(In)Tolerâncias Alimentares
Em pleno século XXI, depois de um trabalho notório no que concerne à luta contra inúmeras formas de discriminação, tem-se assistido nos últimos anos a um novo preconceito relacionado com as preferências alimentares de cada um.
A comida, que tem como finalidade social juntar pessoas, promover o diálogo e o convívio, tornou-se a nova arma de arremesso da intolerância para com os outros. O que deveria ser uma fonte de união é por vezes motivo de atritos e de desgaste das relações entre pares. A ridicularização e a crítica constante pelas opções alimentares dos outros fazem hoje parte do nosso dia-a-dia de uma forma tão natural, que só quem passa por isso constantemente se apercebe desta nova forma de discriminação social.
Nos últimos 20 anos assistiu-se à proliferação de segmentos de consumidores no que toca à alimentação e hoje há para todos os gostos: omnívoros, piscívoros, vegetarianos, vegans, ovo-lacto vegetarianos, paleos, naturistas, macrobióticos, crudívoros, os adeptos do detox, da alimentação 100% bio, do gourmet e da haute cuisine, entre um sem-fim de nichos que ou excluem ou consomem em demasia um ou mais alimentos.
As refeições em família e os jantares de grupo ou eventos têm agora de oferecer um vasto leque de opções para satisfazer não só a necessidade humana de nos alimentarmos como a necessidade de usarmos a comida como uma forma de expressar as nossas convicções pessoais. André Silva, deputado do PAN na Assembleia da República defende que “comer é um ato político”. Uma boa parte dos(as) consumidores(as) de hoje está mais informado(a) acerca das implicações ambientais, sociais que estão pode trás das compras que fazemos, bem como do sofrimento animal associado à produção intensiva de carne. A isto acresce uma maior consciência dos efeitos da alimentação nos nossos corpos físicos, mental, emocional e espiritual.
Há um preconceito generalizado que os(as) filiados(as) dirigentes e simpatizantes do PAN têm de ser todos vegetarianos ou pelo menos que não deverão comer carne. O PAN foi o primeiro partido português a falar de bem-estar animal, colocando o Biocentrismo na boca dos(as) portugueses(as). Contudo, sendo um partido político com carácter holístico não seleciona as pessoas pelas suas preferências alimentares, havendo todo o género de pessoas que se revêm nos valores PAN a colaborarem com o partido.
O PAN defende práticas de produção alimentar mais sustentáveis, mais amigas dos animais, da natureza e da saúde humana e defende também uma correta educação alimentar. Defende o direito à informação e à escolha individual. Torna-se portanto importante a partilha de informação fidedigna acerca da influência dos alimentos no nosso organismo. No dia 9 de fevereiro deste ano o PAN levou a debate a possibilidade incluir nos rótulos dos produtos alimentares um descodificador que assenta num código de cores, identificando os nutrientes mais saudáveis a verde, os que devem ser moderados a amarelo e os que devem ser evitados a vermelho. Na origem destas preocupações do PAN estão muitos estudos científicos e o relatório de 2015 da Organização Mundial de Saúde, onde se alerta para o perigo do consumo de carne processada. Presunto, salsichas, bacon, fiambre e molhos e preparados à base de carne, foram incluídos no grupo 1 onde constam os agentes “carcinogéneos para o ser humano”.
De acordo com a informação científica disponível “cada 50 gramas de carne processada ingerida, por dia, aumenta o risco de cancro colo-rectal em 18 por cento”, existindo uma correlação entre a ingestão destes alimentos e o cancro. Infelizmente não foi aprovada esta recomendação pela Assembleia da República.
Transmitida a informação necessária à população sobre as vantagens e as desvantagens das opções alimentares que existem, sobre o impacto ambiental e a forma como são produzidos os alimentos, cabe a cada indivíduo responsabilizar-se em consciência por algo tão pessoal como é o acto de comer. Só através do respeito pelas escolhas dos nossos semelhantes, poderemos viver numa sociedade realmente mais tolerante, mais fraterna e mais humana.