Já uma vez aqui escrevi sobre os perigos dos -ismos. Cada vez mais sou da opinião de que tudo o que é generalizado, agrupado em classes, perde ou faz perder liberdade. Precisamos de etiquetas porque os comportamentos, tendências e atitudes precisam de uma designação que os identifique – é uma necessidade de comunicação e um hábito de “catalogar” -, mas com isso referimos-nos ao coletivo, à maioria dentro de um grupo, e esquecemos o “caso a caso”.
Ter a capacidade de olhar para cada indivíduo, cada ação, motivação e propósito é exaustivo, mas é o que faz de nós seres simpáticos. É o que nos permite compreender o lugar do outro.
Hoje, falamos de racismo, sexismo, fascismo, tantos outros -ismos negativos com uma banalidade e sensacionalismo que em nada contribuem para a luta contra estas realidades.
Nem sempre que um indivíduo com cor de pele diferente do outro o agride, é racismo; nem sempre que um ser se sente superior a alguém do sexo oposto é sexismo – se a cor ou o sexo, nos casos em apreço, não são a motivação.
Casos como o recém-noticiado da mulher negra que terá sido agredida por um polícia de pele mais clara são automaticamente intitulados de racismo e fazem manchetes de jornais e rodapés de noticiários na TV. Já ninguém se interessa pela circunstância, pelos motivos, intenções ou propósitos.
Interessa só o ato em si e, não tão curiosamente, o ato que pode ser fortemente vendido, que levanta a polémica. Logo se pode esperar uma enxurrada de partilhas, posts indignados e comentários de ofendidos ou de quem se sente bem a ofender.
Naturalmente não tenho o conhecimento necessário para defender nenhuma das partes envolvidas no caso em concreto, mas tenho o distanciamento necessário para perceber que não é possível uma interpretação clara e objetiva do que aconteceu pelo que os media nos contam, que cada história tem três lados e os títulos com -ismos continuam a vender demasiado.
Há um -ismo em particular que me preocupa: o extremismo. Banalizar e generalizar ao extremo, defender opiniões de extremo, esquecer a simpatia, o lugar do outro e a moderação têm conduzido, um pouco por todo o mundo e no seio da nossa comunidade europeia, à ascensão de pessoas, movimentos e partidos de extrema.
Entre os -ismos e a liberdade não reconheço uma boa convivência, mas recordo a designação que apontei em abril deste ano (porque neste país democrático, Abril é todos os dias), neste jornal: abrilismo. Defendermos a liberdade de todos e de cada um, respeitando o espaço individual, compreendendo quem está do outro lado e aceitando que, fora das maiorias e das generalizações, há realidades igualmente válidas, legítimas e fundamentais.
Pode ler (aqui) todos os artigos de Leila Alexandre
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