pela dissolução da Assembleia da República, alegando não haver condições de governabilidade.
Caia, assim, uma maioria parlamentar estável. Podemos dizer que os meses anteriores tinham sido de elevada instabilidade no Governo, e é verdade, mas a maioria parlamentar estava intacta, incólume e legitimada pelas eleições anteriores. Mesmo assim, a dissolução foi a opção escolhida.
E agora, pergunta a nação, que estabilidade governativa terá um governo, apoiado por “apenas” 79 deputados, e que se recusa a chegar a entendimentos com as duas forças políticas que lhe poderiam dar o apoio necessário para aprovação do próximo orçamento?
Não pretendo, nem o poderia fazer, criticar a escolha feita pelos cidadãos portugueses, nestas legislativas, mas todos os responsáveis, desde o Partido Socialista, ao Presidente da República, têm de refletir sobre as atitudes e escolhas que nos deixaram neste pântano governativo.
O PS, partido do qual sou militante, tem, necessariamente, de rever e corrigir o que correu mal, e o impediu de terminar uma legislatura, onde dependia apenas de si. Os portugueses falaram, e querem que o PS agora lidere a oposição, e é exatamente isso que Pedro Nuno Santos deve fazer. Não deve ser muleta de uma AD frágil na governação, pois se os portugueses quisessem que o PS fizesse parte da solução governativa, teriam nos dado a vitória.
A AD deve, com toda a legitimidade, governar, mas não vejo como o possa fazer quando a própria se recusa a negociar com as duas únicas forças políticas que lhe poderiam tornar possível essa governação.
No caso do Chega, seria mesmo escandaloso que, agora, Montenegro desse o dito por não dito, e aceitasse fazer negociações com quem afirmou, várias vezes, durante a campanha, que nunca o faria. Ainda existe, espero eu, palavra e coerência na política.
Esperam-nos tempos complicados, com um Governo muito frágil, e um Parlamento dividido entre duas grandes forças políticas e uma média.
Dos restantes partidos políticos, destaco mais uma descida na representatividade da CDU, que até em bastiões tradicionais, onde nunca havia perdido, perdeu. É pena. Faz falta à democracia a CDU, mas se não quer desaparecer, tem rapidamente de “sair do século XX”.
O Livre teve um crescimento notável, fruto da capacidade do seu líder em fazer passar uma mensagem moderna e jovem, mas também do bom desempenho de Rui Tavares, nos debates.
Tudo isto e, no entanto, receio que muito em breve, estejamos, novamente, em eleições legislativas.
Roberto Martins
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