OPINIÃO POLÍTICA | Mário de Sousa – Prova de Vida ou Os Três Tristes Tigres!

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Prova de Vida ou 0s Três Tristes Tigres!

Talvez tenham existido ‘um tempo e um lugar’ onde o cidadão procurava nos gestos dos políticos uma orientação para a sua cidadania, e nesse exercício um adversário era isso mesmo, um ADVERSÁRIO, o que possibilitava uma convivência de respeito pelas convicções recíprocas sedimentado em valores éticos. Ser ADVERSÁRIO implicava a assunção de uma entidade distinta do outro, não correr atrás de convergências ocasionais ou furtuitas, de interesse pontual e como tal fugaz. Acordos políticos podiam acontecer mas as ideias de cada um, os princípios de cada um, não podiam ser negociados em detrimento deles mesmo. Talvez! Mas este Shangri-la se alguma vez existiu, foi em tempos tão pretéritos que a sua memória hoje, é residual e utópica.

O mundo mudou, a política tornou-se uma amálgama porosa que se impregnou do pragmatismo, dos negócios e lentamente foi perdendo a sua força ética, fundamento de todas as esperanças.

Sem se escamotearem avanços significativos durante este processo, muitas ilusões ficaram pelo caminho e os atores políticos numa atitude de sobrevivência esquecem a dignidade da ‘ética da convicção’; a realpolitik é-lhes essencial para a conquista dos eleitores (cidadãos) e para a conservação do poder. Diluem por isso estas intenções numa auto proclamada ‘ética da responsabilidade’ que como sabemos, é de muito discutível aplicação.

Max Weber distinguiu Ética da Convicção da Ética da Responsabilidade afirmando que quanto maior for o grau de inserção de um ator político na cena política, maior será a divergência relativamente às suas convicções pessoais passando a adotar comportamentos determinados pelas circunstâncias. ‘Esta deriva das suas convicções e suposições pessoais bem como a adoção de medidas muitas vezes contraditórias, são determinadas pela ética da convicção e pela ética da responsabilidade. i

Vem isto a propósito da tomada de posse dos novos SMAS de Mafra passo essencial para a reversão do contrato existente com a BeWater para a distribuição de águas e saneamento público. Como é sabido, este processo que se arrasta desde meados de 2017 está longe de estar terminado. As posições estão extremadas, os valores oferecidos pela Camara de Mafra fizeram gargalhar a BeWater que respondeu com uma ação judicial cuja decisão em tribunal será conhecida durante o 1º semestre de 2019. Ganhe quem ganhar a outra parte recorrerá e, tratando-se de um tribunal administrativo, teremos sentença dentro de 2 a 3 anos. Não é displicente lembrar que o contrato com a BeWater termina já em 2025. As coisas não andam, não existem novidades e o tempo escasseia. Em casos destes é necessário fazer-se uma ‘prova de vida’; e é neste contexto que a administração dos ‘novíssimos’ SMAS toma posse.

Com o PSD a nível nacional a tostar em fogo lento não augurando nada de bom, o executivo da CMM resolve por as barbas de molho e joga num bloco central. Se a ação se arrastar no Tribunal Administrativo, o acórdão pode acontecer mesmo em cima das próximas eleições autárquicas e, porque ser pragmático é ser prático, é ter objetivos definidos, é fugir do improviso, num golpe de pragmatismo o PS aparece a ‘vogalisar’ a administração eleita depois de rejeitar o aumento do IMI mas votar a favor de um orçamento que se alimenta desse mesmo IMI.

Weber tinha razão quando dizia que ‘Esta deriva das suas convicções e suposições pessoais bem como a adoção de medidas, muitas vezes contraditórias, são determinadas pela ética da convicção e pela ética da responsabilidade’ …ou falta delas acrescento eu.

Terá o Presidente do executivo camarário cantado para o novo vogal a cantiga dos Três Tristes Tigres ‘O Mundo a Meus Pés’? Diz a letra:

‘Faça o favor
De entrar sem pedir licença.
Não pense no que diz
Nem diga o que pensa. 

Faça o favor
De entrar sem fazer barulho
Rien ne va plus
Aprenda a jogar seguro.’

E assim se constrói em Mafra um bloco central. Estava escrito e não era nas estrelas.

 

Mafra, 10 de Dezembro de 2018
Mário de Sousa

 


i Referência: Max Weber on the Ethics of Conviction and the Ethics of Responsibility

Max Weber on the Ethics of Conviction and the Ethics of Responsibility

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