QUALIDADE DE VIDA – I
Todos nos habituámos a ouvir falar em qualidade de vida. ‘Aqui a qualidade de vida é melhor do que ali’. ‘Gosto de viver nesta terra porque tenho qualidade de vida’. De tanto falar nela acabamos por a encarar como algo que consumimos; que temos ou devemos consumir. Mas será que sabemos o que é ‘Qualidade de Vida’ e como é ela avaliada?
Irei dedicar este e o próximo artigo a este conceito que tão evocado é por todos os intervenientes na vida das populações, políticos, dirigentes autárquicos, prestadores de serviços, agentes imobiliários, gestores de empresas, investidores, operadores turísticos, prestadores de cuidados de saúde, etc. e à sombra do qual incham contas bancárias privadas e receitas orçamentais públicas, estas por via de uma fiscalidade por vezes a roçar o esbulho.
De um modo geral confunde-se qualidade de vida com nível de vida, ou seja, levados por técnicas meramente políticas e economicistas, acabamos por não nos aperceber que as atividades financeiras que ignoram o sentido e o valor social, tais como os impostos, as taxas, os custos com a saúde, com as forças de segurança, ou perversamente os custos ambientais inerentes a certas atividades económicas, acabam por entrar na contabilização dos componentes que potenciam o nosso nível de vida e o bem-estar social. O problema é que este pretenso desenvolvimento económico não beneficia toda a comunidade e em certos casos agrava mesmo as suas desigualdades sociais.
Pelo contrário, a qualidade de vida deverá incrementar a participação da população no normal desenrolar da vida comunitária, valorizando as suas perceções e incentivando as suas reais capacidades de influenciar e mesmo modificar a trajetória das suas vivências enquanto comunidade.
Do que acabei de dizer é fácil inferir que é possível definir um índice que englobando diversos fatores, torna mensurável a tal ‘Qualidade de Vida’ de que tanto se fala. Desde logo como componente primeiro surge a aferição dos patamares de cidadania efetiva atingidos, bem como a inerente participação cívica. Depois, como variável seguinte deverão ser aferidas as condições sociais existentes no local (condições efetivas de vida, oferta de bens e serviços e, muito importante, o acesso a essa oferta) que possibilitam a sua manutenção, desenvolvimento e renovação. De capital importância como fator mensurável, é a atuação dos poderes públicos, dos agentes sociais e da iniciativa privada, sendo estes atores responsáveis em partes iguais, pelo desenvolvimento social da comunidade.
Por último o mais importante dos vetores que influenciam o índice de medida da ‘Qualidade de Vida’: a saúde em geral e no trabalho em particular. No que a ela diz respeito, é imperativo que os indicadores incorporem diversos valores sociais consensualmente relacionados com a saúde e o bem-estar de cada um, tais como o estado da saúde tanto individual como coletiva, o grau de satisfação e claro, as aspirações associadas à existência ou ausência de limitações funcionais, não se podendo ignorar o desempenho dos serviços públicos e o entendimento de condicionantes económicas, ambientais e sociais que inevitavelmente afetam o sentimento de bem-estar e imiscuindo-se no direito a uma vida saudável.
Estas dimensões de origens tão diversas submetem o índice ‘QV’ a uma permanente avaliação da realidade local do cidadão. Essa aferição constante é o motor que pressiona e incrementa a teia de contributos, a maioria deles externos, que envolvem as necessidades básicas, vetores fundamentais da qualidade de vida e do bem-estar dos cidadãos num determinado local ou região. Por isso a Organização Mundial de Saúde refere-se sempre a ‘Qualidade de Vida e Saúde’ como sendo: “…a perceção do indivíduo sobre a sua posição na vida, dentro do contexto dos sistemas de cultura e valores nos quais está inserido e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.”i
Na parte II deste artigo veremos com utilizar a tabela WHOQOL na aferição da qualidade de vida e saúde existentes no Concelho de Mafra..
Mafra, 21de Março de 2018
Mário de Sousa
i WHOQOL Group, 1994, p. 28).