Gato escondido com rabo de fora – A escolas e o emprego em Mafra
Cumprindo a tradição de sossegar consciências e de estabelecer dúvidas, foi publicado o Raking das Escolas referente ao ano letivo 2017/2018. E surgiram notícias de cariz social, político, socioprofissional, educacional, pedagógico, informação que levará semanas senão meses a esgotar, até porque falta ao Ministério da Educação publicar números tão importantes como a Taxa de Retenção não sendo de menosprezar a possibilidade de esta ter aumentado.
Não tenho formação na área das Ciências da Educação mas isso não me impediu de ter proporcionado aos meus filhos a educação necessária a que hoje, já maiores, possam ser autossuficientes com percursos escolares diferentes, mas ambos bons profissionais naquilo que fazem e realizam. Interpreto por isso que tão importantes são os resultados escolares em testes internos e exames nacionais como o que dos resultados individuais se extrai para a empregabilidade do estudante e para a realização das suas tarefas profissionais hoje sujeitas a escrutínios apertados em contraponto com o que se exige às escolas.
Os resultados escolares tanto no ensino público como no privado podem ser manipulados para se ganharem ‘uns lugarzitos’, já o desempenho profissional dos jovens não pode esconder a insuficiência dos seus conhecimentos quando chamados a prestarem desempenho na produção de trabalho. Aí as coisas medem-se na produtividade alcançada e faz parte dessa produtividade o que é bem feito (que a faz subir) e o que é mal feito (que a faz descer). Quem produz mal é rejeitado; quem produz bem tem possibilidades de se manter no empregado ou arranjar outro emprego.
Para que as coisas tenham corrido bem foi importante o apoio que os meus filhos tiveram por parte da mãe e do pai, que procuraram sempre incutir-lhes a ideia de que é mais importante perceber que ‘decorar’ e que se trabalharmos para construir um bom esqueleto ser-nos-á mais fácil conseguir atingir objetivos. Considero por isso que uma parte substancial do trabalho que se realizar em casa e nas escolas deverá privilegiar a ideia de que o futuro só pode ser promissor se todos colaboramos no triângulo Pais / Escola / Alunos. Para que isto seja possível, os Pais têm de ter disponibilidade para acompanharem os sucessos e insucessos dos Filhos. A estabilidade no emprego e os salários auferidos pelos progenitores são os vetores mais importantes para que isso aconteça.
Com tudo isto na cabeça olhei e li os números conseguidos pelas escolas do Concelho de Mafra mau grado toda a ‘Paixão pela Educação’ do executivo camarário. Não que ele tenha ‘culpa’ no mau desempenho dos alunos mas porque este mau desempenho destapa um dos graves problemas sociais do nosso Concelho, o emprego precário e mal remunerado.
Vejamos o Quadro 1:
Ensino Básico Público: 4 Escolas. 3 subiram na Posição Geral com relevo para a António Bento Franco e 1 desceu. No entanto, estas subidas em que só uma subiu acima do meio, esconde o fato de 3 descerem no Ranking de Sucesso ou seja, os alunos que chegaram ao fim e concluíram com sucesso foram menos do que em 2017. E isto quando o número de Alunos c/Ação Social Escolar aumentou substancialmente. Sobe-se na Posição Geral e desce-se no sucesso?
Ensino Secundário Público: A Escola Secundária José Saramago desceu 52 lugares na Posição Geral, desceu 40 lugares no Sucesso e subiu nos apoios da Ação Social Escolar. A Taxa de Retenção em 2017 foi 31,79%.
Quadro 1
No Quadro Escolaridade dos Pais o que se verifica é que onde a escolaridade é mais elevada acontecem os piores resultados.
Uma das principais ilações que se podem retirar destes números vem evidenciar o que já se sabia: o Concelho de Mafra, mau grado o baixo índice de desemprego existente, alberga uma elevada taxa de emprego precário e mal remunerado obrigando muitos Pais a duplo emprego e/ou a recorrerem a horas extraordinárias. Mesmo despejando dinheiro sobre a Ação Social Escolar não se está a resolver o problema que se agrava, isto tudo em paralelo com o sucesso turístico da região. Que este sucesso gerou enormes verbas é um fato mas o que se questiona é quem foram os usufrutuários de todo esse sucesso?
Com estes resultados na formação escolar de jovens que argumentos de contratação se poderão usar para a atração de empresas tecnológicas de ponta? Que estamos perto de Lisboa? É pouco mas é o único argumento válido.
Mafra, 20 de Fevereiro de 2019
Mário de Sousa
NOTA: Os dados apresentados foram recolhidos em:
https://expresso.pt/ranking-das-escolas-2018#gs.VBnx16Vz
https://www.publico.pt/ranking-escolas-2018/em-que-lugar-ficou-a-sua-escola#-1109
(1)As informações relativas às taxas de retenção reportam a 2016/2017 (últimos dados disponíveis).