Opinião Política | Mário de Sousa (CDS-PP)
É só no Outono que a folha cai!
silly season – ‘a época do ano, geralmente no verão, quando os jornais estão cheios de histórias que não são importantes porque não há notícias importantes, especialmente políticas.’[i]
Atravessamos o mês de Agosto numa autêntica silly season. Os portugueses embalados pelos sonhos miríficos da Bazuca de Bruxelas alimentados por António Costa, ignorando o fim das moratórias que acontecerão já em Setembro bem como o regresso de cortes nos fornecimentos de água e luz, julgando-se por isso mais ricos, avançam para férias invocando as neurastenias causadas pela pandemia e consequentes restrições.
E assim, ‘cantando e rindo’ as famílias passando a perna por cima da crise financeira em crescendo, propõem-se a gastar em média 720 euros por pessoa durante as férias e apenas em alimentação (restaurantes e catering). Faltam aqui deslocações e outras despesas de diversão.
É neste panorama de felicidade e azuis celestes que devagarinho, os preços vão aumentando e o governo em falsas afirmações de ausência de austeridade vai preparando os portugueses para a queda da folha que inevitavelmente irá acontecer neste Outono cada vez mais próximo.
O INE Instituto Nacional de Estatística revelou dados preocupantes nas subidas de preços de produtos que fazem parte do cabaz de compras dos portugueses. E não são produtos de somenos importância. De acordo com a infogravura que aqui se apresenta, combustíveis, seguros, abastecimento de águas e saneamento, recolha de lixos, produtos farmacêuticos, livros e até alguns produtos alimentares tais como óleos alimentares, frutas e carnes têm sofrido ao longo deste ano aumentos substanciais.
Tal como já referi anteriormente a procissão ainda vai no adro. Com os aumentos já verificados mais os previstos para este ano nos combustíveis, os preços continuarão a subir, pois, as cadeias de distribuição, supermercados, mercados e comércio tradicional dependem dos combustíveis para se reabastecerem. As empresas produtoras de bens dependem das transportadoras para receberem matérias-primas e depois para distribuírem o que produziram. Nenhuma das promessas do governo sobre aposta no transporte ferroviário saíram do papel. A última, sobre a encomenda de composições num valor superior a 800 milhões de euros já foi adiada. Por isso as transportadoras terão sempre de continuarem a utilizar gasóleo para abastecerem as suas viaturas e servirem os seus clientes, gerando maiores custos de contexto.
Para além dos combustíveis são particularmente preocupantes as subidas de preços dos seguros de vida, pois a maior parte dos empréstimos para a habitação têm sempre associados seguros de vida nalguns casos constituindo uma boa fatia da mensalidade a pagar ao banco. Já os aumentos nos seguros de saúde refletem o perigo de ao subirem de preço, deixarem praticamente de servirem para pouco mais do que consultas e pequenos atos médicos, pois os valores concedidos para internamento já atualmente são irrisórios.
No que aos livros diz respeito estes aumentos irão surgir na melhor das alturas para algumas editoras. Avizinha-se o regresso às aulas, altura em que as famílias já têm atualmente gastos consideráveis com os manuais escolares. Se se verificarem os aumentos ocorridos até agora a coisa não vai ser fácil ou então o Ministro da Educação terá de fazer uma lei a proibir as editoras de subirem os preços.
Preocupantes serão sem dúvida também a fruta e a carne a refletirem o aumento das rações para os animais e dos preços de distribuição (novamente os combustíveis).
[ii] Ver referência de fim de página
Se por um lado o Ministro Matos Fernandes arranjou à pressa uma lei para esconder o saque fiscal guloso sobre os combustíveis, no que respeita aos restantes bens não tem o governo qualquer hipótese de o fazer e por isso cá estamos a jogar ao gato e ao rato sendo que este gato anda sempre com o rabo de fora.
Diz o povo e é verdade: o pior cego é o que não quer ver! E acrescento… o Inverno que depois virá.
Mafra, 11 de Agosto 2021
Mário de Sousa
[i] https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles/silly-season
[ii] Fonte: Instituto Nacional de Estatística e cálculos do Expresso
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