Opinião Política | Mário de Sousa (CDS-PP) – Morfeu e os seus comprimidos

Opinião Política | Mário de Sousa (CDS-PP)
Morfeu e os seus comprimidos

 

 

Corria o ano de 2000 quando se estreou nos cinemas portugueses ‘Matrix’[i]. O filme algo estranho para a altura, fala-nos de uma sociedade escrava das máquinas. A internet tinha aparecido há meia dúzia de anos e o argumento e sobre uma plataforma onde corre uma rede Matrix que a todos absorve e controla.

E lembrei-me disto ao ler uma crónica de Luis Pedro Nunes na revista Expresso desta semana. Durante o filme acontece um diálogo entre dois personagens Morpheus[ii] [iii]e Neo[iv]. Morpheus coloca a Neo a possibilidade de escolha na toma de um de dois comprimidos, um vermelho e outro azul. Numa tradução livre Morpheus diz o seguinte:

‘Se escolheres o comprimido azul a história acaba aqui… acordas na tua cama e acreditas no que quiseres. Se tomares o comprimido vermelho ficas no país das maravilhas e eu mostro-te quão fundo é a toca do coelho”.

Ora esta escolha azul / vermelho, de comprimidos, continua a acontecer com a sociedade portuguesa: 34,6% dos portugueses, ao acreditar no governo de António Costa continua a optar por tomar o comprimido vermelho acreditando que Portugal é o país das maravilhas a avaliar pelas últimas sondagens.[v]

Uma das razões porque isto acontece é o efeito da intoxicação PRR ou seja, dos milhões que aí veem, a fundo perdido, e que vão ser despejados sobre o povo afogando os seus problemas em grandes envelopes financeiros. Se os portugueses lessem com atenção o PRR – Recuperar Portugal, Construindo os Futuro – Plano de Recuperação e Resiliência[vi], rapidamente chegariam à conclusão de que com papas e bolos se enganam os tolos.

Este documento cheio de ideias vagas limita-se a repetir como promessas o que nos vem dizendo há anos sem contudo esclarecer objetivos nem a forma como se pretende lá chegar. Diz-nos até à saciedade que vamos crescer muito mas não nos apresenta qualquer número ou previsão de quão grande será esse crescimento. Quantas posições relativas é que Portugal vai conquistar aos seus parceiros europeus? O que sabemos é que até agora por regra, temos crescido menos que os nossos parceiros mais relevantes e por isso a pergunta não respondida é: com o PRR quantos lugares vamos recuperar?

Um indicador importante em que fomos perdendo posições nos últimos anos é o PIB per capita[vii] o que quer dizer que a nossa riqueza por habitante tem vindo a diminuir. A pergunta não respondida pelo PRR é: com o PRR quantas posições é que vamos recuperar? Ou seja vamos passar à frente de quantos e quais países nossos concorrentes?

Também de grande importância é o indicador ao nível do bem-estar económico dos portugueses – o salário médio. O PRR deverá ter um efeito saudável na nossa economia. Como é que esse efeito benéfico se concretizará no que ao salário médio diz respeito? A pergunta não respondida é: como e quanto é que os portugueses vão sentir ao fim do mês naquilo que é a sua retribuição, o efeito de um plano de investimentos com a dimensão anunciada?

Muito preocupante é a forma como o governo procura esconder o pendor de investimento no estado deste PRR em detrimento das empresas privadas, apontando-nos claramente o ‘comprimido vermelho’ e empurrando-nos para a toca sem fundo do coelho. Com muita retórica e ideias de um país das maravilhas apresenta-nos o governo duas ideias miríficas: agendas mobilizadoras e conceitos de co promoção. Com isto, e aqui entramos sem dúvida numa toca de coelho profunda e muito escura, diz o governo que iremos alcançar até 2030 (em 9 anos apenas), um aumento de 56% das exportações no PIB, um aumento do investimento em ID de 3% do PIB e para não sermos modestos uma redução de 55% nas emissões de CO2. E como? Convidando o governo Universidades e Empresas para estas agendas mobilizadoras que no discurso do governo, serão chamadas a fazer candidaturas de qualidade. Na verdade o governo irá convidar algumas Universidades e algumas Empresas a dividirem o bolo e a responsabilidade de atingirem os tais objetivos prometidos a Bruxelas e escondidos de todos nós. E a pergunta será: quais serão essas Universidades e Empresas? E quantas agendas mobilizadoras? E sobre que temas? E qual será o seu papel?

Por fim aquela que estará mais no fundo da toca a ‘co promoção’ entre o público e o privado. Para existir uma co promoção ou seja candidaturas desenvolvidas por em conjunto por entidades públicas e privadas convém saber a resposta a outra pergunta não respondida: quais Universidades e Empresas, se podem candidatar a estas co promoções? Quem promove quem? E em que áreas e em que temas?

Mas nada se sabe, ou por outra, sabe-se apenas que as candidaturas a estas agendas e a estas co promoções exigem manifestações de interesse até Setembro deste ano. Talvez não passem de manifestações de interesse sobre a escuridão da tal toca de coelho prontinha a receber quem tenha optado pelo comprimido vermelho.

 

Mafra, 30 de Junho de 2021

Mário de Sousa


[i] https://pt.wikipedia.org/wiki/Matrix

[ii] https://pt.wikipedia.org/wiki/Morfeu

[iii] https://en.wikipedia.org/wiki/Morpheus_(The_Matrix)

[iv] https://pt.wikipedia.org/wiki/Neo_(Matrix)

[v] https://observador.pt/2021/06/21/ps-de-costa-cai-e-direita-recupera-nas-sondagens/

[vi] https://www.portugal.gov.pt/pt/gc22/comunicacao/documento?i=recuperar-portugal-construindo-o-futuro-plano-de-recuperacao-e-resiliencia

[vii] https://www.pordata.pt/Portugal/PIB+per+capita+(base+2016)-2297


Mário de Sousa
Empresário, Presidente da Comissão Política Concelhia de Mafra do CDS-PP

 


Pode ler (aqui) outros artigos de opinião de Mário de Sousa



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