Ao falarmos em dinheiro, automaticamente, pensamos em euros, mas a moeda da sociedade capitalista tem assistido à explosão das designadas “moedas sociais”: moedas criadas numa comunidade, com limitação geográfica, para fomentar a troca entre bens e serviços no seu seio, promover a economia local e reduzir as desigualdades sociais provocadas pelas moedas tradicionais.
O fenómeno das moedas sociais, tal como hoje são conhecidas, iniciou-se nos anos 80 e tiveram uma explosão nos anos 90. Em Portugal, só há cerca de 10 anos surgiram as primeiras, mas com o crescimento que têm tido, vários especialistas têm-se dedicado a estudar o assunto que, ao que tudo indica, veio para ficar. Curiosamente, nos anos 20, no nosso país, vários municípios criaram as suas próprias moedas para fazerem face à desvalorização do escudo, numa crise económica sem precedentes.
Quase 100 anos depois, as moedas sociais viraram moda, tal é o sucesso que têm tido nas comunidades onde estão implementadas. Quem tiver dúvidas que veja a experiência feita numa favela no Brasil e bem expressa no documentário “Quem se importa?”. Nele é contada a história de um grupo de empreendedores sociais que olhavam à sua volta e só viam pobreza e miséria no bairro social. Decidiram fazer uma espécie de inventário da quantidade de dinheiro que todos os meses entrava na favela, e por cada fonte de receitas faziam uma bola de papel e colocavam num caixote. Entre salários, reformas, subsídios de reinserção social e subsídios de desemprego, o certo é que o caixote ficou a transbordar de papéis. Afinal, o problema não era o dinheiro que entrava mas o dinheiro que ali não ficava, uma vez que os habitantes tinham de sair do bairro para se abastecerem de todo o género de produtos e de serviços. Criaram então uma moeda social – o palmas – a ser utilizada pelos seus habitantes e apenas dentro do bairro. Em poucos meses, abriram-se pequenas empresas (mercearias, cafés, cabeleireiros, lavandarias, …), criaram-se postos de trabalho, promoveu-se a inclusão social, aumentaram-se os rendimentos dos habitantes e várias famílias saíram de situações de pobreza, o que representou um acréscimo na qualidade de vida.
Ao contrário do sistema capitalista, a riqueza das moedas sociais está no facto destas proporcionarem uma fluidez na sua transação e não na acumulação desmesurada. A prosperidade de uma comunidade só é possível quando o dinheiro e as mercadorias estão constantemente a circular e as pessoas têm o necessário para viverem com dignidade. Este tipo de moedas tem concedido algum poder de compra a populações economicamente desfavorecidas, que vêm assim suprimidas as suas necessidades em termos de alimentação, vestuário, saúde, educação e lazer.
Em Portugal, as moedas sociais são mais dinamizadas por juntas de freguesias, associações e feiras de trocas. Exemplos disso são o LAPAS na Covilhã, o Mayor em Campo Maior ou o LIXO em Campolide. Nesta freguesia de Lisboa, a moeda, criada pela Junta de Freguesia local, visou combater dois problemas: o abandono do comércio local e a falta de reciclagem feita pelos habitantes do bairro lisboeta. A Junta de Freguesia local dá uma moeda Lixo (equivalente a 1 euro) por cada quilo de resíduos. Em 2 meses, já havia 7500 LIXOS a circularem no bairro e o presidente da junta considerava a medida “um autêntico sucesso”!
Claro que as moedas sociais têm as suas limitações: ainda não é possível pagar-se determinados serviços com elas, são geograficamente restritas e durante as trocas de produtos e serviços não se pagam impostos. Contudo, são um fenómeno social e económico em expansão e certamente o futuro passará por contactarmos com algumas delas.
O PAN Mafra, em colaboração com Filipe Moreira Alves, irá promover uma palestra sobre Moedas Sociais, no sábado, 17 de Fevereiro, das 10h30 às 12h00, no Auditório D. Pedro, em Mafra, com entrada gratuita. Se ficaste curioso(a) e queres saber mais, aparece! Contamos contigo!