Exige-se respeito Senhores membros do Governo!
“A literatura cria cidadãos críticos, que não se deixam manipular e têm a capacidade de projetar-se em direção a um futuro menos ruinoso, menos medíocre.”[i]
Não é por acaso que durante todos estes anos de democracia, a luta dos partidos políticos tem sido intensa no que concerne à imposição de modelos de ensino. Por isso, sempre que muda a cor política de uma legislatura, tudo é desmantelado. As sucessivas remodelações que têm desarticulado o sistema de ensino conduziram-no ao estado comatoso em que se encontra. Os jovens não sabem ler nem escrever e como tal, todas as outras disciplinas sofrem e muito, com a incapacidade têm de interpretar e perceber o que leem nos manuais ou ouvem o que os professores/as lhes dizem.
E, com processos artificiais de avaliação, lá se vão arrastando até terminarem o ensino obrigatório, passando a fazer parte dos números que nos colocam como nação escolarizada. Mas na maior parte dos casos tudo isto é enganador. O que se criou foi uma massa anónima de jovens adultos que pouco ou nada de útil sabem para singrarem na vida após escola. E se já seria difícil o primeiro emprego, sem qualquer espécie de qualificação acabam a engrossar a lista de precários que dificilmente terão progressão numa carreira e onde os aumentos salariais estarão sempre indexados não às suas competências profissionais, mas sim aos aumentos políticos do ordenado mínimo nacional.
Chegados ao fim de 2020 e em plena pandemia, temos uma massa enorme de portugueses que se deixam ‘comandar’ por uma espécie de ‘paizinho’ que lhes vai dando reprimendas e acenando com prémios como aconteceu com Liga dos Campões (prémio para os profissionais de saúde, que saiu muito mais barato do que pagar-lhes a integração nos quadros) e agora a ideia de que se ‘o pessoal se portar bem até pode ser que tenham um Natal decente’.
Este tipo de atuação do governo que quando surge um problema diz logo que já vai ser lançado um concurso para admissão de …, concurso que depois não passa do papel, ou ainda a notícia do Tribunal de Contas sobre o Programa Operacional de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas (POAPMC) que diz:
“Em finais de 2019, o Programa apresentava uma taxa de execução de apenas 32%, apesar da taxa de compromisso se situar nos 92%, tendo sido providenciado apoio alimentar e algumas medidas de acompanhamento, mas não o apoio material de base que também tinha sido previsto, como por exemplo vestuário, calçado, artigos de higiene ou material escolar.”[ii]
só acontece porque a massa anónima da população não tem qualquer capacidade crítica, de escrutínio nem percebeu até hoje o verdadeiro problema desta pandemia que nos dizima. Age por estímulos quase primários de causa/efeito, isto é, se não te portares bem tens um castigo.
E enquanto discute se no confinamento podemos ir ao ‘super’ ou ao café, enquanto se procura furar o estabelecido, ninguém dá conta de que de forma encapotada todos nós podemos ser cerceados nas nossas liberdades com a cumplicidade da nossa Assembleia. Vejamos o que ninguém discutiu sobre as novas medidas do novo estado de emergência que entraram em vigor em 9 de Novembro às 00h:
“…4. A mobilização de recursos humanos para reforço da capacidade de rastreamento (ex: realização de inquéritos epidemiológicos, rastreio de contactos, seguimento de pessoas sob vigilância ativa), nomeadamente:
- Trabalhadores em isolamento profilático;
- Trabalhadores de grupos de risco;
- Professores sem componente letiva;
- Militares das Forças Armadas. “
Num país com mais de 400.000 desempregados e uma função pública há meses em casa a ganhar o ordenado por inteiro, quem é que o governo pensa mobilizar?
1º Trabalhadores em isolamento profilático;
- Correm o risco de irem parar ao hospital mas para se entreterem e não pensarem nisso, vão trabalhar de borla para o Estado. Quem lhes paga o tempo despendido, a internet e as chamadas telefónicas?
2º Trabalhadores de grupos de risco;
Não se entende bem o que se pretende. Será colocar doentes cardíacos, diabéticos, portadores de doenças autoimunes, grávidas, idosos com mais de 60 anos, doentes com baixas de longa duração, etc a trabalharem para o Estado?
3º Professores sem componente letiva;
Um espanto! Onde estão estes professores quando o que existe são escolas que por esta altura do ano letivo continuam com horários por preencher? Os professores continuam a ser um ódio de estimação do Governo.
4º Militares das Forças Armadas.
Não se percebe porque é que desde o início a Forças Armadas não tiveram de imediato um papel vincado no combate à epidemia. É a questão ideológica de um governo que governa por ‘quintinhas’ e entende sempre tarde as medidas que deve tomar.
E o que é que a população portuguesa diz disto? Nada, porque se deixou adormecer por conferências de imprensa e notícias sobre o atual concurso nacional de saber quantos infetados tivemos hoje, quantas mortes aconteceram e quem é que teve mais: Lisboa ou o Porto.
Somos cidadãos acríticos que não “têm a capacidade de projetar-se em direção a um futuro menos ruinoso, menos medíocre.”
Exige-se respeito Senhores membros do Governo!
[i] Mario Vargas Llosa – Revista Expresso 31/10/2020
[ii] https://www.tcontas.pt/pt-pt/MenuSecundario/Noticias/Pages/noticia-20201116-02.aspx
Pode ler (aqui) outros artigos de opinião de Mário de Sousa
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