Definitivamente Portugal não respeita os seus velhos.
Embora sempre se diga o contrário, e todos afirmem a valia do património que a idade constitui, a verdade é que a sociedade, espelhada na classe política e no Governo apenas reconhece nos ‘velhos’, ‘idosos’ ou ‘3ª. Idade’ alguma valia em termos de mão-de-obra grátis no apoio à família, não raro até solicitados a contribuírem com ajuda financeira, bem como uma fonte de votos que não se pode desperdiçar.
Fora isso, embora se bata com a mão no peito de forma veemente, as desconsiderações, o esquecimento, o alheamento e o seu confinamento forçado traduzido em solidões impostas já desde antes do estado de pandemia, mostrava e mostra que a maior parte da sociedade espelhada em sucessivos governos, considera que esta faixa etária da sociedade é um peso e um incómodo que urge resolver. E têm-se procurado resolver utilizando vários métodos todos devidamente encapsulados em formas ‘caritativas’ e muito ‘humanistas’. E isto é estranho na medida em que Portugal é um país cristão, católico e sempre muito dado a solidariedades várias.
É verdade que a sociedade portuguesa pressionada por uma crónica falta de meios, espremida pela precariedade no emprego, por impostos desmesurados, preços de serviços básicos absurdos e políticas de habitação que os condena a viverem amontoados em torres, poucas forças terão para acorrerem a sentimentalismos. E assim, logo que podem, ‘confinam’ os seus velhos deixando que se apaguem sozinhos em habitações isoladas e degradadas, abandonam-nos nos hospitais, degredam-nos em lares para idosos, na maior parte com nomes de Santos talvez à espera de um milagre, tudo isto nas barbas de governos que não apoiando, também não contrariam a proliferação de estruturas ilegais onde se armazenam esses idosos.
Vem isto a propósito de todo o foguetório e declarações de melhores intenções com que diversos ministros e o próprio 1º Ministro têm manifestado a sua preocupação com o verdadeiro desastre que se tem desenrolado nos lares e noutras instituições que prestam serviços a idosos. Tem sido algo de inacreditável. Testes que não chegam, brigadas de intervenção rápida que não saem do papel, falta de pessoal qualificado nas valências existentes, incapacidade de fiscalizar e resolver o problema dos lares ilegais, ignorando os idosos no que concerne a aumentos de pensão (no Orçamento de Estado para 2021 ficam esquecidos 2,1 milhões de pensionistas) e por fim, a promessa de vacinas contra a gripe para todos completamente gorada, numa operação de propaganda política inacreditável que começou com o anúncio da Ministra da Saúde dizendo que haveria vacinas para todos. Arrancou a vacinação em Setembro tendo-se de imediato esgotado as vacinas disponíveis. Aqui em Mafra após algumas vacinações foram desmarcados todos o atos de vacinação ainda em Setembro e até à data deste artigo, não existe qualquer indicação para se voltar a fazerem marcações.
Por fim a Direção-Geral de Saúde acaba por admitir que a vacina da gripe não vai chegar para todos. E o ano vai terminar com menos idosos e doentes crónicos vacinados contra a gripe em relação a 2019.
Mas numa atitude habitual neste Governo, esconde-se este fracasso sem qualquer explicação a não ser a falta de dinheiro para comprar as vacinas e passa-se já para o anúncio da nova vacina contra a COVID19 para todos os portugueses, agora é que é, e que já vêm aí 20.000.000 de doses. E virão mesmo porque esta vem a crédito enviada pela UE.
Mas será mesmo para todos? Pois é! Parece que não é bem assim porque a 26 de Novembro a Direção-Geral da Saúde num primeiro documento oficial de trabalho coloca os idosos num honroso último lugar nas prioridades de vacinação.
De imediato o 1º Ministro desfez-se em desculpas. Mais um erro de comunicação e que aquilo que estava escrito não fazia sentido e era apenas um documento de trabalho.
Senhor 1º Ministro esse é que é o perigo: sendo um documento de trabalho significa que um grupo de trabalho com responsabilidades na área da saúde pública, comandado por alguém nomeado por si, como primeiro pensamento entende que os velhos serão os últimos a serem vacinados, se o chegarem a ser. É isto exatamente que é necessário denunciar. Existe gente dentro da DGS com responsabilidades para definirem planos de vacinação que entendem que não se deve gastar dinheiro a vacinar velhos. É isto que é perigoso e que não tem qualquer espécie de desculpa. Isto tem um nome e o Sr. Sabe qual é!
Mais de 40 anos de Democracia e estamos todos a discutir quem merece viver e quem pode morrer por já não fazer falta.
Mafra, 2 de Dezembro de 2020
Mário de Sousa
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