OPINIÃO POLÍTICA | Matilde Batalha (PAN) – Violência no Namoro

OPINIÃO POLÍTICA | Matilde Batalha (PAN)
Violência no Namoro

 

No passado dia 10 de abril o PAN Mafra organizou uma Digital Talk dedicada ao tema da Violência no Namoro, que se encontra disponível nas redes sociais e no link https://bit.ly/3gbqI7I. A Violência no Namoro integra-se no quadro legal de violência doméstica e é a perpetração ou ameaça de um ato de violência por um dos membros da relação no contexto de namoro, ou quando um dos parceiros tenta exercer controlo sobre o outro através de abuso ou violência.

De acordo com o mais recente estudo (2020) da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), 67% dos jovens consideram legítima a violência no namoro, dos quais 26% acham legítimo o controlo, 23% a perseguição, 19% a violência sexual, 15% a violência psicológica, 14% a violência através das redes sociais e 5% a violência física.

Neste estudo, 25% acham aceitável insultar durante uma discussão, outros 35% que é aceitável entrar nas redes sociais sem autorização, 29% que se pode pressionar para beijar e 6% entendem mesmo que podem empurrar/esbofetear sem deixar marcas.

No que diz respeito às diferenças por género, é sempre por parte dos rapazes que a legitimação é maior, com destaque para o comportamento “pressionar para ter relações sexuais”, em que a legitimação entre os rapazes (16%) é quatro vezes superior à das raparigas (4%).  A violência no namoro, tal como a generalidade da violência doméstica afeta desproporcionalmente um dos géneros e pode ocorrer de forma pontual ou contínua e ser perpetuada por relações passadas e atuais.

O estudo mostra ainda que 58% dos jovens inquiridos admitiram já ter sofrido de violência no namoro, havendo 20% que admitiram ter sofrido violência psicológica, 17% terem sido vítimas de perseguição ou ainda 8% vítimas de violência sexual.

Em mais de 75% dos casos as vítimas não apresentaram queixa do(a) agressor(a) sendo as causas mais frequentes da prática da violência os ciúmes e os problemas mentais das pessoas agressoras. Há um código de silêncio dos(as) jovens que é difícil de quebrar, associado a vergonha e culpa. Há também medo da pessoa se reconhecer como vítima pelo receio de represálias. Prevê-se que o confinamento tenha aumentado estes números, sobretudo no espaço cibernético.

Muitas serão as razões para que a vítima não se proteja e se mantenha na relação, bem como para que o agressor(a) tenha este tipo de comportamento (doença mental, repetição padrões familiares, preconceitos sociais, etc.).

Estes dados demonstram um importante caminho a fazer para diminuir estes números e estimular relações mais saudáveis. O foco das ações de sensibilização, quer nas escolas e outros contextos (nomeadamente para as famílias) deverá ser na identificação em primeiro lugar dos sinais de alerta de se puder estar a ser vítima ou agressor(a) e em segundo lugar, em como pedir ajuda, divulgando os apoios existentes. A educação deve contemplar a sensibilização e educação para a empatia, para regulação e gestão emocional. Pessoas bem informadas e emocionalmente capacitadas, têm maior sentido de autocrítica, avaliam melhor a realidade e tomam melhores decisões.

No que diz respeito à intervenção há trabalho a fazer, quer no apoio prestado às vítimas em todas as fases do processo, quer na intervenção terapêutica (importante ser disponibilizada a todos os intervenientes) que sabemos ser quase inexistente, na medida em que o investimento em saúde mental tem sido descurado.

O tema é vasto e complexo, sendo cada caso um caso. Como coletivo é importante estarmos atentos a todas as formas de maus tratos e injustiça de forma a caminharmos para uma sociedade mais igualitária e saudável.


Matilde Batalha
Psicóloga clínica e deputada municipal pelo PAN

 


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